Os microfones à beira do gramado sempre foram um tormento para
Vanderlei Luxemburgo. Várias foram as vezes em que o técnico contou nas
entrevistas que recebia ligações das filhas e da esposa com pedidos para
que maneirasse nos palavrões. Mesmo por trás de ternos importados e
finos, Luxa jamais abandonou o estilo boleiro. O perfil explosivo e
desbocado sempre foi traço marcante do treinador em treinos e jogos e
até em coletivas. "Falo palavrão. Não estou no convento", defendia-se.
Hoje no Grêmio, pouco mais de um ano depois deixar a Gávea Vanderlei
acompanha à distância a chegada de mais um sucessor no Flamengo. Depois
de Joel Santana e Dorival Júnior, Jorginho é o treinador rubro-negro da
vez. E o tetracampeão em nada lembra os outros três. Evangélico há 26
anos, o ex-lateral-direito não fala palavrões. Até pediu aos jogadores
que xingassem uns aos outros no treino se achassem necessário, mas após
três dias como treinador rubro-negro continua com a “boca limpa”. Foi
assim também nas passagens mais recentes por Goiás, em 2010, e
Figueirense, em 2011.
- Ainda não ouvi ele falar. É diferente, nunca tinha trabalhado com um
técnico que não fala palavrão. Mas é da personalidade dele. Por
educação, é bom. Mas quem fala vai continuar falando. É do futebol, é de
praxe. Não inibe, não. Às vezes você faz uma cobrança mais ríspida
mesmo, numa jogada em que precisa ter mais atenção. É bom não falar
palavão também (risos) – comentou o lateral-esquerdo João Paulo.
Nas primeiras conversas com jogadores, membros da comissão técnica e
outros funcionários que trabalham no departamento de futebol, Jorginho
usou muito a gíria “caraca”, em substituição a um termo cabeludo. “Pô,
poxa e caramba” também fazem parte do vocabulário do comandante
rubro-negro, que adota a postura há tempos.
- Nunca vão me ver xingando. Sou firme, dou dura, mas não preciso xingar - disse Jorginho, em entrevista concedida ainda nos tempos de Figueirense, em 2011.
Para outro jogador do elenco rubro-negro, o volante Elias, a falta de
palavrões nas falas do novo treinador não chegaram a ser supreendentes.
Ele conta que já teve experiências parecidas na Europa e no Brasil.
- Trabalhei com um belga que não falava palavrão. E lá fora também
trabalhei com outros que falavam. O importante é a mensagem e não como
ela é passada. Não importa se ele não fala palavrão. O Tite (técnico do
Corinthians) não falava, mas passava a mensagem. Já trabalhei com outros
treinadores no Brasil que falavam muito e também conseguiam passar. Eu
falo quando necessário, não vejo problema. O fato de o treinador não
falar não inibe. É normal - afirmou.
Na sua terceira passagem pelo Flamengo, Luxemburgo ficou no clube de
outubro de 2010 a fevereiro de 2012. As broncas sempre foram sua marca
no comando da equipe. O treinador não se inibia diante da imprensa e com
frequência recorria aos berros e palavrões.
Demitido, Luxa deu lugar a Joel Santana. Joel também é adepto das
palavras “sujas”, mas chamava mais atenção pelo jeito fanfarrão de
conduzir, exceto nos tempos de crise, quando também perdia a compostura e
virava um “papai” zangado.
O estilo polido de Jorginho é mais parecido com o de Dorival. Da metade
de 2012 até a semana passada, poucas foram as vezes que o ex-treinador
disparou contra os jogadores na frente dos jornalistas, mas internamente
também recorria aos palavrões para cobrar o grupo.
Jorginho estreia como técnico do Flamengo neste sábado, contra o
Boavista, pela segunda rodada da Taça Rio. A partida será às 18h30m, no
Engenhão.
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