sábado, 13 de setembro de 2014

Flamengo: Casa cheia, cofre vazio




Entre agradar a torcida e encher os cofres do clube, a diretoria do Flamengo busca a equação ideal para obter lucro com a venda de ingressos no Maracanã. Porém, está longe disso. No primeiro semestre, o rubro-negro arrecadou praticamente um terço em relação ao mesmo período do ano passado. À época, o time vendeu jogos para outros estádios e negociou rendas milionárias. Em entrevista ao GLOBO, o vice-presidente de Finanças do clube, Rodrigo Tostes, falou sobre essa questão:

- No pior momento do clube no ano, a diretoria decidiu reduzir o preço dos ingressos. A torcida compareceu e levou o clube a ter a terceira maior média do campeonato. Por que decidiu-se aumentar os valores novamente?

Alguns estão achando que a torcida do Flamengo lotou o Maracanã porque reduzimos o preço do ingresso. Isso sim é um desrespeito com a Nação Rubro-Negra. Um raciocínio totalmente incorreto. A torcida nunca deixou de ir. A torcida lotou os últimos jogos - primeiro porque identificou que o time precisava de apoio para sair de uma situação difícil - e a torcida do Flamengo não abandona seu time nos momentos difíceis. Em segundo, porque viu dentro de campo um time superando suas dificuldades com raça e muita luta. Isso é o que mais importa para a torcida do Flamengo. Porém, é um equívoco dissociar a parte esportiva da parte financeira. Não existe alto rendimento sem investimento. Ninguém mais joga futebol por amor. E é imprescindível manter os salários dos jogadores e as contas do clube em dia. Essa é nossa prioridade número um. Foram décadas de uma administração financeira em que a paixão falava mais alto. Encontramos um furo de caixa no ano de R$ 120 milhões e uma dívida acumulada de R$ 750 milhões. Rediscutimos as dívidas, conseguimos as certidões, conseguimos novos patrocinadores de peso, instituímos o sócio-torcedor. Todas essas ações estão sendo tomadas para trazer um equilíbrio financeiro de forma que voltemos a ter no Flamengo uma nova era de títulos. Garanto ao torcedor do Flamengo que sem casa arrumada financeiramente isso nunca será possível. Não adianta ganhar título em um ano e ir para Segunda Divisão no ano seguinte.

- Como foi a decisão? O departamento de futebol acredita ser melhor ter o apoio massivo da torcida com preços mais baixos. O marketing briga por valores mais altos para obter mais lucro. Houve uma discussão entre as partes?

Sempre existe discussão entre as partes no conselho diretor do Flamengo. Isso é totalmente saudável e faz parte do modelo de gestão que implementamos. Todos estão ali para contribuir com sua experiência profissional em determinados temas. A precificação do ingresso é responsabilidade do marketing que faz uma análise sobre a atratividade do jogo. Essa história de preço fixo não pode existir. Flamengo e Bonsucesso (com todo respeito ao Bonsucesso) na quarta feira às 22:00 não pode ter o mesmo preço de Flamengo x Corinthians, no Maracanã, domingo.

- Na balança, o que vale mais? A parte financeira ou o apoio da torcida? Há quem considere o aumento um desrespeito ao torcedor. Concorda?

Uma coisa não exclui a outra. Temos muito respeito pelo torcedor. Até porque somos também torcedores. Não existe torcida igual a do Flamengo. E estamos trabalhando para reforçar o time em 2015. No jogo contra o Grêmio foram identificados ingressos de R$ 20 sendo vendido a R$ 50 por cambistas. Se existe essa demanda, ao invés de incentivar uma venda ilegal, não é justo que o clube fique com essa receita para que possa fazer os investimentos necessários? O que fizemos foi segmentar os preços, mantendo o valor mais barato o mais próximo possível do que estava antes. O Maracanã no domingo vai estar cheio.


- O presidente considerou o aumento irrisório. Porém, o preço cheio mais barato sofreu acréscimo de 25%. Em outros setores, chegou a 75%. Bem acima da inflação.

Fazer uma correlação com a inflação não é apropriado. Quando reduzimos o preço também não seguimos a inflação. A precificação do ingresso é baseada numa análise profunda do departamento de marketing, que leva em consideração vários fatores tais como: atratividade, horário, se o jogo será televisionado ou não, e o adversário.

- No contrato com a concessionária, o Flamengo só fica com grande parte da renda se tiver rendas superiores a R$ 1,5 milhão. Porém, fora jogos decisivos, como a final da Copa do Brasil, ingressos mais caros afastam o torcedor. Este ano, nos jogos com os ingressos mais baratos e casa cheia, a renda foi cerca de 5 a 10% maior em relação aos jogos contra o Palmeiras e o São Paulo, por exemplo. É possível achar um equilíbrio nessa conta?

Como eu disse, a torcida não voltou porque o ingresso estava barato, mas sim pela luta do time dentro de campo. Essa é a melhor fórmula para manter o estádio cheio. Dentro de campo, são profissionais que têm família e compromissos. Por isso, precisam ter salários em dia para ter tranquilidade e darem o seu máximo. De qualquer forma, a equação com o Consórcio não é fácil. O Novo Maracanã é o estádio mais bonito do mundo. É um privilégio para a torcida do Flamengo ter o Maracanã como sua casa. No entanto, ainda não foi encontrado um equilíbrio financeiro entre as despesas do estádio e as receitas dos clubes. Vamos tentar sempre buscar o equilíbrio entre o preço acessível e os compromissos do clube.

- O novo contrato está dando prejuízo ao Flamengo. Há a possibilidade de levar alguns jogos para fora do Rio?

Não temos prejuízo com o Maracanã, mas poderia sem melhor. Nosso modelo de contrato foi planejado para termos grandes públicos e grandes rendas, mas nosso calendário é perverso, porque o grande número de jogos em muitos casos tira a atratividade do evento, fato que impacta diretamente na receita de bilheteria. Somos 40 milhões de torcedores, ou seja, 20 por cento da população brasileira. O Flamengo é o único clube nacional do Brasil, precisa manter sua hegemonia e para isso precisa jogar também fora do Rio. Se o calendário permitisse, o mais lógico seria usar o meio da semana para jogos em outras praças e arrecadar com isso. Não podemos afastar essa hipótese, mas nesse momento não faz parte do nosso planejamento.

- Qual a projeção do ganho com bilheteria no orçamento deste ano? Está dentro do previsto? Foi levada em conta essa questão para o aumento?

Na equação do equilíbrio financeiro, temos grandes três linhas de receita: televisão, patrocínio e bilheteria. Nas receitas de televisão e patrocínio estamos cumprindo o planejado para 2014. No entanto, a receita de bilheteria está bastante inferior ao previsto. No primeiro semestre arrecadamos R$ 2,4 milhões e no mesmo período do ano passado arrecadamos R$ 8 milhões.

- Em todos os jogos, há a penhora de parte da receita. Isso influenciou no aumento?
Não.



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