terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Da fralda de Gladstone ao jogo de seis minutos: as histórias de Mello e Luxa


Cariocas, espontâneos, bons de papo e inseparáveis há 18 anos. Vanderlei Luxemburgo e Antônio Mello formam uma daquelas duplas que marcam época no futebol, tal qual Felipão e Murtosa. A parceria entre treinador e preparador físico começou em 1997, no Santos, e não parou mais. Desde então, são nove clubes, incluindo o Real Madrid, além da seleção brasileira. Vitórias, derrotas, títulos, muitos títulos  - um deles pelo próprio Flamengo, no Carioca de 2011 - e, naturalmente, bastante história. Até mesmo desde antes de a bola unir seus caminhos.

Para celebrar a maioridade dessa relação, que teve início no Santos, há 18 anos, Antônio Mello recebeu o GloboEsporte.com no hotel onde o Rubro-Negro realiza pré-temporada, em Atibaia, no interior de São Paulo, para contar passagens curiosas com o amigo. Antes, porém, o preparador físico não deixou de externar a empolgação com o que Luxa tem preparado para o Flamengo de 2015. Por mais que somem 13 títulos juntos, ele garante: nunca viu Vanderlei tão empolgado.

- Admiro demais o trabalho do Vanderlei. Ele está um momento profissional muito bom, talvez o melhor da carreira. A cabeça está voltada para uma modernização do futebol brasileiro.

Da provocação ao jovem Gladstone, que estreava no Cruzeiro em uma decisão de Copa do Brasil, diante do Flamengo, até a malandragem do Vanderlei Luxemburgo vendedor de carros, Antonio Mello lista "causos" marcantes da amizade. Confira:


O ponto de Ricardinho

O Vanderlei sempre teve ideias a respeito do futebol. Em 2001, ele me falou que ia adotar um ponto eletrônico para se comunicar com o atleta sem ter que ficar gesticulando na beira do campo. Deu o ponto para o Ricardinho e ficava falando à distância nos treinos, perguntando se estava sendo ouvido e combinou um sinal de positivo para confirmar. Levamos isso para um, dois, três jogos, até que a notícia vazou. Acabou sendo proibido. Até que em um jogo foi filmado o Ricardinho lá do outro lado do campo, e o Vanderlei falando:

- Está entendendo? Volta um pouquinho porque está acontecendo isso, isso, isso. Fala para o André não sair mais.

Aí, o Ricardinho fez legal e a imagem pegou ele dizendo que está tudo certo (risos). Foi proibido, mas é uma ideia avançada do Vanderlei. Acho que podiam até permitir isso.

Portunhol de Raul e jogo de seis minutos

Quando chegamos na Espanha, a primeira coisa que o Raul falou foi:

- Professor, portunhol. Não fica tentando falar inglês, nem português. Nós não sabemos falar o português, mas vamos nos comunicar.

O momento mais legal foi no jogo de seis minutos (estreia de Vanderlei, em jogo interrompido por ameaça de bomba, diante do Real Sociedad). Sentimos que aquele era o momento da nossa chegada. Desde o aquecimento até o jogo, tínhamos que trabalhar no anaeróbio de alta intensidade. O Vanderlei disse: "Mello, vai dentro deles no aquecimento". E fiz uns 20 minutos como se fosse jogo e voltamos para o vestiário. Em seis minutos, houve um pênalti sobre o Ronaldo, o Zidane bateu e fez o gol. Essa foi uma passagem muito legal.

montagem vanderlei luxemburgo e antonio mello santos corinthians (Foto: Editoria de Arte) 
Unha e carne: Vanderlei Luxemburgo e Antônio Mello trabalham juntos há 18 anos (Foto: Editoria de Arte)
Vanderlei, o vendedor

O Vanderlei era vendedor de automóveis e eu tinha feito um contrato muito bom. De cara, com o dinheiro que ganhei, ele me vendeu um carro. O carro estava cheio de problemas. Fui trocar por um outro melhor e já deixei mais um dinheiro na compra. Ele me zoa o tempo todo que larguei o dinheiro das luvas todo com ele (risos). A gente acha isso engraçado e vai contando com uma pitada de humor.

A fralda de Gladstone

Fazíamos a final da Copa do Brasil contra o Flamengo. O Gladstone subiu com 18 anos para jogar, e o Vanderlei reuniu o elenco em uma sala. Deu um envelope para cada jogador e perguntou:

- Gladstone, você está com medo do jogo?

Ele respondeu que não estava. O Vanderlei falou para os jogadores abrirem os envelopes, mas o Gladstone, que tinha recebido dois, guardar um. Todos abriram e era uma faixa de campeão. Vencemos o jogo sobre o Flamengo por 3 a 1 e todo mundo botou a faixa. O Vanderlei gritou que já eram campeões antecipados, aquele negócio motivacional, e mandou o Gladstone abrir o outro envelope. Era uma fralda. Ele perguntou:

- Está cagado? Então, vai para o jogo! (risos).



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