Um jovem
educado, mas altamente influenciável. A definição é quase unânime por pessoas
que conviveram com Luiz Antonio nos últimos anos. A voz é pausada e o trato
cordial no dia a dia. Mas falta pulso firme ao volante, um traço de
personalidade que ajuda a explicar o comportamento oscilante demonstrado dentro
e fora de campo desde que subiu aos profissionais, em 2011. Trocas de
empresários, tentativa de saída do clube e idas e vindas no time titular marcam
a trajetória do jovem, que, aos 23 anos, se vê obrigado, enfim, a encarar de
frente um momento ainda mais delicado: a investigação policial por suposto
envolvimento com milícias no Rio de Janeiro.
Agente do
jogador na época do episódio, Francisco Dambros era uma das pessoas mais
próximas de Luiz Antonio quando o jogador e o pai deram queixa do
roubo do carro que, de acordo com a investigação, foi parar na mão de
milicianos. O empresário relembra o que escutou do fato e se mostra surpreso
com o desenrolar dos fatos.
- Ele (Luiz
Antonio) me contou do assalto com uma naturalidade tremenda, como se fosse tudo
bem. Hoje, vejo que era tudo mentira. Mente como os pais. Que os pais o criaram
para manipulá-lo, não tenho dúvidas. O que soube é que ele emprestou o carro ao
pai, que teria sido assaltado. Ele viajou para Cabo Frio e deixou o carro.
Quando voltou, disse que o pai tinha sido roubado e alugou um carro pela
seguradora. Hora nenhuma vi apreensão por parte deles para recuperar o carro.
Agora, vai ser difícil transferir a culpa, é hora de assumir as coisas que faz.
Esse é o traço mais negativo da personalidade dele - afirmou Dambros.
O inquérito aponta que Luiz Antonio teria dado
um carro de luxo a um dos chefes da quadrilha de milicianos que atuava na Zona
Oeste do Rio de Janeiro. No entanto, o veículo teria sido dado como roubado
pelo pai do jogador, Luiz Carlos, em uma delegacia. O nome do inspetor que fez o registro de
ocorrência é Alexandre da Rocha Antunes, um dos mais de 20 presos em operação
que desarticulou a quadrilha e que se identificava como irmão de criação do
rubro-negro. Esse é o episódio mais marcante envolvendo o volante, que ao longo
dos anos demonstra incapacidade de tomar decisões de acordo com suas
convicções.
Rodízio de empresários e inflências
Jogador da
base do Flamengo com mais participações no time de cima nos últimos anos - 126
jogos -, Luiz Antonio carece de regularidade. A oscilação demonstrada em campo
é vista também no seu histórico fora dele. Muito apegado ao pai, Luiz Carlos, a
quem já acusou de cobrar dele a perfeição desde muito jovem, o volante trocou
de empresário seis vezes nos últimos dois anos. Eduardo Uram, Pedro Cabral,
Claudio Guadagno, Francisco Dambros, Carlos Leite e Jolden Vergette (o atual) já tomaram conta da
carreira do atleta.
No período
em que parecia ter encontrado maior serenidade na vida pessoal, com o
envolvimento com a namorada atual, e melhor performance em campo, Luiz Antonio
surpreendeu a todos e tentou se desligar do Flamengo na Justiça. Eleito o
melhor em campo na decisão da Copa do Brasil, o volante era peça-chave no
esquema de Jayme de Almeida para 2014, mas não se reapresentou com o elenco. E
pediu a rescisão imediata do contrato por conta de supostas dívidas
trabalhistas.
O imbróglio
durou dois meses, o jogador colecionou derrotas nos tribunais, até que no
início de março foi costurado um acordo para que retornasse ao clube.
Responsável
pelas conversas, o então diretor executivo de futebol do Rubro-Negro, Paulo
Pelaipe, foi um dos que teceram elogios ao trato com Luiz Antonio no dia a dia,
mas questionou sua firmeza na tomada de decisões.
- Ele é um
bom menino, mas que foi mal orientado naquele momento. Nesse um ano e meio que
tive com ele, nunca deu nenhum tipo de problema disciplinar, cumpria com o que
era determinado, era querido pelo grupo, mas se deixa levar por influências.
Não tem aquela personalidade, precisa de apoio. É preciso ter um controle, uma
conversa. É importante que os jovens jogadores cuidem do entorno. É muita gente
que quer se aproveitar - destacou Pelaipe.
Agente do
jogador no episódio, Francisco Dambros foi acusado de ser um dos que o
induziram a cobrar a saída do Flamengo. O empresário, por sua vez, se defende e
trata os pais do jogador como principais responsáveis por sua conduta
inconstante.
- Até o
rompimento comigo, também tinha esse entendimento de que ele é muito
influenciável e manipulado pelos pais. Foi criado como jogador e como homem
para isso, principalmente no aspecto financeiro. Sempre que arrumou uma
namorada ou empresário, impediam que se aproximasse. Mas depois do que ele fez
comigo, vejo que também há a parte dele, essa índole ruim. Conviver com ele com
a família por perto é uma tensão constante. Nem eu, nem a mulher dele sabíamos
a que lado ia pender.
A
transferência de responsabilidade citada por Dambros se dá por conta do
discurso adotado por Luiz Antonio quando se reapresentou de volta ao Flamengo.
Em entrevista coletiva, o próprio jogador admitiu de certa forma a falta de
firmeza nas decisões e culpou terceiros pela ação na Justiça contra o clube.
- Pelo fato de achar que tinha direito sobre
certas coisas, tive más influências. Fui iludido por certas coisas, me fizeram
acreditar, sem tirar minha responsabilidade. Poderia me impor mais. Peço
desculpas pelo meu erro ao Flamengo e a sua torcida. Não tive amadurecimento
suficiente para me impor - admitiu o jogador, à época.
Frieza e bronca
Não são
poucas as pessoas que relacionam essa conduta com a maneira como Luiz Antonio
foi criado pelos pais. Um amigo que preferiu não ser identificado citou até
mesmo o irmão de criação, que teria sido um dos principais responsáveis pelo
envolvimento do jogador com milicianos:
- Ele é
educado, mas um pouco fraco de cabeça. Família atrapalha a carreira.
Aproveitadores aparecem sempre, como o irmão de criação que nunca foi nada.
O aumento
do prestígio interno também teria gerado situações que fizeram com que Luiz
Antonio recebesse puxões de orelhas de lideranças do Flamengo no Ninho do
Urubu. Em determinado momento, teria sido interpelado por Paulo Pelaipe com a
pergunta: "Quem é você?". O volante ficou sem entender o
questionamento, disse que era jogador do Flamengo e, logo em seguida, ouviu que
um jogador profissional não deveria circular nos trajes apresentados na
ocasião, com chinelo de dedo, boné, acessórios e jeito desleixado.
Já no
retorno ao clube depois da briga judicial, Luiz Antonio teria apresentado
comportamento frio, principalmente com os contratados para esta temporada. Após
a chegada de Marcelo a Arthur ao grupo, ele foi um dos poucos a não se mostrar
receptivo e não buscar um contato para dar boas-vindas. De imediato, Jayme de
Almeida o repreendeu e cobrou uma postura mais coletiva.
Suporte de Jayme de Almeida
Foi com o
treinador, inclusive, que o jovem encontrou seu melhor futebol. Revelado por
Vanderlei Luxemburgo, teve certo destaque até o início de 2012, sendo um dos
poucos a se salvar na desastrosa campanha na Libertadores. Sob o comando de
Joel Santana, Dorival Júnior, Jorginho e Mano Menezes, porém, foram poucas as
oportunidades, quase sempre improvisado na lateral direita na ausência de Léo
Moura.
Velho
conhecido de Jayme desde a categoria infantil, Luiz Antonio recebeu
oportunidade aos poucos pelo treinador, se estabeleceu como figura importante
na campanha do título da Copa do Brasil, ao lado de Elias no meio-campo, mas brecou
a evolução ao tentar deixar o clube. Em 2014, os altos e baixos voltaram a ser
rotina, assim como, ao que parece, as influências extracampo.
Dívidas e apoio de advogado
Nos últimos
meses, questões financeiras também atormentam o jogador. O aumento proposto na
volta em março ainda não foi colocado em prática, e Luiz Antonio segue
recebendo R$ 20 mil brutos (sendo R$ 14 mil líquidos), salário padrão para
pratas da casa. As dívidas, no entanto, crescem, principalmente após descobrir
que será pai em breve. Um carro importado e um apartamento fazem parte das
últimas aquisições e para quitar dívidas foi necessário pegar empréstimos.
No
treino do último sábado, antes de seu suposto envolvimento com
milicianos vir à tona, Luiz Antonio foi ao treino no Ninho do Urubu na
companhia do pai, Luiz Carlos, em um chamativo carro branco, ainda sem
placa.
Famoso por "jogar no ataque" dentro dos tribunais e livrar o
Flamengo de punições que eram dadas como certas no STJD, o advogado
Michel Asseff Filho está na defesa quando o assunto é o caso Luiz
Antonio. Não no sentido óbvio de defender o clube, seu ofício natural,
mas na retranca, tímido. Prefere o silêncio antes de qualquer
pronunciamento por parte do atleta. O escritório de Asseff, aliás,
acompanhará o depoimento de Luiz à Polícia Civil.
- Por respeito à autoridade policial, o atleta só vai fazer qualquer comentário depois de prestar depoimento. Passado isso, ele vai se comunicar com a imprensa, e o Flamengo vai aguardar as investigações - disse Michel Asseff Filho.
- Por respeito à autoridade policial, o atleta só vai fazer qualquer comentário depois de prestar depoimento. Passado isso, ele vai se comunicar com a imprensa, e o Flamengo vai aguardar as investigações - disse Michel Asseff Filho.
No Flamengo, o tempo de Luiz Antonio parou.
Liberado do treino de terça-feira para resolver questões pessoais, não deve
voltar a jogar até que sejam solucionadas suas questões com a Justiça. Aí, sim,
poderá tentar voltar a trilhar um caminho em busca da regularidade. Resta saber
se por si só ou ainda com influências externas a reboque.
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