quinta-feira, 30 de abril de 2015

Com técnica, união e títulos, "Geração 2000" enche o Flamengo de esperança

Abraços para cá, sorrisos para lá. O clima da garotada é de total descontração. Mas basta o técnico iniciar o treino para as brincadeiras darem lugar à atenção e ao comprometimento dentro de campo. Não é à toa. É ali que todos esses meninos alimentam a cada dia o sonho de se tornarem atletas profissionais de futebol. Alimentam também a esperança do Flamengo de poder contar, nos próximos anos, com um grupo que tem sido extremamente vencedor na base. Colecionadora de títulos, a chamada "Geração 2000" rubro-negra tem vários atletas constantemente convocados para a seleção brasileira da categoria. Ela tem obtido tanto destaque que vem sendo comparada à última grande safra da Gávea, de 25 anos atrás. Do time campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1990 saíram nomes como Marcelinho Carioca, Djalminha, Paulo Nunes, Júnior Baiano, Nélio e Fabinho. E da atual equipe sub-15 podem sair Athirson, Patrick, Marx Lenin, Yuri, Vinícius, entre outros.

Equipe Sub-15 do Flamengo Geração 2000 (Foto: André Durão/GloboEsporte.com) 
Geração 2000 em clima descontraído após treino no Ninho do Urubu (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)

Se vão vingar ou não, são outros quinhentos. O fato é que o Flamengo tem tratado com carinho essa geração de garotos nascidos no ano 2000. Segundo o treinador Dudu Patetuci, que também os comandou no sub-14 e subiu para o sub-15 junto deles, técnica e espírito coletivo são os diferenciais do grupo.

- Essa é uma geração que tem um potencial técnico muito grande, de domínio do fundamento. O domínio da técnica é determinante na prática do futebol. E tem potencial de conjunto, pois eles vêm jogando juntos desde a categoria mirim (12 anos). Existe uma amizade muito grande entre eles. Acredito que terão um futuro no Flamengo - disse.

Patetuci, por sinal, foi jogador da base rubro-negra no passado e fez parte da última e já citada grande geração revelada pelo clube. Para ele, as semelhanças entre aquele elenco e o sub-15 atual são muitas. Por isso, acredita num futuro brilhante para seus meninos.

- Aquele grupo tinha muita amizade, muita técnica, foi campeão em todas as categorias e conseguiu projetar ao profissional uma quantidade muito grande de jogadores. Era muito talento junto: Marcelinho Carioca, Djalminha, Paulo Nunes... Todos foram profissionais com projeção a nível nacional e até internacional. Vejo potencial de acontecer algo bem similar com esses garotos do sub-15 - afirmou o treinador, que não ficará surpreso se até oito jogadores chegarem ao profissional, número bem maior do que o normal.

A "Geração 2000" se acostumou a vencer, mas precisou lidar com alguns baques em 2015. Após ser campeão invicto dos três campeonatos que disputou em 2014 e da Copa Votorantim no início deste ano, o Rubro-Negro sofreu a primeira derrota desde 2011 diante do Nova Iguaçu pelo Carioca, o que foi amenizado pelas duas vitórias seguintes no torneio, onde o time segue muito vivo. A maior decepção ocorreu depois: a recente eliminação na semifinal da Copa Nike, com revés por 1 a 0 para o Santos. Pedras no caminho que servem para deixar os garotos mais cascudos, mais experientes, mais maduros. Saber perder faz parte. E acompanhamento não falta por parte do Flamengo.

Mosaico Flamengo Geração 2000 (Foto: André Durão / Globoesporte.com) 
Um dia de treino do sub-15 do Flamengo (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

- Realmente é uma geração muito boa, que foi desenvolvida lá embaixo. A gente cuida deles com muito carinho desde o começo. E hoje isso se reflete na convocação de seis, sete jogadores para a seleção brasileira. É muito difícil dizer que é a geração mais promissora, pois muita coisa acontece no caminho desses meninos. Mas com certeza é uma das melhores gerações do Brasil atualmente - afirmou Carlos Noval, diretor das categorias de base do Fla.

"O medo é uma ilusão", diz craque do time

O grande destaque do time é o atacante Vinícius. O menino de São Gonçalo-RJ foi o único desfalque do treino acompanhado pelo GloboEsporte.com durante esta semana no Ninho do Urubu, CT do clube que fica em Vargem Grande, bairro do Rio de Janeiro, mas por um bom motivo. Mesmo com só 14 anos, foi chamado para defender a equipe sub-17 do Flamengo na primeira partida da semifinal da Copa do Brasil contra o Vitória - perderam por 3 a 2 na última quarta. Via telefone, ele não deixou de falar com a reportagem e mostrou maturidade.

- Sei que minha responsabilidade é muito grande, mas é uma coisa gostosa. Sei do meu potencial e chamo essa responsabilidade dentro de campo. Faço parte de uma geração que gosta de ganhar e trabalha a cada dia para conquistar cada vez mais títulos pelo Flamengo. Nosso grupo tem uma amizade muito boa, e isso se transfere para o campo. Um corre pelo outro, e não tem vaidade.

Vinícius geração 2000 Flamengo (Foto: Divulgação/Flamengo)
Segundo o técnico Dudu Patetuci, Vinícius tem muita velocidade, joga aberto e dificilmente não passa de um marcador quando vai em direção ao gol. É o típico jogador que decide. Com direito a frase de efeito, a promessa de craque também mostrou ter personalidade.

- Meu ídolo atualmente é o Neymar, porque jogo bem parecido com ele, ousado e alegre, com muita alegria nas pernas e sem medo de errar. O medo é uma ilusão.

Vinícius defende a seleção brasileira sub-15. Além dele, outros jogadores do time fazem ou já fizeram parte das convocações: o lateral-direito Wesley, o zagueiro Patrick, o lateral-esquerdo Athirson, os meias Marx Lenin e Leandro, e o atacante Lincoln.

Patrick, que é capitão tanto do Flamengo quanto do Brasil, foi outro a mostrar maturidade. Inspirado em Aldair, o garoto de 15 anos e 1,83m de altura está no Rubro-Negro desde 2013, quando chegou da escolinha União, do Rio de Janeiro, após quase parar no Vasco.

- Acho que ser capitão é uma responsabilidade enorme. O grupo é muito brincalhão, então de vez em quando tenho que puxar a corda desses meninos, senão extrapolam. O capitão é sempre o chato, o mais sério, mas acho bem legal. Muitos queriam ser capitão, e tive essa oportunidade - afirmou o zagueiro, como se já fosse um veterano.

Athirson do Acre e Marx Lenin

A história de Athirson é uma das mais curiosas. Nascido em Manaus, o garoto morou no Acre dos 4 aos 10 anos. Em 2011, aproveitou as férias dos pais no Rio de Janeiro para fazer teste no Flamengo. Como foi aprovado, pai e mãe pediram demissão de seus empregos para segui-lo na Cidade Maravilhosa - hoje só o pai está empregado. E o nome não é mera coincidência com o passado do clube da Gávea. No auge do ex-lateral-esquerdo, entre 1999 e 2000, a tia do menino manauara que ainda nem havia nascido viu um gol de Athirson pela televisão e sugeriu o nome, já que a família tem tradição de nomes começando com a letra A. Mas a coincidência veio de fato depois: o futuro jogador é canhoto e virou, veja só, lateral-esquerdo. Hoje peça fundamental do time sub-15, Athirson destacou a união da "Geração 2000".

- Nosso grupo é realmente muito qualificado, tanto no coletivo quanto individualmente. Todo mundo é amigo, trabalha junto, sempre com o mesmo objetivo: vencer. Quando um ganha um prêmio individual, não é só ele que fica feliz. Todos nós ficamos felizes porque sabemos que fazemos parte dessa conquista. Tenho certeza que nossa união vai continuar assim até o profissional. Todo mundo sonha em ser jogador e quer chegar lá junto.

Athirson e Patrick geração 2000 Flamengo (Foto: André Durão/GloboEsporte.com)

Lateral-esquerdo Athirson (E) e zagueiro e capitão Patrick: defensores maduros (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)

Em matéria de nome curioso, quem ganha é o meia Marx Lenin. A mãe dele queria homenagear o marido, Antônio Marques, colocando Marques como primeiro nome do menino, mas o cartório não permitiu. A mãe, então, tentou adaptar e inovar ao mesmo tempo e escolheu Marx Lenin, mesmo só por achar os nomes bonitos e sem saber a história dos revolucionários comunistas de Alemanha e Rússia, respectivamente. O garoto, por sua vez, diz que gosta do nome que tem e sabe que Marx foi um "grande filósofo", mas não tem ideia de quem foi Lenin. Aos 15 anos, ele tenta lidar com a pressão, não de influenciar milhões com seus pensamentos, mas de corresponder à expectativa criada em cima da "Geração 2000".

- É uma pressão, sim, porque para jogar num grupo qualificado como esse você tem que estar bem, senão o companheiro vem melhor. Também é mais confiança, pois a gente entra em campo e o pessoal respeita. Mas para ser respeitado tem que botar a bola no chão e jogar.

Marx Lenin se destacou no CFZ-RJ e foi levado pelo próprio Zico para o Flamengo em 2009. Quem fez o teste e passou junto dele foi o amigo Yuri, também meia. Os dois meninos de Volta Redonda-RJ já eram amigos e inclusive haviam se enfrentado algumas vezes na cidade sul-fluminense. Atualmente eles compartilham do sonho maior de ser jogador profissional.

- Todo mundo sabe que vida de jogador não é fácil. Por isso a gente está aí, batalhando sempre, acordando cedo todo dia para treinar. Não é fácil, não. Tem que lutar mesmo. Desistir? Nunca! - cravou Yuri.

Marx Lenin e Yuri geração 2000 Flamengo (Foto: André Durão/GloboEsporte.com) 
Marx Lenin (E) e Yuri: sorridentes meio-campistas dão alegria ao Fla (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)
 
Extracampo: psicologia, pedagogia...

Com tantos destaques na equipe, o assédio de outros clubes será uma coisa inevitável. Nenhum deles pôde assinar ainda contrato com o Flamengo - a Lei Pelé só permite que um atleta assine contrato de trabalho com um clube a partir dos 16 anos de idade -, mas a maioria já possui empresário. Todos os selecionáveis têm, por exemplo. E é junto desses agentes que o Rubro-Negro tenta dar acompanhamento extracampo para os jogadores.

A pressão da família, que muita vezes depende de aquele sonho virar realidade para ter uma vida melhor, pode ser um grande problema para os meninos. Para cuidar de casos como esse, o Flamengo fornece um acompanhamento de psicologia e assistência social a todos do grupo. A pedagogia também ajuda quando a escola vira um problema.

- O Flamengo procura trabalhar com seus departamentos, tratando dessa questão do emocional, da escola, da família. Esses fatores externos influenciam diretamente dentro do campo. Então, o Flamengo está muito atento a isso. Ultimamente não tem acontecido nada. O comportamento deles está bem legal. Está tudo tranquilo. Se acontecer, o Flamengo estará preparado para chamar a família e o agente para conversar. A comunicação também está muita atenta, já que hoje existe essa coisa das redes sociais, que estão dominando a meninada - disse o técnico Dudu Patetuci.

Muita coisa ainda vai acontecer na vida desses meninos de no máximo 15 anos. Se serão profissionais, se terão carreiras de sucesso, só o tempo vai dizer. Mas, se tudo correr conforme o planejado, a torcida rubro-negra pode esperar boas novidades para os próximos anos.

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