O Flamengo divulgou há pouco mais de uma semana os seus balancetes
trimestrais de março e junho de 2013. Porém, se a medida por
transparência teve repercussão positiva, os números, especialmente em
relação ao programa de sócio-torcedor e bilheteria, decepcionaram. Com a
reabertura do Maracanã no Rio e os jogos no Mané Garrincha em Brasília,
a arrecadação com ingressos parece resolvida. De acordo com o diretor
financeiro do clube, em entrevista por e-mail, a previsão é de que o
programa de sócio-torcedor dê retorno entre R$ 9 milhões e R$ 11 milhões
líquidos este ano. Algo bem mais modesto do que a projeção de pelo
menos R$ 140 milhões anuais feita no anúncio oficial do projeto.
Sem esse aporte, Dutra admite: o clube depende agora quase
exclusivamente da receita de bilheteria para fechar o ano cobrindo a
diferença de R$ 40 milhões entre o que o Flamengo tem a receber e a
gastar neste ano. Os rubro-negros ainda correm atrás de patrocínio.
- O buraco era de R$ 124 milhões quando chegamos à Gávea. Reduzimos
para R$ 40 milhões e pretendemos fechar. Precisamos de receitas
adicionais para fechar o ano, como por exemplo bilheteria, novos
patrocínios, visto que ainda tem espaço na manga do time de futebol e no
uniforme do basquete. Também estamos buscando captação para os projetos
incentivados.
Mesmo dois dias após a goleada por 4 a 0 sofrida para o Corinthians,
Dutra deixou claro que a diretoria conta com o time para convencer o
torcedor a ir ao estádio. A classificação para as semifinais da Copa do
Brasil - o Flamengo disputa as quartas contra o Botafogo - é ponto
crucial para as finanças.
- Difícil estimar (a receita total de bilheteria em 2013) porque
depende se vamos jogar em Brasília ou no Rio e depende também de
passarmos de fases na Copa do Brasil. Se jogarmos mais jogos em
Brasília, a receita será maior em função dos menores custos cobrados
para a realização dos jogos. Se decidirmos jogar no Maracanã, a receita
seguramente será menor. O grande problema é que dependemos quase que
exclusivamente das receitas de bilheteria para fechar as contas esse
ano. Precisamos cada vez mais da ajuda da torcida, mas sabemos que o
time vai fazer sua parte para convencer o torcedor a ir ao estádio.
No saldo geral, o balancete mostrou também uma redução do déficit no
exercício em R$ 6 milhões obtido, segundo Dutra, com corte de despesas
não essenciais. Ele afirmou que o Flamengo já reduziu R$ 90 milhões de
sua dívida total (hoje de R$ 650 milhões), sendo R$ 40 milhões em
impostos, além de R$ 7 milhões mensais de tributos correntes e
atrasados. Mas há um item polêmico entre as despesas no balancete, que
especifica gastos de R$ 10 milhões com “intermediação de atletas“.
- Os empresários têm direito a até 10% do valor do contrato dos
atletas. Esse é o mundo do futebol. Foram feitas novas contratações esse
ano, que geraram esse valor além de acordos do passado, que sequer
haviam sido registrados e que foram totalmente renegociados. Por isso
tiveram que entrar nessa linha que eram contabilizados de forma diferida
- explicou Dutra.
Política da nova diretoria, os drásticos cortes nos esportes olímpicos
do clube tiveram reflexo no balancete com uma queda acentuada no item
“ajuda de custo“. Segundo Dutra, o Flamengo planeja mudar essa
realidade em 2014 através das leis de incentivo ao esporte e
patrocínios.
- Trata-se do corte de algumas áreas, mas, principalmente, em esportes
olímpicos e remo, que eram e continuam sendo deficitários porque não
geram receita compatível com as despesas e acabam consumindo a receita
advinda do futebol. Nenhum dos esportes do Flamengo era sustentável
financeiramente, somente o futebol. Vamos mudar essa realidade em 2014
com os projetos incetivados que já aprovamos e com patrocínios para os
esportes olímpicos que estamos muito próximos de conseguir. Temos a
possibilidade de captar mais de R$ 20 milhões em projetos porque hoje o
Flamengo tem suas contas em dia e obteve as CNDs (Certidões Negativas de
Débito). Acredito que, com a proximidade dos Jogos Olímpicos, vamos ter
mais incentivos dos governos e das empresas privadas.
Questionado sobre o aumento nos gastos totais com salários, que
cresceram cerca de R$ 2 milhões, o diretor financeiro justificou:
- Precisa comparar a folha salarial em conjunto com a linha de serviços
profissionais de pessoa jurídica, neste caso já demonstramos uma grande
redução.
Dutra também comentou o crescimento dos gastos com água e esgoto, mais do que o dobro em relação ao mesmo período em 2012.
- Como não se pagava água, não era contabilizado. Um absurdo do ponto
de vista contábil. Tivemos que renegociar a divida da Cedae porque
existiam várias faturas em atraso. Hoje estamos totalmente em dia com a
Cedae.
O diretor financeiro não mostrou preocupação com o impacto das ações judiciais de Alex Silva e Renato Abreu.
- Vamos ganhar as ações e pagar somente o que o Flamengo deve. Acabou a farra. Ninguém mais passa a perna no Flamengo.
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