Silêncio, surpresa e paciência. Com essa mistura de sentimentos, Ibson,
praticamente descartado por Jorginho, encara seu pior momento com a
camisa do Flamengo. Cria do clube e acostumado a ser tratado com status
de ídolo, o volante vem sendo deixado de lado por comissão técnica e
diretoria rubro-negras nas últimas semanas e ainda busca respostas para a
situação. O abatimento, por outro lado, não tem feito com que esmoreça
nos treinamentos e, mesmo longe de Pinheiral, onde a equipe se
concentrou para a partida contra o Remo, nesta quarta (vitória
rubro-negra por 3 a 0, pela Copa do Brasil), ele chamou a atenção em
treinamentos físicos.
Relegado por Jorginho da lista de relacionados para o clássico com o
Fluminense e o confronto com os paraenses, Ibson compareceu ao Ninho do
Urubu diariamente. A dedicação na programação destinada a ele tem sido
elogiada internamente por profissionais da comissão técnica que
permaneceram no Rio de Janeiro, em situação que vai de encontro a
questionamentos de figuras importantes da diretoria. Nos bastidores,
membros da cúpula rubro-negra colocam em dúvida o empenho do volante,
enquanto não escondem a irritação com sua resistência em diminuir o
salário.
Se no começo do ano, ao marcar um gol no empate por 1 a 1 com o
Madureira, na Taça GB, o jogador desabafou e disse que “coisas
desagradáveis” vinham acontecendo a seu respeito, desta vez a postura é
diferente. Ibson prefere o silêncio e busca apoio na companhia de
familiares, como o pai, Laís Silva, antigo olheiro do Flamengo. Recluso,
encara com estranheza toda exposição de seu caso.
Reuniões para uma renegociação do contrato não existem mais. Diante da
postura irredutível de Ibson, um processo de fritura teve início. Além
de não ser mais relacionado por Jorginho – foi apenas três vezes,
entrando nos minutos finais em duas -, o volante tem seu salário
revelado em conversas de bastidores ao lado de acusações de falta de
comprometimento. Há quem encare como arrogância a posição de “vale o que
está escrito” do atleta e seu empresário.
Divergências nos valores apresentados também cercam o caso. O clube
aponta Ibson como um jogador “excessivamente caro” e com custo de mais
de R$ 600 mil mensais e R$ 18 milhões até o fim do contrato, em dezembro
de 2015. O GLOBOESPORTE.COM apurou, no entanto, que os vencimentos, que
são progressivos até o fim do vínculo, alcançam a casa dos R$ 450 mil
atualmente, abaixo, por exemplo, do que ganha Carlos Eduardo.
Outros valores também fazem parte da conturbada relação entre jogador e
clube. O Flamengo deve a Ibson R$ 1.150 milhão referentes a direitos de
imagem: R$ 750 mil referentes a 2012 e R$ 400 mil da gestão atual. O
somatório desses montantes com a exposição negativa do volante na mídia,
diante de declarações inclusive de problema técnicos, dificultam
exatamente a solução desejada pelo Rubro-Negro: uma negociação.
Indícios dão conta, inclusive, de que essa é uma decisão que extrapola
os limites do departamento do futebol. Na semana passada, o diretor de
futebol, Paulo Pelaipe, chegou a ligar para o empresário Eduardo Uram
para garantir que Ibson seguia nos planos. Sete dias depois, Jorginho
foi claro ao falar sobre os planos, ou a ausência deles, para o volante:
- Tecnicamente, realmente é muito difícil a permanência. Porque é um
atleta que joga numa posição em que eu tenho um atleta, não digo
parecido, mas que é o Elias, que eu não gostaria de ter o mesmo jogador
desse mesmo nível. E ao mesmo tempo, conjuntamente, é um jogador
extremamente caro (R$ 450 mil mensais). Isso aí passado pela direção.
Mas é uma coisa para a gente estar jogando um pouco mais para frente,
mas com certeza, da minha parte, tecnicamente, por aquilo que eu
pretendo montar, é bem difícil.
Inter e Bahia já foram especulados como possíveis destinos, mas nenhuma
proposta oficial foi apresentada. Diante dos valores, sabe-se, que uma
saída praticamente depende de um acerto para que o próprio Fla siga
pagando parte dos salários. Ibson, por sua vez, já reiterou, mesmo após
os fatos recentes, o desejo de cumprir seu contrato. Revelado em 2004, o
volante está em sua terceira passagem pela Gávea, após ser comprado ao
Santos, em 2012. Ao todo, ele tem 232 partidas com a camisa rubro-negra,
com 35 gols e 22 assistências, além de ser tricampeão carioca (2004,
2008 e 2009) e de ter participado de parte da campanha da conquista do
Brasileirão de 2009.
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