Até outro dia, as palavras dirigidas a Marquinhos não eram lá de muito
apoio. Era o recurso utilizado pela arquibancada para tentar conter o
ímpeto daquele jogador do Pinheiros, que teimava em encontrar espaços na
defesa do Flamengo. Nesta temporada, o "inimigo" virou aliado. Foi
contratado para dividir com Marcelinho Machado a responsabilidade de ser
o homem procurado pelos companheiros, o finalizador da equipe. Mas com a
lesão no joelho, que tirou o capitão de cena, Marquinhos passou a
carregar sobre os ombros o peso de ser essa referência, principalmente
aos olhos da torcida. E vem dando conta do recado. É o cestinha do time,
com média de 21.9 pontos por jogo e o segundo maior pontuador do NBB:
tem 175 pontos contra 198 de Paulinho Boracini, armador do Pinheiros,
que tem uma partida a mais.
Marquinhos parte para a cesta na partida contra o Brasília (Foto: Fernando Azevedo / FlaImagem)
A boa fase é sentida em qualquer lugar que vá. Acha graça ao ser
reconhecido pelas ruas, abordado por frentistas no posto de gasolina ou
por um outro anônimo num elevador, que pede uma camisa, demonstra apoio e
cobra mais cestas, claro.
- Eu tento não levar essa pressão de ter de ser esse cara para a
quadra. Entro e concentro em fazer o meu jogo. Logo quando a equipe foi
montada, o Neto tentou tirar esse lado de que era time de um jogador.
Nosso basquete é solidário. A parte mais triste foi perder o Marcelinho.
A ideia era fazer dupla com ele e acabou que acabou mudando o jeito de o
time jogar. Graças a Deus o grupo está fechado. Tinha gente que achava
que ia ter briga por causa de egos dos jogadores e estamos mostrando que
não tem isso. O fato de eu ser o cestinha é uma consequência do
trabalho e do elenco forte que temos - disse.
Aos 28 anos, pai de duas filhas, Marquinhos está de bem com a vida.
Fala com orgulho da participação nas Olimpíadas de Londres. Lembra com
sorriso no rosto da conquista da vaga olímpica na Copa América de Mar
del Plata de 2011, que pôs fim a um jejum de 15 anos da seleção
masculina nos Jogos. Diz que as duas últimas temporadas fizeram
amadurecer seu jogo. A campanha londrina o faz ter a certeza de que o
Brasil está no caminho certo para voltar a figurar no pódio das
principais competições internacionais.
- Sou um jogador bem mais experiente, concentrado, focado nas duas partes da quadra. Hoje sou um jogador mais completo.
Poder treinar ao lado de alguns companheiros de seleção na Gávea, sob o
comando do assistente de Rubén Magnano, é um ponto favorável. O estilo
de jogo adotado por José Neto no Rubro-Negro é baseado no conceito de
ataque organizado e defesa forte, e na proposta de trabalho implantada
pelo treinador argentino.
- É muito semelhante. Neto coloca coisas dele, mas uns 60%, 70% é
parecido. E acho isso bom porque facilita quando for jogar na seleção de
novo.
Por enquanto, a cabeça está no NBB e na Liga das Américas. No torneio
nacional, o Flamengo ainda não sabe o que é perder. Venceu seus oito
jogos e está a um triunfo de roubar do Brasília o recorde de vitórias
seguidas no início da temporada. A marca poderá ser batida contra o
Joinville, na quinta-feira, no ginásio do Tijuca. Já a partir do dia 8
de fevereiro, em Barquisimeto, na Venezuela, a equipe iniciará a briga
por um título internacional.
Ficou perto na Liga Sul-Americana, perdendo
o troféu no saldo de cestas. Não quer deixar a chance escapar novamente
na Liga das Américas.
Apesar dos dois meses de salários atrasados e de não contar com
Marcelinho Machado, o grupo vem driblando os obstáculos e mostrando
força. Deu liga. Para Marquinhos, a qualidade dos jogadores, desde os
que jogam menos tempo aos que ficam em quadra por mais, tem sido um dos
fatores para o bom momento. O empenho defensivo e para colocar em
prática tudo o que o treinador tem pedido, também.
- Isso tem feito a diferença. A torcida nos empurrando é outra coisa
que ajuda. Em dezembro tivemos um número grande de jogos e na hora que
estávamos ficando cansados, a arquibancanda nos empurrava e isso dava
mais fôlego. Foi assim no jogo contra o Mogi. Eu estou curtindo isso. É
muito mais fácil jogar com a torcida do Flamengo a favor (risos). Sou
são-paulino de coração, mas minha esposa é carioca, flamenguista, e eu
sempre achei bonito o hino. Então, recentemente, comprei um reloginho lá
para casa que, a cada hora, toca o hino. Todo mundo diz que é diferente
jogar aqui. Estou curtindo - garante o cestinha, que na última passagem
pelo basquete do Rio defendeu o Vasco, em 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário