É como se Jade Barbosa tivesse voltado no tempo. O
mesmo prédio, o mesmo ginásio e até o mesmo sonho de quando era apenas uma
menina de cinco anos. Depois de quase um ano e meio longe do clube em que cresceu,
a ginasta está de volta ao Flamengo. Após um período de conversas e
negociações para o retorno, a atleta esteve na sede da
Gávea nesta quarta-feira para a assinatura do seu novo contrato com o Rubro-Negro. Apesar de toda
a maturidade que ganhou em tanto tempo no esporte, a alegria era de uma
iniciante.
Jade Barbosa está de volta ao Flamengo depois de quase um ano e meio (Foto: Gilvan de Souza / FlaImagem)
- Já estava com muita saudade.
Imagina, entrei aqui com cinco anos. E fiz parte de toda a história. Estava
treinando com as meninas e não podia vestir o uniforme (em Três Rios, com a
seleção). Nossa, graças a Deus a gente conseguiu acertar. Estou muito, muito,
muito feliz. Eu cheguei ali na varanda e pensei: ''Nossa, que saudade deste
clube''. Realmente, é uma segunda casa. Engraçado, a gente já estava
para fechar contrato, mas falavam “Calma, só mais uma semana”. E eu: “Pelo amor
de Deus, eu quero botar o uniforme. Eu quero ir para o Campeonato Brasileiro
com o uniforme do Flamengo. Por favor”. Eu já estava com muita vontade de
voltar. É muito bom estar em casa. Chegar e ver que o meu nome está na calçada
da fama. Realmente, aqui que eu cresci - disse Jade.
Em março do ano passado, ela fez parte do grupo de ginastas que
foi dispensado após o clube anunciar o fim do apoio à modalidade. Nomes como
Diego e Daniele Hypolito e Sergio Sasaki também se despediram da Gávea. Na
ocasião, os novos dirigentes rubro-negros alegaram que houve um déficit de R$
14,5 milhões no departamento olímpico em 2012 e que o custo das duas equipes
juntas chegava a R$ 2 milhões por ano. Eles informam ainda que tentaram, sem
sucesso, pedir ajuda a duas esferas do governo e ao Comitê Olímpico Brasileiro
(COB).
- A gente conversou muito
quando foi mandado embora. O que realmente a gente ficou chateado foi do jeito
que foi, mas a gente nunca deixou de ser Flamengo. Eu, pelo menos, nunca tive
problema nenhum com o Flamengo. Acho que foi só um mal-entendido pelo jeito que
foi feito. Mas passou. Eu tenho 17, 18 anos de Flamengo. É muito tempo. Acho
que isso não afeta esse tempo todo. Mesmo assim, a vontade de voltar e de estar
aqui de novo era tanta. Sempre deixei bem claro que nunca teria problema em
voltar se fosse conversado, se a gente entrasse em um acordo – explicou a ginasta.
Jade Barbosa chega desta vez
para ser modelo de referência e exemplo para as atletas de base do clube, como
Rebeca Andrade, umas das principais promessas. Enquanto o ginásio da Gávea não
fica 100% pronto e aguarda aparelhagem, a equipe rubro-negra permanece no
centro de treinamento de Três Rios. A atleta volta a treinar de perto com o
técnico Ricardo Pereira, do Flamengo, que a conhece desde a infância.
- Quando eu saí, as meninas
eram bem pequenas. Um ano na ginástica faz muita diferença. Eu voltei e elas
até acharam estranho quando voltei lá para Três Rios, porque a gente tinha
ficado um ano longe e elas mudaram muito. Mas estou me dando superbem com
elas, acho que elas e eu estamos acrescentando muito no treino. Vem uma equipe
muito forte para 2016, e o Flamengo tem 90% da seleção. Estou muito feliz de
fazer parte dessa história, ainda mais como Flamengo. As meninas estão muito
felizes, e eu mais ainda. Não consigo nem falar direito - disse,
emocionada.
Com camisa personalizada, Jade Barbosa comemorou voltar a vestir as cores do Flamengo (Foto: Amanda Kestelman)
No ano passado, Jade Barbosa estava treinando no Centro de Excelência de Ginástica, o Cegin, em Curitiba. Recentemente, estava treinando em Três Rios, que também é base da seleção. Aos 23 anos, ela foi medalhista em dois campeonatos mundiais. No individual geral, em 2007, e no salto, em 2010. Ela disputou os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, mas ficou fora de Londres 2012 por divergências com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). De volta ao Flamengo, ela comemora voltar a ter suporte para focar apenas nos treinamentos.
- Quando fiquei um ano fora, me
desestabilizei, me machuquei. Voltar e saber que você vai estar em casa, que
vai ter gente para te acolher, receber, que você vai ter um ginásio, que você
vai ter uma estrutura, faz toda diferença. O atleta consegue só treinar, o
atleta não tem que estar preocupado com outras mil coisas. E realmente a gente
está com todo suporte. É todo processo certo para, em 2016, a gente conseguir a
primeira medalha da ginástica feminina – destacou a atleta.
O contrato de Jade é até o fim
deste ano, já que foi feito através do projeto de incentivo ao esporte. A
intenção é seguir renovando com a atleta. Na próxima semana, ela já compete no
Campeonato Brasileiro, em Aracaju. Depois, o Pan-Americano de Ginástica, no
Canadá, e no Mundial, da China. A atleta se mostrou confiante e enalteceu o
trabalho do técnico russo Alexander Alexandrov, que está desde o ano passado no
comando da seleção feminina.
- O Alexander chegou e está
fazendo a gente acreditar muito. Tenho certeza que o Brasil vai ter uma ótima
colocação. Não tem escapatória.
Dirigente
vê Jade como símbolo e espera ginásio pronto em setembro
Vice-presidente de esportes olímpicos
do Flamengo, Alexandre Póvoa comemorou o retorno de Jade Barbosa. Para o
dirigente, a ginasta é considerada um símbolo de um processo de reconstrução do
esporte olímpico rubro-negro.
- Aquele incêndio no ginásio (em novembro de 2012)
acabou sendo simbólico. A ginástica artística do Flamengo teve que dar uns
passos atrás para dar alguns para frente. Hoje nós temos uma Lei de Incentivo,
a ginástica artística é totalmente sustentável no Flamengo. Os atletas estão
começando a voltar, atletas de alto nível. A gente está cumprindo o que a
gente prometeu. O ginásio sendo reconstruído, em setembro a gente vai ter
equipamentos cedidos pelo COB, uma equipe forte de volta. Aquele sonho de fazer
esporte olímpico sem dinheiro, com dinheiro do futebol, era uma coisa que não
era boa para ninguém. Graças a Deus estamos conseguindo fazer isso aos
poucos. A ginástica artística é a primeira junto com judô, esportes
aquáticos. O basquete já é uma realidade. Para nós, a volta da Jade é uma alegria
muito grande.
Por enquanto, a equipe de ginástica do Flamengo permanece treinando em
Três Rios. De acordo com Póvoa, o ginásio Claudio Coutinho deve voltar a
receber os atletas em setembro, já com novos equipamentos que serão cedidos
pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
- O ginásio reabriu mês passado, mas ainda com
equipamentos emprestados pela Prefeitura. A gente deve acabar o ginásio
provavelmente nos próximos 45 dias. Acredito que em setembro você tenha o
ginásio pronto, em alto nível para as atletas estarem voltando.
O esporte olímpico do Flamengo espera receber mais investimento neste
ciclo olímpico. Além de investimentos previstos para uma nova arena do judô e
em um projeto de um ginásio de basquete, o clube trabalha a possibilidade de remontar
uma equipe de natação.
- A piscina é um grande desafio que a gente tem ainda. Estamos com a Lei de
Incentivo aprovada, estamos com um dinheiro da Lei Pelé que deve entrar no
segundo semestre. A ideia é que a gente remonte uma equipe de natação, de uma
forma autossustentável. Isso tudo é a profissionalização do clube inteira.
Temos o Marcelo Vido (diretor de esportes olímpicos), que basicamente toca tudo
isso no esporte olímpico do Flamengo, e temos uma baluarte da ginástica
artística do Flamengo, a Luísa Parente (gerente de ginástica do clube), que foi
a primeira grande campeã de ginástica artística do Flamengo, tocando tudo isso
- completou.
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