A camisa 10 do Flamengo saiu do armário em 2013, mas continua sem dono.
O número eternizado por Zico no clube ficou oito meses esquecido. De 26
de maio do ano passado, quando Ronaldinho Gaúcho fez sua última partida
pelo Rubro-Negro, até 19 de janeiro desse ano, dia em que Nixon teve a
chance de carregá-lo, ninguém usou. Depois do atacante de 20 anos, mais
três jogadores do atual elenco foram escolhidos para jogar com a 10: Carlos Eduardo, Rodolfo e Gabriel. A peça mais valiosa do clube, no entanto, ainda não encontrou seu porto seguro.
Apresentado para ser o craque do time, Carlos Eduardo foi contratado
para vestir o número que o Galinho de Quintino consagrou. Na chegada, se
disse pronto para a missão, mas ainda não conseguiu corresponder. O
meia-atacante jogou sete partidas, não marcou gols e ainda sofreu uma
lesão muscular que o afastou do time nos três últimos jogos. Sempre que
esteve em campo, Cadu foi discreto e nem se aproximou do papel de
protagonista do time.
- Desde o começo tratei como uma honra vestir a 10 do Zico. Assim como
Ronaldinho Gaúcho e Adriano, que passaram por aqui. Sei da
responsabilidade, sou dedicado, vou ajudar a equipe – afirmou Carlos
Eduardo em sua apresentação, dia 25 de janeiro.
Nixon, Carlos Eduardo, Rodolfo e Gabriel, os que usaram a 10 do Fla em 2013 (Foto: Divulgação)
O técnico Jorginho mantém a confiança no jogador, que classifica como
extraordinário. Nas entrevistas, o comandante costuma lembrar o tempo
que Carlos Eduardo ficou inativo por conta de uma grave lesão no joelho.
Foram praticamente dois anos sem jogar até o retorno ao Brasil.
- É um camisa 10 clássico, são muitos poucos que temos no futebol brasileiro. Vamos recuperá-lo – disse o técnico.
O diretor de futebol Paulo Pelaipe faz coro para defender Carlos Eduardo.
- É um jogador que passou um ano sem jogar, precisa ter ritmo de jogo.
Vocês (imprensa) acharam que era o Zico. Não é o Zico. Zico só tem um.
Ele é o Carlos Eduardo. Assim como Pelé só tem um. O Neymar não é o
Pelé. É o Neymar. O Pato é o Pato. Tem que dar tempo ao tempo – afirmou .
Substituto imediato de Cadu em algumas partidas, Rodolfo usou o número
depois de ganhar a posição, mas não manteve o bom nível e acabou sendo
preterido. Contra o Macaé, quando os reservas foram escalados, ficou com
a 10 outra vez. Na partida, teve um início muito bom, com dribles,
passes e tabelas com a dupla de ataque formada por Nixon e Hernane. No
segundo tempo, no entanto, não se destacou tanto. Tem sido assim neste
início de temporada.
Gabriel é o 10 da vez. O bom futebol apresentado no Fla-Flu e no jogo
contra o Remo (usou a 208 numa ação de um patrocinador), pela Copa do
Brasil, empolgaram Jorginho. Hoje, o meia-atacante é titular absoluto.
Na vitória por 3 a 1 sobre o Fluminense, Gabriel carregou o número e
brilhou, segundo ele, com boas vibrações de Zico.
- Complicado, viu? Quando peguei a camisa, falei: rapaz, a 10 do
Galinho é complicada (risos). Mas quando entra no campo, você esquece
isso e leva para o lado bom. Ele (Zico) me ajudou nessa hora - disse o
jogador, que vinha usando o número 7.
Gabriel jogou o Fla-Flu gripado e só conseguiu ir até os 16 minutos do
segundo tempo. Ganhou pontos com Jorginho. Apesar de ter marcado apenas
um gol, tem sido o principal responsável pelas jogadas ofensivas.
Resultado de uma postura imune a efeitos de erros ou acertos.
- O Gabriel tem muitas qualidades, a maior dele é que é corajoso. Ele
se coloca à disposição, é aquele cara que está sempre disponível,
querendo ajudar. Isso é muito bom, ter essa personalidade forte. Enxerga
o que acontece taticamente. Tem velocidade, se movimenta bem, tem
técnica muito boa. Vai crescer. Fico feliz de ele estar se firmando como
titular comigo. É um jogador importantíssimo para a nossa equipe –
comentou o treinador.
Apesar de Carlos Eduardo ter sido apresentado como o novo dono da 10, o
Flamengo decidiu não adotar numeração fixa no estadual e nas fases
iniciais da Copa do Brasil, algo que poderá ocorrer a partir da disputa
do Brasileirão, em 26 de maio, na estreia contra o Santos, em Brasília. O
contrato com a Adidas, nova fornecedora de material esportivo, começará
a vigorar no próximo mês.
Hoje, a única camisa que é vendida com número pela Olympikus é a 10.
Segundo dados da empresa, é natural que a procura aumente e as vendas
cresçam quando a numeração é utilizada por um grande jogador. Ainda
assim, a venda da atual fornecedora de material do clube se sustenta
principalmente por conta de Zico. Diante de um presente apagado e de um
futuro incerto, o passado ainda mantém a mística livre das traças.
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