Imagens de câmera de segurança registram momento da queda (Imagem: GloboEsporte.com)
No dia 18 de fevereiro de 2016 uma peça de 1,76 tonelada e 31 metros quadrados desabou no quinto andar da Arena Corinthians. Um parecer técnico elaborado pela Odebrecht, empreiteira que ergueu o estádio, concluiu que "os painéis [...] estão com fator de segurança inferior ao recomendado".
doc acidente teto arena 5 (Foto: Reprodução)
O GloboEsporte.com obteve documentos e imagens relativos ao acidente no estádio, que é alvo de uma disputa entre o Corinthians e a Odebrecht.
A peça que caiu ficou pronta em 30 de setembro de 2015 e desabou 141 dias depois. Nesse período o Corinthians mandou oito partidas no estádio – incluindo dois clássicos contra o São Paulo – nas quais somou um público de 309.485 torcedores, média de quase 39 mil por jogo.
A queda ocorreu numa quinta-feira, por volta das 10h40, num momento em que poucas pessoas circulavam pela Arena. A estrutura que caiu tem o peso de dois carros de pequeno porte.
Além da estrutura que caiu (em vermelho), havia outras cinco iguais no quinto andar da Arena (Foto: Reprodução)
O parecer técnico de 38 páginas obtido pelo GloboEsporte.com tem data de 22 de fevereiro, portanto quatro dias depois do acidente, e sugere que naqueles locais deveriam "ser executados reforços estruturais".
A recomendação era para que fossem instalados "tirantes adicionais" – as peças que prendem a estrutura ao teto. Segundo a Odebrecht, os reforços foram feitos e não há risco de que um acidente deste tipo aconteça novamente.
– Não tem [risco]. Fizemos as verificações. O laudo é conclusivo nisso, mas precisa ter uma rotina de manutenção, que é responsabilidade do clube – disse Corrégio ao GloboEsporte. com. O Corinthians voltou a jogar na Arena em 27 de fevereiro, nove dias após a queda.
Na entrevista, o engenheiro disse não ter certeza da causa do acidente. Numa apresentação ao Conselho Deliberativo do Corinthians, em março de 2016, Corrégio afirmou que a causa foi "sobrepeso nos tirantes de sustentação".
Segundo o parecer técnico da Odebrecht, os tirantes estavam instalados a uma distância de 1 metro um do outro. Depois da queda, foram instalados 36 tirantes adicionais, com uma distância máxima de 60 centímetros entre um e outro.
Laudo da Odebrecht mostra que "valor mínimo de segurança não foi atingido" no quinto andar do estádio (Foto: Reprodução)
A própria Odebrecht definiu que, para ser considerada segura, uma estrutura tinha que aguentar o dobro do peso para a qual fora originalmente projetada. Diz a página 17 do relatório:
– Um fator de segurança menor do que 1 significa ruptura ou ruína. Um fator de segurança maior do que 2 significa que, ainda que a carga seja o dobro, a estrutura irá aguentar. Adotaremos portanto um fator de segurança igual a 2 como o mínimo admissível para segurança dessas estruturas.
Nos painéis do quinto andar, o fator de segurança medido foi 1,12 – ou seja, abaixo do que a própria Odebrecht classificou como "mínimo admissível".
Disputa com fornecedor
Dias depois da queda, a Odebrecht tentou responsabilizar a Deliart, empresa que forneceu o painel de madeira que estava na estrutura. A construtora enviou uma notificação extra-judicial para a Deliart, que respondeu com uma contra-notificação.
O engenheiro Ricardo Corrégio, da Odebrecht, disse que era responsabilidade da Deliart "verificar se o sistema de suportação era suficiente" e eventualmente "propor ajustes".
Em e-mail enviado ao GloboEsporte.com, a Deliart apresentou uma versão diferente:
– Fomos contratados para fornecer o painel [de madeira] e fixar na estrutura disponibilizada pela CNO [Construtora Norberto Odebrecht]. A responsabilidade pela capacidade de suporte da estrutura é da CNO. As peças foram fixadas com autorização da CNO.
Corrégio, da Odebrecht, disse que nenhum teste de peso foi feito antes da queda da estrutura. E afirmou que nenhuma outra empresa além da Deliart foi notificada.
– Os materiais têm certificado de qualidade. Quando o fornecedor entrega o material na obra, você tem todos os certificados, que atesta que aquele elemento resiste. A praxe não é fazer [testes]. Você tem que atender norma, não se usa material que não atende norma.
Depois da queda do teto no quinto andar, a Arena Corinthians sofreu com outros acidentes, como o desprendimento de uma placa na porta de um elevador, além de vazamentos e infiltrações. O Corinthians foi procurado, mas não comentou o assunto.
Local do Acidente na Arena Corinthians (Foto: GloboEsporte.com)
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