O Flamengo não vive um momento delicado apenas no futebol. Longe dos
holofotes, as negociações para desocupação da sede do Morro da Viúva são
conduzidas com cautela pelo clube, que evita partir para ações de
despejo e negocia prazos para que os atuais moradores do prédio se
mudem. Uma reunião será realizada no dia 6 de julho. Os locatários
pediram um prazo maior para a desocupação, e o clube deve ceder. A
expectativa do vice de patrimônio Alexandre Wrobel é de que a Rex, do
Grupo EBX, de Eike Batista, possa iniciar os trabalhos no fim deste ano.
O Flamengo receberá cerca de R$ 270 mil mensais ou 2,63% do faturamento
bruto - o valor que for maior.
O empresário investirá R$ 100 milhões para transformar o sucateado
imóvel - em uma área privilegiada da Zona Sul do Rio - em um hotel com
instalações quatro estrelas. O edifício Hilton Santos, na Avenida Rui
Barbosa (número 170), hoje tem 148 apartamentos com 140 metros quadrados
cada. Com a reforma, passará a ter 454 quartos. O clube recebeu cerca
de R$ 2,8 milhões de adiantamento.
Atualmente, as condições do edifício são ruins, o que é facilmente
notado em uma rápida observação da fachada - a minuta do contrato entre
Rex e Flamengo menciona dois terços dos apartamentos sem condição de
serem habitados. Ainda há dívida de IPTU, em torno de R$ 16 milhões, que
deverá ser anistiada pela Prefeitura do Rio (Lei Municipal 5.230, de
25/11/2010). Os débitos referentes a 2011 seriam pagos pela Rex, com os
valores sendo descontados dos pagamentos ao clube.
- A gente vai ter essa posição (sobre o prazo para desocupação) até o
dia 6 de julho. Estamos tentando fazer uma composição em vez de impetrar
ações de despejo. Já tivemos algumas rodadas de negociação, e os
moradores pediram um prazo um pouco maior. É nesse sentido que estamos
trabalhando. A desocupação integral deve acontecer lá para o fim do ano -
explicou Wrobel, destacando que alguns apartamentos já foram liberados:
- Várias unidades já foram desocupadas, algo entre 15 e 18. Algumas
foram desocupadas, outras assinaram acordo para desocupação em breve.
Estamos tentando evitar ações de despejo, estamos fazendo da forma mais
amena possível.
Atualmente, são ruins as condições do edifício na Zona Sul do Rio (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)
De acordo com o dirigente, o Flamengo "nunca teve a ilusão" de que o
prédio estaria desocupado no início de julho, seis meses depois da
aprovação da proposta de Eike no Conselho Deliberativo do clube. Wrobel
informou que, após esse aval do órgão, foi cumprida uma "etapa
burocrática" e a assinatura do compromisso só ocorreu de fato em março.
Ainda assim, ele revelou que há um acerto entre Rex e Flamengo para uma
prorrogação do prazo previsto para desocupação. Pelo contrato, depois
dos primeiros seis meses, caberia à empresa de Eike a decisão de
estender ou não o período por até 18 meses.
- Temos um prazo longo pela frente. Isso já está previamente acordado. A
gente tem um prazo de tolerância que será cumprido. Estamos com a
desocupação do prédio em curso, mas dando prazo para os locatários
desocuparem com mais calma. Na verdade, o Flamengo nunca teve a ilusão
de imaginar que agora estaria desocupado. Ainda nem temos o projeto
aprovado, a licença de obras, então não há necessidade. E o contrato não
foi assinado em janeiro, foi aprovado. Só foi assinado lá pelo dia 15
ou 20 de março.
Wroblel deu de ombros para um entrave que poderia complicar a meta
rubro-negra. Há uma ação por usucapião movida por um dos moradores e,
até o momento, não houve acordo na Justiça. O processo na 15ª Vara Cível
(número 2009.001.2345.94-1) é movido por Geílson de Souza Cunha,
habitante de imóvel que já teria abrigado o ex-jogador do clube Fábio
Baiano.
- Tem uma ação que na minha opinião é uma aventura jurídica que já está sendo tratada - completou Wrobel.
Conheça o contrato
Está previsto na minuta do contrato (cláusula 5.3.1) de arrendamento do
imóvel por 25 anos e o pagamento - além da receita mensal de R$ 270 mil
ou 2,63% do faturamento bruto - de R$ 17,6 milhões a título de “aluguel
determinado”, espécie de luvas pelo período das obras e renovação
automática do compromisso. O Flamengo tem a receber R$ 3,1 milhões de
adiantamento de aluguel em até dois meses após a assinatura; R$ 2
milhões para obtenção das condições suspensivas (liberação do imóvel e
negociação com moradores); e R$ 12,5 milhões no prazo de dez dias a
partir da implementação de todas as condições suspensivas previstas
(obtenção de certidões, aprovação do projeto, liberação do imóvel e
outras). Se confirmada a renovação do acordo por outros 25 anos, serão
pagos mais R$ 5 milhões. Em caso de atraso da obra por mais de 180 dias
sem justificativa prevista no acordo, a Rex ainda pagará ao Flamengo o
rendimento proporcional do período.
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