A
ausência de cabelos brancos esconde a idade, assim como a
boa forma física, atípica para grande parte dos ex-jogadores de futebol.
Da
época em que atuava no meio-campo, pouca coisa se alterou plasticamente:
o riso
fácil e as declarações apimentadas permanecem. A principal mudança está
na
cabeça e veio a reboque da maturidade. Ex-Botafogo, Flamengo,
Fluminense, Vasco e seleção brasileira, Beto completou 40 anos de idade
no
último dia 7 de janeiro e abriu as portas da sua casa ao
GloboEsporte.com para, numa entrevista descontraída, passar a carreira a
limpo.
Da época em que vendia picolé e trabalhava como empacotador
de supermercado em Cuiabá (MT), onde nasceu, ficaram as lições de uma fase
árdua. Trocado por 50 pares de chuteiras – pagos pelo próprio atleta –, Beto
chegou ao Rio de Janeiro e deslanchou ao ser campeão brasileiro pelo Botafogo
em 1995. Estourou no Flamengo, clube com o qual se identificou por ser torcedor
desde pequeno; vestiu a camisa de Fluminense, Vasco, Grêmio e São Paulo; utilizou
a 10 de Maradona no Napoli; e também atuou no Japão. Com a Seleção,
faturou a Copa América. Foi uma carreira vitoriosa face às dificuldades.
Apesar das turbulências enfrentadas pessoal e
profissionalmente, Beto teve cabeça para, hoje, ser dono do próprio nariz.
Vive numa cobertura no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, com a esposa,
Marcela, e os filhos Pedro Henrique e Heloísa. Em casa, camisas enquadradas e
fotos em que aparece nos gramados remetem aos tempos de boleiro. Em vez de
arrumar o meio-campo, agora o ex-jogador ajuda a administrar o buffet da mulher, mas espera
virar empresário no futebol e sonha ver o filho – a quem ensina e aconselha – a seguir sua
trajetória. Ser treinador, porém, não está nos planos de Beto.
– É dor de cabeça voltar à rotina de novo. Viagem,
concentração (risos)... É melhor me deixar fora de campo mesmo. O jogador vai
falar: "Você também fazia, não posso fazer (risos)?" Não dá para mim, não
(risos) – diverte-se.
Confira a entrevista completa:
Você passou por momentos complicados no Mato Grosso. Como lidou
com eles?
Foi difícil, sofrido. Meus pais me ajudavam
muito, e trabalhei bastante. Com 10 anos eu vendia picolé
num sol de 40 graus na cabeça, fui empacotador no supermercado que
meu pai trabalhava, limpei peixe de madrugada na feira do porto de
Cuiabá,
carpei quintal, fiz de tudo um pouco. Tinha o sonho de jogar futebol.
Falo até hoje que sou realizado, porque todas as metas
que tracei eu alcancei com êxito. Quando vim para Nilópolis, onde a
família do meu pai morava, no Rio, fui ver um Fla-Flu em um Maracanã
abarrotado. E pensei: "Imagina eu jogando aqui?" No ano seguinte eu
estava fazendo preliminar.
Você se mudou para o Rio de Janeiro pouco tempo depois e vivenciou a euforia de uma cidade grande. Por que
começou a andar armado?
Foi aquela empolgação. Pelas companhias, você é induzido aos erros
da vida. Mas tive cabeça boa para ver que aquele não era meu caminho, não
era para mim. Quem tem de andar armado é policial, como sempre falo. Às vezes
até por precaução, negócio de torcida, coisa assim, confusão, mas nos
conscientizamos de que não é para nós. Trabalhar é focar no futebol, ter amizades
boas, e pensei muito. Vejo os erros do passado e falo: "Era maluquice". Hoje penso
diferente, tenho família, filhos. Trazendo uma imagem
ruim, criamos a criança num ambiente ruim. No Mato Grosso foi onde
experimentei drogas e vi que não era aquilo. Parei. Andar armado foi na época de profissional,
no Botafogo, no Flamengo. Tinha amigo policial, que andava comigo. Eu achava o máximo
e queria fazer o mesmo. Hoje é tranquilidade.
Houve deslumbramento pela fama?
Falo por mim, porque cheguei em 93. No ano seguinte o Brasil foi tetra e
eu ainda estava na base
do Botafogo. Fui chamado para completar o treino e fiquei. Em 95 estava
na Seleção
principal. Não enfrentava fila nos lugares onde chegava. Arrumavam mesa
no melhor local, era tratado de outra maneira. Quem veio lá de baixo e
não
tinha nada, quando chega a um lugar cheio e é tratado como rei, com mesa
cativa e entrada
pelo outro lado para não pegar fila, se deslumbra, sim. Tem que ter
cabeça. O Rio de Janeiro acaba
com qualquer jogador novo. Se não tiver cabeça, vai se afundar, porque
não está
acostumado a assédio. Para chegar ao topo é rápido,
e para cair, mais rápido ainda.
Você conquistou vários títulos, ficou famoso e jogou por
grandes clubes, além da Seleção. Ainda se surpreende por ter sido
trocado por 50 pares
de chuteiras?
Isso virou uma história que até hoje me perguntam: "Beto, esse
lance é verdade?" E o detalhe é que quem pagou (pelas chuteiras) fui eu, não foi nem o Botafogo. Paguei
com meus primeiros salários. Parcelei o pagamento em dez vezes e fui pagando com muita
felicidade, mas não doei para o clube (Dom Bosco, do Mato Grosso), que não me dava um real. Dei
para o Jamil, que trabalha lá até hoje, carregando bola, chuteira, ajudando os
garotos. É um cara que não teve reconhecimento de quase ninguém. Foi através
das chuteiras que vim ao mundo do futebol. Hoje vemos um jogador de 15 anos
ganhando 40 mil reais. Surreal. Quando chega com 20 acha que está bem. É um
absurdo. Quando fui convocado para a seleção brasileira em 95, meu salário era de R$ 1.500.
Era destaque no meu clube, mas fui para a Seleção ganhando isso. Imagina se fosse a época agora, nossa senhora! (risos)
Ex-meio-campista, que brilhou no Rio de Janeiro, passou também por Napoli e Seleção Brasileira (Foto: Arquivo Pessoal)
Falando em pagamento, o que fez quando recebeu seu primeiro salário?
Fomos jogar a despedida do Ronaldo: Botafogo e Cruzeiro, no
Mineirão. Cada jogador ganhou R$ 600. Eu era louco por tênis,
e na época a Mizuno tinha lançado um muito bonito. Falei: "Vou comprar". Fui
no shopping e comprei por 400 e poucos reais. Os caras falaram: "Você é maluco!".
Eu ficava contando o dinheiro o tempo todo. Era muito dinheiro na mão. Ganhava
300 e naquele dia ganhei 600 num só dia. Era dinheiro para caramba. Quando
cheguei na concentração os caras ficaram malucos. Eu realizei um sonho. Marcou
bastante. Os caras me zoaram, mas senti o prazer de comprar uma coisa com meu
esforço, meu dinheiro. Logo em seguida, fui para a Seleção, ganhei um patrocínio
da Nike e pensei: "E agora? (risos)." Eu podia ter esperado mais um pouquinho para ficar todo
de Nike (risos).
Que momento acredita ter sido o melhor da sua carreira?
No
Botafogo minha trajetória foi muito boa. Na Seleção principal também...
No Napoli, usei a camisa 10 do Maradona, o maior ídolo da história do
clube. E fui bem lá. No Flamengo
teve o tricampeonato e a Copa dos Campeões. Fui o capitão do time,
estava muito bem, ali
deslanchei. Em 99, achei que seria convocado para a Copa América e não
fui. Nunca
esqueço. Mas numa quarta à noite, estava num hotel no Espírito Santo
assistindo ao Jornal Nacional e vi
o pessoal treinando. Pensei: "Sacanagem, era para eu estar lá, mas o
cara não me levou." E vi no canto o Leonardo conversando com o
Luxemburgo e com a comissão toda. No
dia seguinte, me chamaram. Recebi a ligação e nem acreditei. O Leonardo
pediu
dispensa, e o Luxa mandou me chamar. Foi um presente e fomos campeões.
Você
falou algumas vezes na seleção brasileira, e inclusive a camisa está
num quadro no alto da parede desta sala. O que representou a amarelinha?
Foi o ápice de tudo. Quando você chega lá é igual
trocar de cargo: está na empresa desde o início e quer ser gerente, chegar no
topo. Todos têm o sonho de jogar na Seleção. Fui campeão, fiz gol. O Brasil
tinha sido tetra em 94, e eu praticamente estava com eles em 95, vestindo o mesmo
material. Dunga, Jorginho, Taffarel, Aldair, Roberto Carlos, Ronaldo... Passa
um filme na cabeça, você não imagina que está ali com eles. Para acordar desse sonho disso é difícil. Fui um
privilegiado.
Teve algum gol mais expressivo nesses anos de carreira?
Um
que marcou bastante foi contra a Argentina, na final do Pré-olímpico.
Estávamos perdendo por 2 a 0 e fiz o primeiro gol, de esquerda. O jogo
acabou 2 a 2 e fomos campeões lá dentro .
Esse gol marcou não só a mim, mas muita gente, que fala comigo: "Aquele gol
contra a Argentina, hein? Que chutão!" E eu não chutava a gol (risos). O Zagallo
que martelou isso na minha cabeça. Quando o treino acabava, eu tinha a mania de ir logo
tomar banho, e o Zagallo falava: "Pode voltar". Ficávamos o Danrlei, que era o
goleiro, e eu treinando finalização. Fui pegando e, desses treinamento, comecei a
fazer gol de fora da área. Passei a ver que, quando você trabalha um pouco
mais, consegue êxito.
Há 15 anos você fez embaixadinhas na final do Carioca, contra o Vasco. Ainda é parado pelos torcedores para falar deste lance?
(Risos)
A galera ainda fala bastante disso. Falei para os
meus companheiros que faria uma surpresa, mas teríamos de ganhar. No
fim, falei para o juiz: "Professor, quando estiver para acabar, o senhor
me
avisa". Aí ele respondeu: "Beto, não vai me ferrar, não, né?" Quando
estava para
acabar, ele mesmo veio até mim e falou: "Falta tanto, vou encerrar". Aí a
bola
estava com nosso time, a torcida pedindo, fui lá na lateral, levantei a
bola e saí
fazendo (a embaixadinha). O Maracanã desabou (risos).
Você sempre admitiu ser torcedor do Flamengo. O que acha dos atletas que dizem não ter time?
Não
aceito. Desde que comecei no Botafogo, falava que era
flamenguista. Hoje, se não fosse flamenguista, seria botafoguense. Foi o
clube que me projetou, tenho gratidão. A minha família toda torce
para o Flamengo, e tive a sorte de ganhar títulos lá. No Vasco falaram
que não
iam bater palma... No segundo jogo já estavam me aplaudindo, porque
dentro de
campo eu dava o sangue pelo que estava vestindo. É o meu trabalho, o
clube está me pagando. Eu acho que os jogadores deveriam revelar o time
para o qual torcem,
porque você agrada a torcida jogando, dando o máximo. Não
adianta querer conquistar por entrevista se não corresponder em campo.
Após tantos anos no mundo do futebol, você fez amigos no esporte?
Sou
um cara que não vivo em casa de jogador de futebol,
porque não gosto. Vivo em um outro mundo. Jogador de futebol é muito
vaidoso.
Vaidade de bens que não leva a nada. Agora, quando encontro o Fernando,
jogamos pelada, tem o Carlos Alberto, o Andrezinho, um amigo do caramba
que está na
Coreia. São coisas que guardo. Adriano, Julio César... Não vivo muito
com
eles, mas sempre que nos encontramos é uma amizade boa, porque vencemos
juntos.
Mas não gosto de ficar na casa de um e de outro. Gosto de ficar no meu
mundo,
com minha família e amigos fora do futebol, onde não tem vaidade. Eu
vivo assim.
O apelido de "Beto Cachaça" o acompanhou durante algum tempo. Como isso surgiu?
Veio
da rivalidade entre Vasco e Flamengo, justamente no
tricampeonato. Picharam que o sérvio (Petkovic) tinha que morrer, que o
Edilson era cheirador, o Zagallo era
gagá e botaram meu nome por gostar de sair, gostar de pagode, essas
paradas
todas. O meu negócio é dentro campo, fora faço o que quiser,
como sempre disse. Gosto de tomar cerveja, de fazer churrasco com os
amigos. O mais
importante é o trabalho. O extracampo não pode interferir. Quem não
gosta de tomar uma cerveja, de um churrasco? Está querendo time de
santo? Está
querendo quem não saia? Pega o time do presídio, leva para
o jogo e devolve para lá (risos). Não tem jeito. Sou tranquilo com
isso, era mais da rivalidade do jogo, por eu ser flamenguista. Eu podia
não
jogar nenhum jogo, mas contra o Vasco queria jogar. Isso matava os
vascaínos de
raiva, porque dentro de campo, contra o Vasco, eu dobrava. Eles ficavam
p... Mas quando fui para lá, eles tiveram carinho enorme, me apoiaram.
São coisas que
você fala: "Lá atrás xingavam e agora estão batendo palmas para mim". A
imagem
muda. O futebol é engraçado.
A bebida atrapalhou em algum momento?
Eu
sempre me policiei. Se visse que estava chegando 3h ou 4h para treinar
às 9h, cansado, percebia que tinha de segurar, pois estava me
prejudicando. Então, recuava. Não me prejudicou porque me segurei.
Você falou da vontade de enfrentar o vasco, em especial. Por quê?
Além
da rivalidade, que é
tremenda, acho que tem o fato de ser flamenguista. Vinha a parte do
jogador e do torcedor. Não queria perder de jeito nenhum. Tinha amigos
vascaínos que iriam me zoar, sabia que eu iria ouvir (se perdesse).
Tanto que, quando perdemos por 5
a 1, na Páscoa, muita gente ficou em cima. O Eurico deu chocolates, os
caras
falando de presente de Páscoa... Eu ficava chateado, não queria sair.
Falava: "Se zoar, vai dar 'caô'" (risos). Joguei a final do tri com
infiltração.
Aos 30 minutos, o Zagallo queria que eu saísse, mas gritei: "Ainda dá".
Hoje não tem mais
isso. Sou flamenguista, mas torci muito pela volta do Eurico. Sempre
falei:
"Quando vocês perderem esse cara, o vasco não vai ser a força que é."
"Ah, mas o
cara rouba", respondiam... Se o cara rouba ou deixa de roubar, ele faz
pelo clube. Ele saiu,
e o Vasco caiu duas vezes. Com ele, nunca (o Vasco foi rebaixado pela
primeira vez no ano em que Eurico Miranda deixou a presidência e Roberto
Dinamite assumiu, em 2008). Quando atrasava, ele ia lá
conversar, tranquilizar os jogadores... Era uma voz só.
O que faltou na tua carreira?
Faltou disputar uma Copa do Mundo. Fui para a Copa América. Não disputei Olimpíadas
porque me machuquei. Mas queria ter jogado uma Copa. Atuei pela Seleção,
Flamengo, Europa e, infelizmente, não disputei um Mundial. Ficou um vazio por isso.
A fase é de pré-temporada. Como vê a movimentação dos clubes
do Rio de Janeiro?
O Botafogo está triste. Na nossa época já era assim, mas tínhamos um
grupo
focado em 95, apesar do salários atrasados. Se o clube não se
reestruturar, não vai sair disso. A Série B vai ser difícil
a Série B. Vimos o vasco quase não subir. Então tem que ter um trabalho
diferenciado. O Flamengo está começando o ano bem, trazendo peças
importantes... O Luxemburgo está querendo formar um time com a cara dele
da
época dos títulos importantes. Ele quer voltar a essa imagem de novo, é
um puta
treinador. Está trazendo peças que farão uma equipe forte. Como
torcedor, estou otimista. Eles deveriam esquecer o Carioca para encaixar
o time certo em busca
de títulos importantes.
Sem a Unimed, vai ser difícil para o Fluminense, pois 60% são
jogadores do patrocinador. As contratações foram mais modestas. O Conca e o
Fred não sabem se ficam ou se saem... O presidente acha que consegue sem a Unimed, mas quem é
tricolor vai ter de esperar para ver o que será feito (risos). E torço para que seja um ano bom para o Vasco. Eurico falou
que tem seis pontos garantidos no Brasileiro (risos). Ele é demais! O clube está
se reestruturando para poder contratar. O rombo é grande. Por enquanto está em
ritmo de pré-temporada (risos). Não adianta trazer bons jogadores sem ter um grupo
forte.
Você parou há menos de dez anos, mas o futebol mudou
bastante neste período. O que vê de diferente em relação à sua época?
Hoje os jogadores são "boyzinhos", não batem de frente com
juiz, com o próprio companheiro. Erram e aplaudem. Não têm coragem de xingar,
de dar um esporro. Antigamente discutíamos, queríamos sair na porrada em campo
para ganhar. Hoje não tem isso. Os jogadores são mimadinhos, usam fone no
ouvido, gelzinho... Mudou bastante. Nós nos rebelávamos, batíamos de frente por
bem, para ganhar. Hoje não tem isso. Fico chateado porque passam a mão na
cabeça. Acabou a vontade de estar no campo, de querer ganhar. Tem que se cobrar
mais dentro de campo. Era bom. Falávamos que íamos deitar e rolar, e o outro time
respondia. Aquela rixa sadia, que vai para o campo, mas no fim do jogo todos se
abraçam. Acabou esse negócio. Promovíamos o jogo, acabou a rivalidade. Ficamos
tristes porque era bom, zoava durante a semana, falava que o time era fraco,
perguntava: "Quem é fulano? Nunca ouvi falar nele."
O que tem feito durante o período longe do futebol profissional?
Tenho
viajado pelo Brasil com o pessoal do master do Flamengo. Tem um grupo
de jogadores de Cuiabá para botar
para treinar, converso com eles quando estou lá, mas sei que é difícil. E
dia a dia é com a família. Minha esposa tem um buffet e também uma
distribuidora. Ajudo a administrar o buffet, colocar nos lugares,
fizemos uma parceria com uma casa de festas. É uma coisa boa. Ela faz
tudo,
orçamento, manda propostas por email, o que oferece, o que não oferece. É
torcer para que tudo dê certo. Ela é muito dedicada, companheira. Isso é
bom. Às vezes você
começa a ganhar muito e esquece a família. Eu gostava de sair, saía
porque era solteiro. Hoje em dia sou bem casado, casado há dez anos com a
Marcela. Temos nossas brigas
de casal, mas estamos juntos, somos felizes. Ela fala: "Se você fosse
jogar bola
com seus amigos e voltasse logo, tudo bem. Mas você estende" (risos). A
hora boa é
depois, com churrasco, cerveja, baralhinho com os amigos, conversa. Aí
acabo esquecendo da hora (risos).
Você está pensando em ser empresário, então? Ser treinador
também é uma opção?
Eu penso em ser empresário, até estive esses dias com o
Cláudio Guadagno, o Macarrão. Eles me perguntaram o que eu estava fazendo e tal.
Hoje estou com a cabeça mais para esse lado. Treinador, não. É dor de cabeça,
voltar à rotina de novo, viagem, concentração (risos)... Me deixa fora de campo
mesmo. O jogador vai falar: "Você também fazia, não posso fazer?" (risos). Não dá
para mim, não (risos).
Já caiu a ficha de que, agora, você é um quarentão?
Rapaz, até agora eu penso, 40 anos... Que isso! Uns não acreditam, dizem
que sou gato (risos), mas quem me conhece, sabe que não. Fico feliz por estar com a
saúde boa, de bem com a vida, podendo jogar bola, fazer as minhas coisas. A
comemoração foi legal, fizemos um jantar na churrascaria, rimos, brincamos... É
bom poder proporcionar isso a quem você gosta. Não tem preço que pague. É
fruto do que fiz.
O que mudou no Beto com a maturidade?
Enxergo as coisas diferentes, gastos desnecessários, coisas que bota na
balança. Começo a me policiar melhor. Chego aos 40 sem crise (risos), com
filhos, esposa, meu pai, que é vivo, irmãos. São coisas que paro e penso: "Olha
o que tenho, olha onde cheguei." Se tivesse feito tudo errado, nem estaria aqui.
Isso pesa. Conquistei praticamente tudo o que queria e sinto-me realizado.
E qual é o
seu maior sonho?
Espero que se concretize: é ver meu filho
deslanchar no futebol (o filho dele está na base do Flamengo). E com
certeza estarei firme e forte para ver, pois ele
tem qualidade para isso. Não quero falar como pai, e sim pelo que as
pessoas
falam para mim. Dou esporro, explico, mostro, porque são poucos os
filhos de
ex-jogadores que têm êxito. Eu mostro vários exemplos a ele, falo do que
passei. Hoje
ele tem as melhores chuteiras, mora bem, come bem, coisas que não tive.
Eu jogava no asfalto, tirando rodela do dedão (risos). Os
dirigentes da base falaram que ele é muito bom e tem uma conduta
excelente. Aquilo me encheu de felicidade. Eu falo a ele: "Quero ver o
teu pai tirar onda com o seu dinheiro, e não
o contrário." Conversamos bastante, e ele tem a cabeça boa.