Entre agradar a torcida e encher os cofres do clube, a
diretoria do Flamengo busca a equação ideal para obter lucro com a venda
de ingressos no Maracanã. Porém, está longe disso. No primeiro
semestre, o rubro-negro arrecadou praticamente um terço em relação ao
mesmo período do ano passado. À época, o time vendeu jogos para outros
estádios e negociou rendas milionárias. Em entrevista ao GLOBO, o
vice-presidente de Finanças do clube, Rodrigo Tostes, falou sobre essa
questão:
- No pior momento do clube no ano, a diretoria decidiu
reduzir o preço dos ingressos. A torcida compareceu e levou o clube a
ter a terceira maior média do campeonato. Por que decidiu-se aumentar os
valores novamente?
Alguns estão achando que a torcida do Flamengo lotou o Maracanã
porque reduzimos o preço do ingresso. Isso sim é um desrespeito com a
Nação Rubro-Negra. Um raciocínio totalmente incorreto. A torcida nunca
deixou de ir. A torcida lotou os últimos jogos - primeiro porque
identificou que o time precisava de apoio para sair de uma situação
difícil - e a torcida do Flamengo não abandona seu time nos momentos
difíceis. Em segundo, porque viu dentro de campo um time superando suas
dificuldades com raça e muita luta. Isso é o que mais importa para a
torcida do Flamengo. Porém, é um equívoco dissociar a parte esportiva da
parte financeira. Não existe alto rendimento sem investimento. Ninguém
mais joga futebol por amor. E é imprescindível manter os salários dos
jogadores e as contas do clube em dia. Essa é nossa prioridade número
um. Foram décadas de uma administração financeira em que a paixão falava
mais alto. Encontramos um furo de caixa no ano de R$ 120 milhões e uma
dívida acumulada de R$ 750 milhões. Rediscutimos as dívidas, conseguimos
as certidões, conseguimos novos patrocinadores de peso, instituímos o
sócio-torcedor. Todas essas ações estão sendo tomadas para trazer um
equilíbrio financeiro de forma que voltemos a ter no Flamengo uma nova
era de títulos. Garanto ao torcedor do Flamengo que sem casa arrumada
financeiramente isso nunca será possível. Não adianta ganhar título em
um ano e ir para Segunda Divisão no ano seguinte.
- Como
foi a decisão? O departamento de futebol acredita ser melhor ter o
apoio massivo da torcida com preços mais baixos. O marketing briga por
valores mais altos para obter mais lucro. Houve uma discussão entre as
partes?
Sempre existe discussão entre as partes no conselho diretor do
Flamengo. Isso é totalmente saudável e faz parte do modelo de gestão que
implementamos. Todos estão ali para contribuir com sua experiência
profissional em determinados temas. A precificação do ingresso é
responsabilidade do marketing que faz uma análise sobre a atratividade
do jogo. Essa história de preço fixo não pode existir. Flamengo e
Bonsucesso (com todo respeito ao Bonsucesso) na quarta feira às 22:00
não pode ter o mesmo preço de Flamengo x Corinthians, no Maracanã,
domingo.
- Na balança, o que vale mais? A parte financeira ou o apoio
da torcida? Há quem considere o aumento um desrespeito ao torcedor.
Concorda?
Uma coisa não exclui a outra. Temos muito respeito pelo torcedor.
Até porque somos também torcedores. Não existe torcida igual a do
Flamengo. E estamos trabalhando para reforçar o time em 2015. No jogo
contra o Grêmio foram identificados ingressos de R$ 20 sendo vendido a
R$ 50 por cambistas. Se existe essa demanda, ao invés de incentivar uma
venda ilegal, não é justo que o clube fique com essa receita para que
possa fazer os investimentos necessários? O que fizemos foi segmentar os
preços, mantendo o valor mais barato o mais próximo possível do que
estava antes. O Maracanã no domingo vai estar cheio.
- O presidente considerou o aumento irrisório. Porém, o preço
cheio mais barato sofreu acréscimo de 25%. Em outros setores, chegou a
75%. Bem acima da inflação.
Fazer uma correlação com a inflação não é apropriado. Quando
reduzimos o preço também não seguimos a inflação. A precificação do
ingresso é baseada numa análise profunda do departamento de marketing,
que leva em consideração vários fatores tais como: atratividade,
horário, se o jogo será televisionado ou não, e o adversário.
- No contrato com a concessionária, o Flamengo só fica com
grande parte da renda se tiver rendas superiores a R$ 1,5 milhão. Porém,
fora jogos decisivos, como a final da Copa do Brasil, ingressos mais
caros afastam o torcedor. Este ano, nos jogos com os ingressos mais
baratos e casa cheia, a renda foi cerca de 5 a 10% maior em relação aos
jogos contra o Palmeiras e o São Paulo, por exemplo. É possível achar um
equilíbrio nessa conta?
Como eu disse, a torcida não voltou porque o ingresso estava
barato, mas sim pela luta do time dentro de campo. Essa é a melhor
fórmula para manter o estádio cheio. Dentro de campo, são profissionais
que têm família e compromissos. Por isso, precisam ter salários em dia
para ter tranquilidade e darem o seu máximo. De qualquer forma, a
equação com o Consórcio não é fácil. O Novo Maracanã é o estádio mais
bonito do mundo. É um privilégio para a torcida do Flamengo ter o
Maracanã como sua casa. No entanto, ainda não foi encontrado um
equilíbrio financeiro entre as despesas do estádio e as receitas dos
clubes. Vamos tentar sempre buscar o equilíbrio entre o preço acessível e
os compromissos do clube.
- O novo contrato está dando prejuízo ao Flamengo. Há a possibilidade de levar alguns jogos para fora do Rio?
Não temos prejuízo com o Maracanã, mas poderia sem melhor. Nosso
modelo de contrato foi planejado para termos grandes públicos e grandes
rendas, mas nosso calendário é perverso, porque o grande número de jogos
em muitos casos tira a atratividade do evento, fato que impacta
diretamente na receita de bilheteria. Somos 40 milhões de torcedores, ou
seja, 20 por cento da população brasileira. O Flamengo é o único clube
nacional do Brasil, precisa manter sua hegemonia e para isso precisa
jogar também fora do Rio. Se o calendário permitisse, o mais lógico
seria usar o meio da semana para jogos em outras praças e arrecadar com
isso. Não podemos afastar essa hipótese, mas nesse momento não faz parte
do nosso planejamento.
- Qual a projeção do ganho com bilheteria no orçamento deste
ano? Está dentro do previsto? Foi levada em conta essa questão para o
aumento?
Na equação do equilíbrio financeiro, temos grandes três linhas de
receita: televisão, patrocínio e bilheteria. Nas receitas de televisão e
patrocínio estamos cumprindo o planejado para 2014. No entanto, a
receita de bilheteria está bastante inferior ao previsto. No primeiro
semestre arrecadamos R$ 2,4 milhões e no mesmo período do ano passado
arrecadamos R$ 8 milhões.
- Em todos os jogos, há a penhora de parte da receita. Isso influenciou no aumento?
Não.
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