Altos e baixos, idas e vindas... Assim pode ser definida a passagem de Claudio Maldonado no Flamengo. O volante chileno, de 30 anos, ainda não conseguiu se firmar na equipe em 2010. O ano, aliás, até o momento, acumula mais frustrações que vitórias. O jogador, que participou da campanha do título brasileiro de 2009, acabou machucando o joelho esquerdo no amistoso do Chile contra a Eslováquia, em 11 de novembro do ano passado.
Foram longos quatro meses para se recuperar após cirurgia no local e voltar aos gramados. Mas, depois do problema físico, precisou fortalecer o músculo da perna, perdeu a Copa do Mundo e a vaga de titular no Flamengo. Mudança drástica para quem era absoluto no time no ano passado e tinha passagem quase garantida para a África do Sul. Na última quarta-feira, contra o Grêmio Prudente, entrou no lugar de Renato Abreu e ajudou o time a vencer por 2 a 1.
Com a perna já fortalecida após longo período inativo devido à lesão no joelho e de contrato renovado até 2012, o jogador bateu um papo de cerca de 30 minutos com o GLOBOESPORTE.COM. Ele falou da frustração de não ter sido convocado para o Mundial, a sua recuperação, os problemas do Flamengo e os planos para o futuro. No planejamento, o sonho de disputar a Copa América da Argentina em 2011.
GLOBOESPORTE.COM: Aquela lesão do ano passado foi o seu maior problema desde que chegou ao Flamengo?
Maldonado: - Acho que sim. Foi uma lesão complicada, que demora para chegar aos cem por cento e adquirir a massa muscular. Mas fiz todos os testes e estou com força para jogar, não me impede de nada mais.
Como ficou a sua cabeça? Mexeu com o sua parte psicológica?
- Antigamente eu sentia mais. Mas hoje é normal. Faz parte do nosso trabalho. Quando você se machuca e fica quase um ano sem poder jogar, é complicado. Mas hoje estou tranquilo, eu me conheço bem e sei que, quando estou cem por cento, posso render muito. Tudo é questão de trabalho. Aos poucos vai chegando sua hora de entrar no time e mostrar que está em condições.
Em quanto tempo estará 100%?
- Isso depende. De repente fico três, quatro jogos no banco e não consigo entrar, até porque acontece um resultado inesperado. Se fosse diferente, talvez pudesse entrar para poder jogar. Mas novamente estou pronto para entrar e, quem sabe, no próximo jogo eu possa entrar e jogar mais minutos.
Hoje, o que falta para ser titular?
- Eu acho que falta jogar mais. Já conversei com Silas. Ele disse que contava comigo e sabia de tudo que estava acontecendo, da lesão no joelho, o trabalho que eu fiz separado do grupo na intertemporada em Itu. Ele falou que aos poucos vai me colocando nos jogos para me recondicionar. Estou trabalhando forte e continuo fazendo o trabalho de fortalecimento muscular e treinando, o que faz bem para eu para poder voltar, quem sabe, ao time principal.
Você falou de recuperar a vaga de titular. Acabou sendo um ano difícil, em que você ficou fora também da Copa do Mundo. Como foi não participar do Mundial?
- Fiquei meio chateado quando o Bielsa (técnico da seleção chilena) me ligou e disse que eu não estava nem na lista dos 31 jogadores que iriam ser convocados inicialmente. Fiquei meio que abalado, chateado mesmo. Eu me sentia bem naquele momento. Ele poderia até ter me levado para ver se eu realmente estava bem. E depois poderia escolher. Foi duro. Quando você faz tudo com trabalho para estar presente e fica fora por uma lesão que aconteceu na própria seleção, é muito difícil entender.
Já no Brasil, o Kleberson, seu companheiro de clube, se lesionou na Seleção e foi convocado pelo Dunga. Acha que o Bielsa poderia ter feito o mesmo?
- Poderia. Ele poderia ter me levado para me testar, mas achou que outros jogadores estavam em melhor situação. Mas fica uma coisa meio chata de ter acontecido lá mesmo no meu país, pela minha seleção e você ficar fora de uma Copa do Mundo o deixa mais triste.
Guarda mágoas?
- Não. Ele (Bielsa) até me explicou as razões que tinha para me deixar fora e que para ele também doía muito me deixar fora. Mas ele achou que naquele momento tinha jogadores em melhores condições.
Tem condição de disputar mais uma Copa?
- Gostaria muito. Mas agora estou trabalhando para disputar outra Copa América. Seria minha terceira Copa América. E, primeiramente, vou trabalhar para isso, para jogar novamente no Flamengo e ser convocado.
Por falar em Flamengo, o que você acha que aconteceu do ano passado para este ano para o time estar nessa situação?
- É difícil explicar. Isso acontece muito no Brasil. Às vezes o time é campeão em um ano e no outro vai mal, sem explicação para o que acontece, sendo que o grupo é o mesmo. Mas é confiança. No dia a dia vai pegando confiança novamente. Acho que esse jogo contra o Prudente foi importante para sentirmos que, quando queremos, podemos.
Mas qual motivo para tanta mudança? Foi um erro de planejamento ou uma simples falta de sorte?
- Acho que tudo. Desde que começou o ano, no Carioca e na Libertadores, poderíamos ter nos planejado melhor. Tudo faz falta. Mudança de treinador também. Ficamos meio abalados com a saída do Andrade. Depois com Rogério tentamos dar o máximo, todo mundo tentando corresponder, mas infelizmente os resultados não chegaram. Aí veio o Silas e estamos na etapa de nos conhecer. São ideias novas para implantar para o time. Tem também os jogadores que chegaram, que vão passar por um período em que não vão estar na condição ideal no momento que o Flamengo está precisando...
Mas se o Andrade era importante, o que acha que houve com ele?
- Na verdade não entendemos muito. Somente no dia em que ele foi demitido a presidente Patrícia Amorim falou que ele não era mais treinador, até pelos resultados. Mas em nenhum momento entendemos o motivo da saída dele. E com certeza o grupo sentiu, porque era um cara que lutávamos com ele, corríamos para ele. Um cara que sempre passou muita confiança e humildade, sempre transparente. Por isso não entendemos, até porque ainda estávamos na Libertadores.
Isso atrapalhou o time?
- Em certo ponto atrapalhou. O time ficou abalado naquele momento.
Na época em que ele saiu, e logo após sua demissão, aconteceram muitos problemas extracampo, como nos casos de Adriano, Vagner Love e Bruno. Ele era um treinador que conversava muito com vocês, dava conselhos. Acha que a sua saída ajudou a agravar ainda mais os problemas?
- Pode ser. Acho que aconteceram muitas coisas. O problema do Bruno, do Adriano, do Vagner. Foi tudo em um curto espaço de tempo, e não conseguimos assimilar muito bem. Mas fomos em frente. Somos muito profissionais. Sabemos que temos um grupo muito forte, com a base do ano passado, que a qualquer momento pode reagir.
Ele administraria melhor que o Rogério Lourenço (ex-treinador) esses problemas?
- Não sei se melhor. É difícil falar, porque o Andrade passava muita tranquilidade, não era um cara de estourar, chegar e xingar alguém. Era um cara tranquilo, de levar mais na conversa. Mas acho que era mais a atitude dele que deixava os jogadores mais à vontade. Você chegava para ele, conversava e ele o entendia. Foi uma coisa muito legal, criamos uma amizade muito boa.
E esses problemas fora de campo. A situação do time hoje é reflexo de tudo aquilo que aconteceu?
- Acho que não. Hoje o time está melhor. Infelizmente estamos tentando, mas quando pega uma fase ruim que a bola não entra, é complicado. Temos que continuar trabalhando que uma hora vai sair. Quando o time começar a ganhar e mostrar a força, vai melhorar muito.
E já está melhorando? A maneira como aconteceu aquele vitória contra o Prudente, nos últimos minutos, deu uma injeção de ânimo para o time arrancar e brigar lá na frente?
- Acho que sim. Se o nosso time mostrar novamente a atitude do segundo tempo, que vai para cima tentando uma vez atrás da outra, com certeza temos uma chance boa de arrancar. O que não pode acontecer é como no primeiro tempo, quando você não sabe se o time vai ou fica naquele zero a zero e não acontece nada. Acho que nossa concentração vale muito mais. Nosso time ano passado era mais concentrado. E uma hora saia um gol, uma jogada. Acho que temos que voltar a jogar como no ano passado, com concentração máxima para não levar gol.
Dá para conseguir uma arrancada como no ano passado?
- Acho que sim. Dá para chegar pelo menos no G-4. E é isso que queremos. Nós nos afastamos muito dos primeiros colocados, mas brigar pelo G-4 temos condições.
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