Sete
jogos sem vitória, recordes negativos empilhados às costas e a lanterna
com luz potente e reluzente do Campeonato Brasileiro na mão. Ney Franco
tornou-se um problema que a diretoria do Flamengo concluiu que
precisava sanar antes do clássico contra o Botafogo, no próximo domingo.
Mas até chegar à contratação de Vanderlei Luxemburgo, opositor da atual diretoria nas eleições de 2012, foi necessária uma reflexão interna.
A
primeira etapa foi admitir o erro ao manter Ney durante a Copa do
Mundo. Mais do que resultados, o técnico errou nas escalações,
substituições e decepcionou os dirigentes pela insegurança. Apresentou
um Flamengo assustador ao torcedor que clamava por atuações menos
previsíveis – calcadas em contragolpes - após a saída de Jayme de
Almeida.
O recado final de desorientação transmitido
por Ney Franco ocorreu no jogo contra o Inter. Após treinar o 3-5-2
durante a maior parte da intertemporada e executá-lo - sem sucesso - na
derrota por 2 a 1 para o Atlético-PR, o técnico chutou o esquema para o
alto por causa da lesão de Samir. Mostrou aos zagueiros reservas Erazo
(ao saber que não jogaria pediu para não viajar e rescindirá o
contrato), Marcelo, Frauches e Fernando que não confiava neles. Para
piorar, colocou Márcio Araújo na lateral direita e deslocou Léo Moura
para uma estranha posição de volante/meia/ponta que não funcionou. A
goleada por 4 a 0 diante do Internacional implodiu a confiança nele.
A
etapa seguinte foi deparar-se com um deserto de treinadores atraentes.
Desde domingo, os caciques concordavam em um ponto: “Temos que
demiti-lo”. Mas na frase seguinte lotavam-se de interrogações: “Mas quem
vamos contratar?”. Apesar de oficialmente fora do cargo, Wallim
Vasconcellos segue atuante no departamento de futebol e desde domingo
ouviu conselhos para intervir e contratar “pessoas do ramo”, que
habitassem o pantanoso ambiente boleiro há mais tempo. Logo pipocou o
nome de Vanderlei Luxemburgo , considerado “malandro” para lidar com o
grupo e suficientemente forte para aguentar a pressão da torcida e da
mídia.
No
meio do caminho houve o componente político. A diretoria demitiria Ney
Franco de qualquer forma. O consenso era esse. Mas o ultimato do grupo
de ex-presidentes a Eduardo Bandeira de Mello na noite de segunda-feira –
um dos itens era a “imediata saída do treinador” - deu a impressão de
que a mudança seria ceder às pressões.
Líderes do
grupo, Marcio Braga e Kleber Leite sempre foram contrários a Luxa no
Flamengo. O primeiro, após as críticas públicas que sofreu do treinador
em 1991, sempre usou palavras pouco elogiosas para defini-lo. O segundo,
ao comprar a briga de Romário com o técnico e demiti-lo em 1995, saiu
do grupo de admiradores do treinador.
Curiosamente,
as ressalvas ao nome foram esquecidas e ambos aprovaram publicamente a
contratação. Marcio falou ao jornal Lance que a “crise foi espanada”, e
Kleber Leite publicou em seu blog que foi uma “tremenda bola dentro”.
Nas entrelinhas, deixaram a mensagem: nós impusemos e exigimos mudanças,
e eles aceitaram. Transmitiram uma ideia de força. Nem certa e nem
errada.
Se a diretoria decidisse pelo confronto
teria muito a perder. Principalmente no Conselho Deliberativo. Há pautas
importantes pendentes (Morro da Viúva, garantias ao Banco Central para
desbloqueio de verba) e os grupos políticos, descontentes com o rumo do
futebol, tenderiam a travar os anseios da situação nas votações.
O
Flamengo até tinha atrativos para o novo comandante: oferecia um
salário alto e visibilidade. Porém, um a um, os pretendidos escaparam da
mira. Tentou-se Tite, a opção mais óbvia, mas ele não aceitou
conversar. Via empresário Léo Rabello, o clube buscou informações
contratuais do argentino Jorge Sampaoli, técnico da seleção chilena. O
papo não evoluiu. Em Santos, comentou-se que Oswaldo de Oliveira também
recebeu uma sondagem. Nada.
A sugestão por Vanderlei,
viva desde a noite de domingo, voltou a ser considerada. O treinador
enfrentou problemas familiares delicados nos últimos meses e aceitou a
oportunidade. Promessa ou não, fugiu da exigência por reforços. Garantiu
aos dirigentes que vai “martelar a construção com os pregos que tem” e
fugirá do rebaixamento com tranquilidade. Nas conversas, demonstrou
profundo conhecimento do elenco atual (“Sabia mais do que Ney Franco”,
pontuou um deles) e elegeu como um dos grandes problemas da campanha
ruim o alto número de jogadores acima de 30 anos escalados no time
titular.
No plano de ação que recebeu dos
dirigentes, o Flamengo terá um orçamento generoso para investir em
reforços na próxima temporada. Vanderlei acreditou e tem convicção de
que o trabalho no Rubro-Negro o alçará de novo à luz potente. Dos
holofotes, não da lanterna.
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