sexta-feira, 26 de julho de 2013

Livre de todo o mal, Cadu mira o céu no Flamengo: 'Não desaprendi a jogar'

Carlos Eduardo entrevista Flamengo especial (Foto: André Durão / Globoesporte.com) Os anjos e estrelas que contornam os braços servem como proteção. Já as frases ao longo do corpo apontam o caminho por onde Carlos Eduardo já passou e aonde ainda quer chegar. Fascinado por tatuagens, o atacante do Flamengo leva na pele experiências vividas ao longo da vida. Na perna direita, a grave lesão que o afastou por quase dois anos dos gramados deu lugar aos dizeres: "Livrai-me de todo o mal. Amém". Mas é o que está escrito no braço direito que inspira o camisa 20 na tortuosa trajetória até o sucesso no Rubro-Negro: "O céu é o limite", garante em inglês.

Tatuagem de Carlos Eduardo: 'O céu é o limite', em inglês (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

O céu vermelho e preto ainda está distante. Mas, ao menos, sete meses após a chegada, Cadu parece ter conseguido se livrar de quase todo o mal que emperrou seu sucesso na Gávea. A tão falada dificuldade para readaptação ficou no passado, assim como as dores que sentiu em silêncio no joelho operado. O posicionamento em campo também foi corrigido com a chegada de Mano Menezes, e o meia-atacante garante: está preparado para justificar o investimento em sua contratação. As boas exibições contra Vasco e Inter serviram para animar, e o reencontro do Flamengo com o Maracanã é visto como o momento perfeito para conquistar o torcedor.

- Sei que há uma expectativa muito grande em cima de mim. Estrear no Maracanã com um gol com certeza ia fazer a confiança aumentar, a torcida acreditar mais. Sei do meu potencial, isso é o mais importante. Estou preparado para começar a jogar bem. Até porque, nos dois últimos jogos eu acho que já fui melhor.

A frase "sei do meu potencial" foi repetida seguidamente por Cadu em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, em sua casa, na Barra da Tijuca. Consciente de que ainda está devendo, o camisa 20 mantém a tranquilidade e está com o astral elevado desde a chegada de Mano Menezes. Resultado de um sentimento que não fazia parte de sua rotina até pouco tempo: confiança.

- Às vezes, tinha lance que eu pensava, mas não ia. Até por não ter a confiança para isso. E na vida a pessoa confiante faz tudo totalmente diferente. Agora, estou arriscando mais. Antes, eu jogava a bola para o lado, o marcador vinha e eu tocava.

Mosaico Carlos Eduardo (Foto: André Durão / Globoesporte.com) 
Carlos Eduardo em sua casa, e a vida através das tatuagens (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

No bate-papo, Carlos Eduardo não fugiu de assuntos como a vida noturna, o alto salário e a especulação sobre uma devolução ao Rubin Kazan antes do fim do empréstimo, no meio do ano que vem. Reafirmou também o desejo de disputar a Copa de 2014, e avisou aos críticos:

- Não cheguei à Seleção por acaso. Não desaprendi a jogar.

Confira toda a entrevista:
Todas as atenções na semana estão voltadas para o Maracanã. Como você tem lidado com essa expectativa de estrear no estádio? Já dá para imaginar como vai ser, ficar sonhando com a partida?
Nós imaginamos, né? Principalmente eu, que nunca tive a oportunidade de jogar no Maracanã. Quando íamos jogar pelo Grêmio, estávamos na Libertadores (de 2007) e o time reserva que foi escalado. É um sonho. Ainda mais agora com a renovação do estádio. Está lindo, maravilhoso. A expectativa é muito grande.

Vai ser um recomeço da história do Flamengo no Maracanã. Você acha que também pode começar a escrever uma nova história a partir deste jogo?
Com certeza. É um jogo muito importante. O estádio vai estar lotado. Sei que há uma expectativa muito grande em cima de mim. Estrear no Maracanã com um gol com certeza ia fazer a confiança aumentar, a torcida acreditar mais. Sei do meu potencial, isso é o mais importante. Estou preparado para começar a jogar bem. Até porque, nos dois últimos jogos eu acho que já fui bem. Então, com certeza vou dar o máximo para que o Flamengo consiga essa vitória.

Quando se fala de Maracanã, o que vem a sua cabeça? Algum gol ou jogo? Algo que te marcou?
Penso logo em Maracanã lotado, né? Torcida do Flamengo gritando. Sempre acompanhei e sei que essa Nação é muito grande, louca de paixão. O que me vem a mente é isso.

Você está há cerca de sete meses no Flamengo e muito foi falado sobre o seu desempenho. Gostaria que você mesmo fizesse uma avaliação de tudo que já viveu no clube.
Foram sete meses bastante difíceis. Ouvi coisas que falaram e nunca aconteceram. Mas é o que eu sempre disse: sou um cara muito tranquilo e continuei trabalhando. O professor Mano chegou, me deu total confiança e estou crescendo, cada dia mais. Acho que daqui para frente as coisas vão melhorar, se Deus quiser. Sei do meu potencial, estou trabalhando para isso... Então, para muitas críticas eu não dei bola. Isso faz parte do futebol. Quem entra nesse meio sabe que a pressão é muito grande e eu já passei por pressão desde criança. Saí muito cedo de casa, com 13 anos, e estou acostumado. Mas também entendo a cobrança, a crítica. Até porque, vim como uma contratação muito grande do Flamengo. Sigo trabalhando para que as coisas melhorem cada dia mais.

Falando do campo e bola mesmo, o que estava acontecendo? Você pensava e não conseguia executar. Isso dava uma aflição?
Eu vim de uma lesão muito grave, né? Fiquei quase dois anos parado, foi bem complicado, e para voltar a confiança é muito difícil. Às vezes, tinha lance que eu pensava, mas não ia. Até por não ter a confiança para isso. E na vida a pessoa confiante faz tudo totalmente diferente. Você dá na orelha da bola e vai certo. Naquele começo, estava sem confiança, com um pouco de medo também, não estava bem fisicamente, e as coisas não estavam andando.

Hoje, em vez de um passe para o lado, você já tenta um drible?
Estou arriscando mais. Antes, eu jogava a bola para o lado, o marcador vinha e eu tocava. Agora, estou arriscando muito. O professor me deu total confiança, conversou comigo, me conhece muito bem, falou que ia recuperar meu futebol e sabe o que posso dar para o Flamengo. Isso está ajudando bastante.

Nós usamos sempre como referência o melhor exemplo, e você teve sua melhor fase no Grêmio. Você acha que já está mais próximo de ser aquele jogador que decidia os jogos?
Como eu falei, estou trabalhando que seguir crescendo cada dia mais. Sei do meu potencial, da capacidade que tenho. Até porque, não cheguei à Seleção por acaso. Não desaprendi a jogar. Então, acho que falta muito pouco para render o que rendi no Grêmio e no Hoffenhein. Até mesmo no Rubin Kazan, em que fui muito bem nos primeiros jogos. Falta muito pouco.

Aquela história de readaptação já passou?
Agora, sim. Já estou muito bem adaptado. Passou essa fase. Agora, o negócio é trabalhar, ouvir as pessoas que gostam de mim e me passam confiança. Não é momento de conversar. O momento é de trabalhar para as coisas evoluírem.

Queria que você explicasse um pouco a questão do seu posicionamento. Quando o Mano chegou, vocês disseram que jogaria como atacante, mas em determinados momentos você está atrás até mesmo do Elias em campo...
Depende do jogo, né? Meu posicionamento no Grêmio era como segundo atacante aberto. Já na Alemanha, joguei pelo lado, cortando para dentro até para chutar. No Rubin também, mas em muitos jogos atuei até como volante no Hoffenhein e fui bem, tenho um bom passe. Eu prefiro jogar solto, como agora, com liberdade. Claro que com compromisso. Solto, mas com compromisso de encostar no volante, ajudar a marcar.

Muito foi falado das suas lesões. Nesses sete meses, ainda ficou alguma trauma, alguma dor?
Logo que eu cheguei, senti um pouco de dor. Fiquei uns dois meses sentindo e até comentei com amigos mais próximos: “Poxa, será que vai voltar? Será que essa dorzinha não vai sair e meu joelho não curou?”. Fiquei até atucanado, preocupado com isso. Nem com meus pais eu comentei. Isso é normal. Agora, a dor passou. Era certo vir uma lesãozinha, um desconforto no músculo... Foi muito tempo parado. É normal uma dorzinha aqui ou ali. Até o Sobis conversou com o Jorge Machado, meu empresário, que isso iria acontecer. Mas estou bem, graças a Deus.

Você chegou como camisa 10 e agora este número é do Gabriel. Foi algo que mexeu com você?
Isso não mexe comigo. Para mim, o importante é jogar, estar em campo. Não importa a camisa. O que vale é entrar em campo, mostrar seu futebol. Claro que a 10 todo mundo quer vestir, mas não dou bola para isso. No Hoffenhein, vesti a 33 por quase dois anos e só depois a 10. Na Rússia, vesti 87, que é meu ano de nascimento. E estou gostando da 20, está sendo legal.

Algumas polêmicas envolveram seu nome neste período no Rio. Falam, por exemplo, que você se deslumbrou com a cidade, praia, noite. Isso existiu?
Durante sete meses, eu saí duas vezes aqui. Teve gente que falou que eu fui ao Barra Music. Nunca fui lá. Mas eu fico tranquilo. Sei que não sou assim, as pessoas que vivem do meu lado sabem disso. Como eu falei, só saí duas vezes no Rio. Talvez nessas vezes muita gente tenha visto e isso tenha gerado uma crítica gigante.

E a possibilidade de te devolver ao Rubin Kazan? Chegou algo a você? Você temeu por isso em algum momento?
Não. Até porque, contrato é contrato. Claro que se o Flamengo não estiver interessado, o legal é chegar em mim. Não quero que falem com tal, tal e tal. Chega em mim. Sou homem suficiente para conversar e fazer um acordo, já passei por momentos difíceis na vida e tenho contrato na Rússia. Não vou ficar desempregado.  Mas, nunca me abalei com isso. Até porque foi algo que nunca chegou até mim.

Muita gente associa o seu rendimento ao salário. Falam que é gasto um valor com você, e o rendimento em campo não é equivalente. Isso te chateia?
Falam que eu ganho tanto, mas nem sabem se é o valor mesmo que eu ganho. E nem é. Quero ganhar isso, então, que falam no jornal. Luvas e sei lá o quê. Nem pedi luvas para o Flamengo. A cobrança em mim vai ser grande, até por ter vindo com um salário alto, mas não é algo que me chateia. Sei do meu potencial, do que posso render, e cobrança vai existir sempre.

Carlos Eduardo entrevista Flamengo especial (Foto: André Durão / Globoesporte.com) 
Retorno à seleção brasileira é um dos objetivos de Carlos Eduardo (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

Está faltando menos de um ano para Copa do Mundo, e quando você voltou para o Brasil este era um objetivo. É algo que segue na sua cabeça ou há outros passos mais importantes no momento?
Há etapas a percorrer. Há jogadores na minha frente que foram muito bem, mas há outras etapas. Preciso começar a render. Dá tempo ainda, claro, mas é muito difícil. O grupo está muito bem, vimos na Copa das Confederações, mas o jogador tem que ter objetivo na vida. Cada dia que passa tem que ser um prato de comida para alcançarmos os objetivos.

Você tem bastante tatuagem. Quais os significados?
Tenho bastante, alguns anjos... Fiz tatuagem na Alemanha, na Rússia, em todo lugar que fui (risos). Há um terço aqui no braço também, a frase “O céu é o limite” em inglês... Comecei na Alemanha e parece que depois que faz uma, cada vez quer fazer mais. E não vai parar por aí. Por mim, fechava os dois braços, mas a dor é muito grande. Na perna, está escrito “Livrai-me de todo o mal”.

Se você fez em todos os lugares que passou, tem que fazer uma tatuagem no Rio também. Já pensou em algo para marcar a passagem pelo Flamengo?
Estou pensando já, mas a dor é muito grande (risos).

Que recado você deixaria para o torcedor?
Penso, sonho e trabalho para vencer no Flamengo. Para ser um jogador que passou e deu muitas alegrias. Esse é meu pensamento.

E o gol, sai quando?
Já estou merecendo, né? Contra o vasco, quase saiu, mas tenho que ter tranquilidade. Vai acontecer na hora certa, a confiança vai aumentar e vou começar a estourar.


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