Libertadores, pode estranhar. No entanto, a
aparente falta de poderio é, segundo a diretoria, reflexo da realidade
projetada para 2014. O ano rubro-negro aponta para um paradoxo: enquanto
é previsto um recorde de arrecadação, a temporada será a de maior peso
para o clube no pagamento de impostos atrasados e correntes, além de
acordos cíveis e trabalhistas envolvendo dívidas.
O Flamengo
trabalha com uma projeção de arrecadar mais de R$ 300 milhões em 2014. O
número parece animador, já que representa quase 50% de aumento em
relação a 2013. Mas os impostos e dívidas prometem consumir mais da
metade. O orçamento aponta para o pagamento de cerca de R$ 100 milhões
entre impostos atrasados e correntes. As parcelas das dívidas
tributárias precisam ser pagas para evitar o risco de perda das
Certidões Negativas de Débito. Além disso, são previstos gastos de R$ 56
milhões com acordos em torno de dívidas com prestadores de serviços
ex-funcionários.
Folha do futebol sobe 30%
O
aumento de receita se origina, basicamente, do projeto de Sócio
Torcedor, que pretende arrecadar R$ 40 milhões em 2014, e de projetos de
captação de recursos via incentivos fiscais. Há, ainda, uma cota de
patrocínio para a manga do uniforme que não foi preenchida. Mesmo com o
peso das dívidas, a expectativa é ampliar o orçamento do futebol em
cerca de 30%.
— O que sobra é para pagar a folha salarial de todo o
clube, é muito apertado. O aumento das receitas é substancial, mas o
passado ainda nos condena. Nas minhas contas, o peso deste passado dura
uns seis anos, mas atinge o ápice em 2014 — alerta Rodrigo Tostes,
vice-presidente de finanças do Flamengo. — Em 2015, os acordos de
dívidas que hoje somam R$ 56 milhões diminuem drasticamente e nem vão
existir em 2016, quando já trabalharemos com sobra de caixa.
Diante
do orçamento elevado, mas de uma disponibilidade de dinheiro escassa,
Tostes defende mudanças de processos no clube. Em especial a tomada de
decisões no mercado de jogadores. Segundo ele, um ativo de R$ 300
milhões não pode ser “colocado na mão de uma ou duas pessoas". No caso, o
vice de futebol Wallim Vasconcelos e o diretor executivo, Paulo
Pelaipe.
— É dinheiro demais para que uma só pessoa tome todas as
decisões. Um ou dois caras não podem, sozinhos, decidir pagar R$ 600,
700 mil ou 1 milhão a um jogador. Num clube, para vender uma caneta, uma
lixeira, tem que convocar o Conselho Deliberativo. Mas para pagar R$ 1
milhão a um jogador um só cara pode decidir. Em termos de governança,
está errado — diz Tostes. — Colocar tudo na mão de vice de futebol, do
diretor de futebol, é ruim para o cara. Ele não pode, sozinho, ser
responsável pelo sucesso de um jogador ou o fracasso de outro. É poder
demais.
Tostes explica como imagina que o novo processo de decisões deva funcionar.
—
O futebol identifica as necessidades, as carências. E apresenta uma
lista de nomes no mercado. O jurídico deve ter um modelo de contrato,
que pode ter pequenas alterações negociadas. Junto com o financeiro,
identifica-se a quantidade de recursos, senta-se também com o marketing e
se avalia se receita e despesa estão batendo, se é possível cumprir
aquele contrato — diz Tostes. — É preciso discutir porque pagar 400 e
não 300, o critério, ter discussão e aprovação. O desafio é não perder
agilidade. E o futebol ser avisado pelo financeiro do seguinte: quer
pagar R$ 1 milhão por esse cara, este dinheiro vai sair desta continha
aqui. Se tem R$ 2 milhões disponíveis, vai sobrar só R$ 1 milhão para o
resto das carências do elenco.
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