Presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista, 50 anos, está acostumado a
lidar com frieza no mundo dos negócios. Mas, quando se trata de
Flamengo, o clima esquenta. A paixão - misturada aos últimos anos de
decepção - fez com que ele organizasse o grupo que saiu vitorioso nas
eleições do dia 3 de dezembro, com o presidente Eduardo Bandeira de
Mello. Mais do que vice de planejamento e marketing da nova gestão, Bap,
como é conhecido, será o principal pilar na tentativa de reestruturação
do clube. Credibilidade, trabalho, organização e profissionalização do
futebol, aproximação e ajuda do torcedor. Essas são diretrizes para que
um dia a fábula do “baixinho, careca e barrigudo que paquerou a Gisele
Bündchen” termine com final feliz.
- Quando você tem a sorte de ter o sucesso que eu alcancei, você se
distancia de coisas básicas na vida. Muita gente me dizia: “Pô, você é
um cara de sucesso, por que não tira essa coisa de Flamengo da cabeça?”.
As pessoas falavam de Flamengo como se fosse cocaína, crack, álcool,
como se fosse um vício. Eu acho que há coisas que te destroem, e há
coisas que te fazem mais forte. A paixão que sinto pelo Flamengo é mais
forte do que isso, e nunca me fez mal. Sempre me fez mal, ainda mais nos
últimos anos, foi o fato de ver que o Flamengo era maltratado. Sei que
ganhar ou perder é da vida. Você não pode ganhar tudo. Mas a forma como
perde fala muito de você. Acho que a forma como o Flamengo vem perdendo
nos últimos anos, onde já espera perder, toma uns sacodes como foi com a
La U (4 a 0 pela Sul-Americana, em 2011), dentro do Engenhão. Isso não é
aceitável. Tem que ter vergonha na cara para tudo que vai fazer na
vida. Então, decidi me envolver com isso – disse Luiz Eduardo Baptista.
Apaixonado
pelo Flamengo, Luiz Eduardo Baptista foi o principal articulador da
Chapa Azul e é o pilar na tentativa de reconstrução do clube (Foto:
Janir Júnior/Globoesporte.com)
No primeiro momento de envolvimento a sério com o clube, Bap acreditou
que era possível mudar. E cita como exemplo o caso de um humilde
segurança de São Paulo que, mesmo com salário reduzido, estendeu a mão
para o Flamengo. Ao lembrar da história, ele chora.
- O que percebi: um mundo de gente, uma maioria silenciosa saindo dos
buracos. Estava com um ex-jogador de futebol na minha casa em São Paulo.
Um segurança da minha rua reconheceu o jogador. Quando o cara foi
embora, ele disse: “seu Bap, posso falar com o senhor? Você que está
envolvido com essa história do Flamengo...” Isso em São Paulo, hein. “O
senhor assumindo lá, vê se salva o nosso Mengão. Eu vou botar 10 real
por mês lá.” Você escuta um negócio desses... Esses R$ 10 para esse
cara, quanto vale isso? Você dá dinheiro para quem não acredita ou para
quem é bandido? Não. O maior desafio da gente é a credibilidade. Essa
história foi muito emblemática. E, para mim, foi como um despertador,
uma responsabilidade enorme. O cara está dizendo: “Eu boto dinheiro em
vocês. Não boto no Flamengo, mas boto em vocês, sei que são do bem".
Isso coloca tua responsabilidade num nível diferente. Estou com 50 anos,
trabalhando 20 horas por dia e me sentindo como se tivesse 18, porque
estou dando vez à minha paixão. A gente vai trilhar esse caminho, vai
materializar tudo pelo Flamengo, nada do Flamengo. Vamos transformar
esse lema em atitude – destacou.
Para ter credibilidade, Bap recrutou nomes como Carlos Langoni,
ex-Banco Central, que ficará responsável pelo Comitê de Finanças e
Reestruturação da Dívida, Rodolfo Landim (vice de patrimônio), Wallim
Vasconcellos (vice de futebol), entre outros. Ele explica a ideologia
por trás da montagem do grupo que formou a vencedora Chapa Azul:
- O que aconteceu no grupo foi que as pessoas tinham receio do nível de
comprometimento que teriam. Eles têm outros compromissos. Quando
expliquei ao Langoni como ia funcionar, ele foi o primeiro a dizer que
ia contribuir. Uma coisa legal no nosso grupo é o que eu digo: o
combinado não é caro. O Flamengo precisa muito de ajuda. Qual ajuda você
pode dar? R$ 1? Muito obrigado. Qual ajuda você pode dar? Ligar para o
Paulo Pelaipe (diretor executivo) e me apresentar a ele? Muito obrigado.
Conseguir dois militantes para trabalhar na causa? Muito obrigado. Quer
dar R$ 100 mil para a campanha? Obrigado. A gente nunca qualificou as
contribuições. Qualquer contribuição é muito bem-vinda. Um ponto
importante: perceber a seriedade das pessoas. Apesar da paixão, ninguém
queria dar o passo maior do que a perna, até para não quebrar o cristal
da cumplicidade e confiança que existe no grupo.
O atual panorama do Flamengo deixou a situação feia. Mas ainda com
direito a sonhos de grandes conquistas, e, quem sabe, um Natal bacana
como num conto da Bela e a Fera.
- No primeiro momento, é muito trabalho para tentar entender o que está
acontecendo. Do meu ponto de vista, a transição está sendo
surpreendentemente tranquila, mas ainda tem muita coisa para a gente
tomar pé. Sou eterno otimista: eu miro na Lua, pois, se errar, eu acabo
no meio das estrelas. Eu penso alto, temos que ser agressivos, mas não
irresponsáveis. Há apostas que você faz que podem dar ou não retorno. Da
situação que o Flamengo vem, eu me sinto assim: um gordinho, baixinho,
meio careca cantando a Gisele Bündchen. Ela olhou para mim e sorriu. Não
sei se ela está me sacaneando ou dando mole. Se estiver dando mole,
quem sabe o Flamengo tenha um Natal bacana – disse.
O dirigente cita outros clubes que estão à frente do Flamengo na
projeção para 2013. E, para provar a falta de credibilidade do clube na
atualidade, Bap lembra o caso do zagueiro Juan, que durante a atual
temporada voltou da Itália, chegou a negociar seu retorno para o
Flamengo, mas acertou com o Internacional.
- Eu reconheço que a gente tem que fazer esforço, mas não é fácil. É
muito mais fácil para um time como o Fluminense, que foi campeão, um
time como o Inter, que tem tradição de cumprir os seus compromissos,
como o Grêmio, o Atlético-MG, conseguirem alguns jogadores. Exemplo foi o
que aconteceu recentemente. O Juan foi cria da Gávea e preferiu jogar
no Inter. Isso sangra na alma, mas, se olhar pelo lado racional e
profissional, o que você diria para um irmão seu? Eu diria para jogar no
certo. Agora, temos que contar com nossa lábia, conseguir encantar a
moça, e a moça pode gostar da gente, dar um sorriso, ir embora e não dar
em nada, mas a gente tem que começar o processo. A gente ganhou a
eleição numa segunda-feira, à meia-noite. Em pouco tempo, fizemos uma
grande quantidade de contatos e conversas – disse Bap.
O dirigente admite que o Flamengo começou atrasado o atual planejamento
Com vasto repertório de frases de efeito, metáforas e muitas histórias
para contar, Bap guardou mais uma para a saideira, ao dizer que é
possível acreditar num final feliz:
- Vamos ver como as coisas vão evoluir. Entendo claramente que estamos
começando atrasados. Se fosse uma corrida de carro, diria que estamos
largando dos boxes. Mas vai que acontecem duas ou três bandeiras
amarelas? Se deixarem a gente chegar... Quando o Mengão chega, ele vai
te pegaaaaar....
Gisele Bündchen que se cuide.
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