A fala era sempre mansa. Seja nas resenhas do
La Mamma, restaurante ali perto da sede do Flamengo na Gávea, onde
gostava de se reunir com os amigos para tomar chope e contar bobagem...
Seja na Boca Maldita, cantinho no próprio clube onde notáveis se reuniam
para discutir passado, presente e futuro. Seja dentro de campo, onde,
com seu estilo refinado e clássico de jogar, recebeu o carinhoso apelido
de Violino e fez história com a camisa rubro-negra, ao ganhar um Rio-São
Paulo (1961) e dois Cariocas (1963-1965). Seja no banco de reservas,
onde depois comandou por várias vezes a equipe rubro-negra como
treinador, conquistando títulos importantes, como dois Campeonatos
Brasileiros (1987-1992), três Cariocas (1991-1999-2000) e uma
Mercosul (1999). Luís Carlos Nunes da Silva até se reservava o direito
de às vezes ter mau humor. Nada que atrapalhasse sua imagem de
boa-praça. E de um dos maiores ídolos da história do Flamengo, que chora
a sua morte, aos 77 anos, nesta segunda-feira. O velório acontecerá nesta terça-feira, entre 10h e 14h, na Gávea.
Carlinhos Violino na Gávea em 2013 (Foto: GloboEsporte.com)
Bastaria dizer que Carlinhos recebeu, quando
garoto ainda no clube e iniciando sua carreira profissional, as
chuteiras do grande Biguá, um dos maiores laterais-direitos do
Flamengo, tricampeão carioca em 1953-54-55 e um dos deuses da raça, que
encerrava sua trajetória. Bastaria dizer também que o Violino deu suas
chuteiras na despedida dos gramados em 1970 a um menino franzino,
lourinho, promessa dos juvenis que se tornaria o maior jogador da
história rubro-negra. Sim, Zico recebeu dele a linda homenagem. Mas não
ficou só nisso a sua passagem. Carlinhos foi um dos que mais vestiram a
camisa vermelha e preta (517 partidas) e mais a honraram. Formou um
inesquecível meio-campo com Nelsinho e Gérson. Na decisão carioca de
1963, diante do Fluminense e do maior público do Maracanã em jogos entre
clubes (177.020 pessoas. Oficialmente, o total de torcedores chegou a 194.603.), comandou a equipe com
sua habilidade e liderança em campo no empate que deu o título.
Pela Seleção, Carlinhos só jogou uma partida.
Azar da Seleção. Foi em 1964, num amistoso contra Portugal. E o Violino
por pouco não foi bicampeão mundial. Dois anos antes, nos preparativos
para a Copa de 1962, o então treinador canarinho, Aymoré Moreira,
convocou 41 jogadores para a primeira preparação. Desses, apenas 22
foram ao Chile. Para equilibrar os convocados de Rio e São Paulo, a
comissão técnica preferiu levar, como reserva de Zito, Zequinha, do
Palmeiras, em vez de Carlinhos.
Há alguns anos Carlinhos sofria com problemas de saúde. A elevação da taxa
de ácido úrico causou problemas de cicatrização, obrigou a amputação de
um dedo do pé, gerou complicações no sistema circulatório, perda de
memória e, além disso, complicações na carótida e a necessidade de
colocar pontes de safena. O chope, hábito quase diário do ex-atleta, teve de ser suspenso.
Como
jogador, foi um meio-campista clássico, elegante, daí o apelido de
"Violino". Defendeu o Flamengo de 1958 a 1969. Como treinador, não
perdeu a elegância. Raramente subia a voz para falar com os jogadores
durante suas sete passagens pela Gávea.
Tantas
conquistas o fizeram ser homenageado na Gávea, local que frequentava
quase diariamente mesmo quando não estava a serviço. Um busto com a
imagem de Carlinhos foi construído, em 2011, ao lado de onde se reunia
com amigos para jogar carteado. O local ganhou o nome de "Praça
Carlinhos".
Carlinhos ao lado do busto na Gávea em 2011 (Foto: Divulgação/ Flamengo.com.br)
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