Há exatos 20 anos, em 12 de dezembro de 1992 (então com 86 anos),
morria o homem responsável por revolucionar o basquete brasileiro, dono
de dois títulos mundiais da modalidade e de duas medalhas de bronze em
Jogos Olímpicos. O homem que inventou o “arremesso da zona morta” e o
basquete jogado na base do contra-ataque. Este é Togo Renan Soares, mais
conhecido como Kanela, um paraibano de João Pessoa que nasceu em 22 de
maio de 1906, que era sobrinho do ex-governador paraibano Camilo de
Holanda e que se mudou na adolescência para o Rio de Janeiro sem saber
ainda que se tornaria num dos mais importantes personagens do esporte
brasileiro.
Para começar, Kanela não foi importante apenas no basquete. Ainda no
início da carreira, ele foi jogador e treinador de pólo aquático pelo
Botafogo e depois técnico de futebol em clubes como Bangu, Botafogo e
Flamengo. Ainda como técnico do Bangu, em 1929, foi o responsável pela
descoberta de um dos mais completos zagueiros do futebol mundial:
Domingos da Guia (que antes de ser convencido por Kanela para jogar na
zaga insistia em atuar pelo meio).
Apenas depois, já no final da década de 1940, é que começou a se
dedicar exclusivamente ao basquete. E foi aí que começou a reinventar a
forma de jogar o esporte. Foi ídolo e fez história tanto na Seleção
Brasileira como no Flamengo e fez tão sucesso que em 2007, quinze anos
depois de sua morte, veio o reconhecimento mundial definitivo, ao ser o
primeiro treinador brasileiro incluído no Hall da Fama do Basquete
Mundial.
Para o atual presidente da Confederação Brasileira de Basquete, Carlos
Nunes, Kanela é até hoje considerado “um dos maiores e mais importantes
técnicos de basquete do mundo". E a quem o Brasil tem muito o que
agradecer.
- A ele devemos os nossos principais títulos. E se até hoje somos
respeitados entre as potências do basquete, é muito por causa dele.
Lembro sempre de Kanela com muita emoção. Temos sempre que
reverenciá-lo. Até porque, se até hoje estamos em nono lugar no Ranking
da Federação Internacional de Basquete, é muito por causa daqueles dois
títulos mundiais e daquelas medalhas olímpicas que Kanela ajudou a nos
dar – declarou.
Kanela e o basquete
A história de Kanela no basquete sempre se dividiu entre a Seleção e o
Flamengo. E venceu tudo o que disputou em ambos. Comandou a seleção
brasileira bicampeã mundial em 1959 e 1963 e conquistou as medalhas de
bronze nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960; e nos Jogos Olímpicos de
Tóquio, em 1964.
Ele foi ainda o técnico brasileiro em mais dois vice-campeonatos
mundiais (1954 e 1970), em um 3º lugar mundial (1967) e ainda nas
conquistas de uma medalha de prata (1963) e de duas medalhas de bronze
(1951 e 1959) nos Jogos Pan-Americanos.
No Flamengo, conquistou 12 títulos cariocas de basquete pela equipe
rubro-negra, incluindo um espetacular e inédito decacampeonato estadual
da modalidade entre 1951 e 1960. Tanto que até hoje ele é lembrado pelos
funcionários mais antigos do clube. Roupeiros, maqueiros e funcionários
que ainda lembram dele e de seis treinamentos nas décadas de 50 e 60.
Kanela era um ídolo mesmo numa época em que a seleção brasileira era
composta por craques como Wlamir Marques, Rosa Branca, Amaury Pasos,
entre outros. Kanela era acima de tudo um estrategista, mas também era
conhecido pelo temperamento explosivo, principalmente contra os
árbitros. O livro “A Era Kanela”, por exemplo, que fala sobre sua
carreira vitoriosa no esporte, relata vários incidentes em que ele
brigou com juízes que ao seu ver estava prejudicando suas equipes.
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