Contratado para ser o craque do centenário do Flamengo, em 1995, o carioca da gema Romário perdeu num Fla-Flu a chance de dar o tão desejado título estadual à torcida. Mas os gols do atacante tetracampeão mundial serviram de inspiração para um adolescente com um coração vermelho e preto cheio de aspirações. Com 15 anos na época, Deivid Souza não tinha dinheiro para ir ao Maracanã, nem para comprar a camisa rubro-negra. Acompanhava pelo radinho de pilha ou pela telinha de TV os passos do Baixinho e do time. Guardava o pouco dinheiro para todo dia pegar em Marechal Hermes o trem Japeri rumo ao Nova Iguaçu, clube onde começou a carreira. De lá, partiu para o mundo. Trocou a pobreza pelo sucesso. De volta ao Rio 12 anos após sua saída, veste o número 99 nas costas e tem a missão de no Fla-Flu deste domingo, no Engenhão, fazer o ataque da equipe rubro-negra funcionar novamente neste Brasileiro.
Ainda sem balançar as redes desde que chegou ao Flamengo, Deivid, que completará 31 anos em outubro, tenta recuperar a forma que ostentou no Santos, Corinthians, Cruzeiro, Sporting, de Portugal, e Fenerbahçe, da Turquia - no Bordeaux, da França, não viveu boa fase. Os inúmeros gols e títulos, no entanto, passaram longe da Cidade Maravilhosa. No desejo de ser apresentado ao torcedor carioca, tem como aliada a amiga inseparável.
- Desde pequenininho, o brinquedo do Deivid sempre foi a bola. A gente dava carrinho pra ele, nem queria saber. Qualquer outro perdia também. E dizia para nossa mãe desde cedo que ia vencer e tirar todos daquele sufoco. Com muita luta, talento e a ajuda de Deus, conseguiu. Mas quando era mais novo, nem ia ao Maracanã ver o Flamengo. Acompanhava pelo rádio ou pela TV mesmo, e adorava o Romário - afirmou a irmã Cinere.
A falecida mãe, Maria de Souza, é a grande heroína de Deivid. O pai, Jorge, morreu quando ele, o caçula de uma famíla de seis irmãos, tinha apenas um mês e meio de vida. Cinere lembra dos tempos mais difíceis.
- Por muitas vezes ele precisou vender espetinho, milho, pipoca, em frente à Igreja, para poder ajudar na condução para o treino. Nem sempre dava para pegar o trem e depois o ônibus para o clube. Muitas vezes descia na estação de Nova Iguaçu e ia a pé até o campo. Quando chegava em casa, estava muito cansado e sem força para andar, de tanta fome. Pedia logo comida.
Caçula dos seis filhos de Maria de Souza, o atacante rubro-negro procurava superar as dificuldades com muita dedicação. Segundo Cinere, Deivid abriu mão do que todos adolescentes e jovens gostam: noite com os amigos, praia, passeios.
- De vez em quando ia à praia, mas na maioria das vezes acordava logo cedo para o treino. Não dava também para sair à noite. Não esqueço uma vez, quando viu minha mãe chorando. "Não fica triste, não. Um dia vou crescer". O Deivid sempre foi disciplinado, determinado.
Há dois anos, Deivid perdeu a mãe, e o fato o deixou abalado. Ainda mais porque havia quebrado a perna na Turquia e, impedido pelo médico, sequer pôde retornar para o enterro, com risco de sofrer uma trombose.
- Ele ficou muito mal. E depois da morte da nossa mãe, eu acabei fazendo um pouco o papel dela - afirmou Cinere, que foi à estreia de Deivid pelo Flamengo, contra o Santos, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro.
Quando pisar no Engenhão para disputar o primeiro Fla-Flu de sua carreira, o jogador certamente vai se lembrar dos tempos em que ficava colado na TV ou na escuta do rádio esperando a bola entrar. Agora, tem a missão de executar a tarefa.
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