Dos grandes times cariocas, o Flamengo é o único que realiza toda a
pré-temporada em casa, mesmo que ela ainda esteja em construção. Em
2013, a diretoria mudou, os muros do Ninho do Urubu cercam o time, e os
primeiros dias de treinamentos só lembram os do ano passado pela
ausência de reforços e pagamentos pendentes. O ambiente atual, porém, é
de paciência e mais calmaria. Em 2012, em Londrina, no Paraná, e em
Sucre, na Bolívia, com Vanderlei Luxemburgo de treinador e o clube comandado por Patricia Amorim, o clima era de apreensão, guerra fria entre o técnico e Ronaldinho Gaúcho,
jogadores ressabiados fazendo voto de silêncio e o racha entre comissão
técnica e diretoria, especialmente com o ex-vice de finanças Michel
Levy.
Jogadores do Fla na pré-temporada 2013: até o momento, tudo calmo (Foto: Alexandre Vidal / Flaimagem)
Na pré-temporada há um ano, o time foi para um hotel na cidade do
interior paranaense e treinava nos campos do Londrina, clube do
empresário Sergio Malucelli, amigo de Luxa. Até então, o único reforço
era o lateral-esquerdo Magal. Pouco depois, chegou o atacante Itamar, e a dupla contratação mereceu até paródia de uma famosa música de Sidney Magal.
Durante os dias de preparação, alguns jogadores – como Ronaldinho Gaúcho, Alex Silva e Deivid – viviam com atraso de pagamentos. Alguns reclamaram, o vice de finanças Levy tentou negar a crise e detonou a bomba ao dizer que as reclamações partiam de “um ou dois marqueteiros fazendo barulho”.
No dia seguinte, os jogadores – grande parte ainda integra o elenco atual – se recusaram a dar entrevistas. Luxa saiu em defesa do grupo e atacou Levy.
O caldo quente entornou de vez quando Vanderlei deu de cara com Ronaldinho Gaúcho em
atitude e horário suspeitos no hotel que servia de concentração para o
Rubro-Negro. Descobriu que o jogador passara a noite em um quarto
acompanhado de uma mulher e pediu a diretoria que tomasse uma medida
enérgica. Mas o ex-camisa 10 foi apenas advertido.
O ambiente interno era de tensão. Para piorar, o diretor da época, Luiz
Augusto Velloso, e o gerente Isaías Tinoco mal se falavam.
Em 15 de janeiro, horas antes de o Flamengo enfrentar o Corinthians em
um amistoso em Londrina, Ronaldinho demorou mais do que o normal para
descer do ônibus. Na chegada ao Estádio do Café, o camisa 10 falava ao
telefone com a presidente Patricia Amorim. As pendências financeiras e a
crise com Luxemburgo eram o tema da conversa. Do outro lado da linha,
Patricia prometera que Luxa não teria vida longa no cargo.
De Londrina para a Bolívia, o Flamengo não deixou os problemas pelo
caminho. Alex Silva, sim. Insatisfeito com o atraso no pagamento de
luvas, o zagueiro decidiu abandonar a concentração no dia da viagem a
Sucre.
- O que me motivou foi a nova administração, com os profissionais que
estão aqui no Flamengo. Tive uma conversa com todos eles, que
demonstraram que desejam voltar a fazer do Flamengo um clube grande. Até
porque, dos clubes que eu vim, as coisas eram corretas, eram
verdadeiras e me acostumei com isso. Aqui, na outra passagem, eu não
encontrei isso - afirmou Alex Silva, na segunda-feira.
Já desafetos, Luxa e Ronaldinho posam sorridentes na Bolívia em 2012 (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
A preparação do Flamengo para o primeiro jogo da pré-Libertadores
contra o Real Potosí foi tranquila. Vanderlei Luxemburgo passou a evitar
comentar o risco de demissão e os problemas com Ronaldinho e dedicou-se
intensamente ao trabalho para a jogo a quatro mil metros de altitude.
Durante a passagem pela Bolívia, uma foto foi arquitetada para tentar
diminuir o peso da guerra entre o craque e o técnico. Luxa e R10 posaram
para o fotógrafo do clube sorridentes e abraçados na concentração. Dias
depois, em 2 de fevereiro, Luxa foi demitido e o começo de ano
turbulento teve consequências durante toda a temporada.
Em 2013, calmaria e paciência. Por enquanto
A decisão de fazer a pré-temporada de 2013 no Ninho do Urubu foi de
Dorival Júnior e de Zinho, diretor de futebol até o fim do mês passado. A
chegada de Paulo Pelaipe e da nova diretoria não alterou o
planejamento, já que o treinador foi mantido no cargo. Na reapresentação
do grupo, na quinta-feira passada, uma reunião com os novos dirigentes
abordou as pendências financeiras com os atletas. Ficou a promessa da
direção: o acerto das contas é prioridade, até mais do que reforçar o
time.
Nas entrevistas, jogadores como Renato, Léo Moura, Felipe e Ibson
demonstram tranquilidade. O discurso é de confiança na nova gestão para
que os problemas sejam resolvidos. O grupo, pelo menos por enquanto,
foge de polêmicas.
- O primeiro contato foi bastante válido, a impressão foi boa. Que eles
possam cumprir o que prometerem. Estamos iniciando o ano, está tudo
muito calmo, muito morno. Temos que trabalhar e fazer uma boa
pré-temporada para que tudo possa correr tudo bem – disse o volante
Ibson.
Fora de campo, a diretoria tenta a contratação de dois ou três reforços para a disputa do Campeonato Carioca.
Pelaipe, Bandeira de Mello e Wallim falam com o grupo e pedem paciência com atrasos salariais (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
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