Em
23 de janeiro de 1947, um clube de Curitiba resolveu parabenizar seu rival pelo
estádio a ser inaugurado naquele dia – o maior e mais moderno da cidade. Ainda
hoje, resiste lá, grudada em uma parede da Vila Capanema, a casa do Paraná, uma
placa simples e respeitosa: “Homenagem do Atlético Paranaense”. Quase sete décadas
depois, é ali, na moradia do vizinho, que o mentor daquela mensagem vive um dos
momentos mais importantes de sua história.
O Durival Britto e Silva, ou Vila Capanema, é o palco de uma decisão nacional justamente no ano em que o país se moderniza com arenas multimilionárias. O estádio foi uma das sedes da Copa do Mundo de 1950 e agora recebe a decisão da Copa do Brasil por causa de outro Mundial em solo brasileiro, o de 2014, que faz a Arena da Baixada, verdadeiro lar do Atlético-PR, passar por reformas. Assim, o campeão será aquele que melhor se sair no somatório de dois jogos realizados em estádios diametralmente opostos: um na velha Vila Capanema, de arquibancadas de cimento e alambrados cobertos por arame farpado, outro no novíssimo Maracanã, sem um lugar sequer órfão de assento – e onde assistir ao jogo em pé é gesto recriminado por funcionários.
O Durival Britto e Silva, ou Vila Capanema, é o palco de uma decisão nacional justamente no ano em que o país se moderniza com arenas multimilionárias. O estádio foi uma das sedes da Copa do Mundo de 1950 e agora recebe a decisão da Copa do Brasil por causa de outro Mundial em solo brasileiro, o de 2014, que faz a Arena da Baixada, verdadeiro lar do Atlético-PR, passar por reformas. Assim, o campeão será aquele que melhor se sair no somatório de dois jogos realizados em estádios diametralmente opostos: um na velha Vila Capanema, de arquibancadas de cimento e alambrados cobertos por arame farpado, outro no novíssimo Maracanã, sem um lugar sequer órfão de assento – e onde assistir ao jogo em pé é gesto recriminado por funcionários.
Vila Capanema, o estádio do primeiro jogo da final da Copa do Brasil (Fotos: Alexandre Alliatti)
A Vila Capanema de hoje
O estádio do Paraná tem os problemas inerentes àqueles que contam décadas de
vida sem passar por uma grande reforma. Não é confortável, tem acessos internos
apertados, apresenta banheiros e bares modestos e conta com poucas dependências
para a imprensa – especialmente num jogo do porte desse Atlético-PR x Flamengo.
Visto de fora, é bonito, com paredes ladrilhadas nas três cores de seu dono –
vermelho, azul e branco. A parte externa de seu muro tem desenhos
personalizados de lances de futebol.
Mas o principal problema não está simplesmente dentro do estádio: está dentro das quatro linhas. O gramado não é bom. Nos dois gols, espaço habitualmente maltratado, foi colocada uma nova placa de grama, e o tom de verde fica diferente em comparação com o restante do campo. As falhas se espalham por outras partes, inclusive laterais. Há desníveis. É possível jogar futebol ali sem maiores dramas, mas as condições não são as ideais, especialmente em uma final.
E justifica-se. O Atlético-PR usou o estádio 15 vezes no Brasileirão e outras quatro na Copa do Brasil. E o Paraná, naturalmente, vem jogando ali pela Série B. Isso sem contar torneios de base, como a Copa do Brasil Sub-17, e o Estadual no primeiro semestre. O gramado não tem tempo para respirar.
Mas o principal problema não está simplesmente dentro do estádio: está dentro das quatro linhas. O gramado não é bom. Nos dois gols, espaço habitualmente maltratado, foi colocada uma nova placa de grama, e o tom de verde fica diferente em comparação com o restante do campo. As falhas se espalham por outras partes, inclusive laterais. Há desníveis. É possível jogar futebol ali sem maiores dramas, mas as condições não são as ideais, especialmente em uma final.
E justifica-se. O Atlético-PR usou o estádio 15 vezes no Brasileirão e outras quatro na Copa do Brasil. E o Paraná, naturalmente, vem jogando ali pela Série B. Isso sem contar torneios de base, como a Copa do Brasil Sub-17, e o Estadual no primeiro semestre. O gramado não tem tempo para respirar.
Vila Capanema tem estrutura antiga, bem diferente das novas arenas brasileiras (Fotos: Alexandre Alliatti)
A Vila Capanema tem efeito caldeirão – tão fundamental para uma torcida vibrante como a do Furacão. O estádio é acanhado, mas há o resquício de uma antiga pista atlética entre as arquibancadas e o gramado, o que diminui a pressão. Apenas uma pequena parte do público fica em cadeiras – geralmente, nos jogos do Paraná, ocupadas por sócios cativos. Elas ficam no lado onde estão instaladas as 12 cabines de imprensa - insuficientes em quantidade e tamanho para o interesse midiático despertado pela final, mesmo com outros espaços improvisados para os jornalistas. Do outro lado, há camarotes distribuídos em três andares. Quatro torres de iluminação, com 25 refletores cada, funcionam em jogos noturnos.
A capacidade, segundo a administração do clube tricolor, é para aproximadamente 18 mil pessoas. Cerca de 16 mil deverão quase lotar o espaço na quarta-feira – 1,7 mil de flamenguistas. A torcida do Atlético-PR, inicialmente, se mostrou pouco simpática à ideia de jogar no estádio do Paraná, mas os bons resultados ali a fizeram mudar de visão. Há quem chame o local, carinhosamente, de Caldeirãozinho.
Porém, ocorrem problemas. Segundo o administrador do estádio, Hélio Hofman, depredações são comuns. Ele conta que um alambrado foi quebrado na única derrota do Atlético-PR ali no Brasileirão – 5 a 3 para o Vitória, em 29 de setembro. E relata que é comum torcedores rubro-negros entupirem os banheiros do estádio, geralmente jogando moedas nos ralos.
Panorâmica da Vila Capanema, que deve receber 16 mil pessoas na quarta-feira (Foto: Alexandre Alliatti)
O estádio é bem localizado, a cerca de dez minutos de carro do centro de Curitiba. Em uma de suas faces, tem casas de madeiras e pátios baldios como vizinhos – e até galinhas passeiam por ali, cacarejando. Da Vila Capanema, é possível ver trens estacionados e uma linha férrea. O Paraná Clube nasceu de uma fusão entre o Pinheiros e o Colorado, que por sua vez foi originado da união entre Ferroviário, Britânia e Palestra Itália. O Ferroviário foi o primeiro dono da Vila Capanema, e a presença dos trens ali não é por acaso.
Exterior, vizinhança e placa de inauguração da Vila Capanema (Foto: Editoria de Arte)
A Vila Capanema de ontem
Quando inaugurado, em 1947, o Durival Britto e Silva era o terceiro maior estádio do país, com capacidade estimada de até 30 mil pessoas, atrás apenas do Pacaembu e de São Januário. Três anos depois, recebeu dois jogos da Copa do Mundo: Espanha 3 x 1 Estados Unidos, em 25 de junho, e Suécia 2 x 2 Paraguai, em 28 de junho. Passados mais oito anos, em 1958, chegou ao estádio o sujeito que viraria a memória viva daquele lugar.
José Santos, conhecido por como seu Zé, colocou os
pés na Vila Capanema em 11 de setembro daquele ano. Foi uma contratação do
Ferroviário, de certo forma. Dirigentes gostaram do trabalho que ele fez
colocando alambrados no campo do Operário de Ponta Grossa e decidiram chamá-lo
para ajudar na instalação das torres de iluminação. Ele era metalúrgico. Tinha 21 anos e pensava
que era apenas um trabalho temporário. Hoje, aos 76 anos, contabiliza cinco
décadas e meia no emprego. Mora perto do estádio, mas considera as salas
internas do Durival Britto sua verdadeira moradia.
Ele tem especial cuidado pelo relógio que enfeita o estádio. É um dos mais antigos da cidade. Seu Zé chegou a desafiar interessados em tirar a peça dali – caso da própria Rede Ferroviária, que não dava jeito de fazer seu relógio funcionar. Disse aos pretendentes:
- Se quiserem, podem levar, mas vão ter que nos dar um placar eletrônico.
Jamais aconteceu, e o relógio segue lá, pontual. É preciso dar corda nele a cada oito dias. Hoje, seu Zé delega a função a outras pessoas e fica irritado quando não a cumprem. Ver os ponteiros acertados é questão de honra para ele.
Com o tempo, seu Zé se acostumou a notar mudanças no público do estádio. Lembra com risos da vez em que um uma mulher bateu com a sombrinha em um homem que usou palavrões contra o árbitro. E se habitua com a presença de outros clubes no lar do Paraná. Vem sendo o caso do Atlético-PR, e será novamente na quarta-feira.
- Estou há muito tempo aqui. Aprendi a gostar muito. E vem tanta gente, de outros times mesmo, que a gente acaba perdendo esse gosto. Trato todo mundo bem, porque a gente precisa tratar os outros como quer ser tratado por eles, não é?
Ele tem especial cuidado pelo relógio que enfeita o estádio. É um dos mais antigos da cidade. Seu Zé chegou a desafiar interessados em tirar a peça dali – caso da própria Rede Ferroviária, que não dava jeito de fazer seu relógio funcionar. Disse aos pretendentes:
- Se quiserem, podem levar, mas vão ter que nos dar um placar eletrônico.
Jamais aconteceu, e o relógio segue lá, pontual. É preciso dar corda nele a cada oito dias. Hoje, seu Zé delega a função a outras pessoas e fica irritado quando não a cumprem. Ver os ponteiros acertados é questão de honra para ele.
Com o tempo, seu Zé se acostumou a notar mudanças no público do estádio. Lembra com risos da vez em que um uma mulher bateu com a sombrinha em um homem que usou palavrões contra o árbitro. E se habitua com a presença de outros clubes no lar do Paraná. Vem sendo o caso do Atlético-PR, e será novamente na quarta-feira.
- Estou há muito tempo aqui. Aprendi a gostar muito. E vem tanta gente, de outros times mesmo, que a gente acaba perdendo esse gosto. Trato todo mundo bem, porque a gente precisa tratar os outros como quer ser tratado por eles, não é?
O relógio sempre pontual da Vila Capanema (Foto: Alexandre Alliatti)
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