Quando viu o nome de Petrix Barbosa na bina de seu telefone celular,
Sergio Sasaki não imaginava que o companheiro de treino e de seleção
teria uma notícia tão ruim para lhe dar. Ao saber do incêndio que atingiu o ginásio do Flamengo
nesta quinta-feira, o campeão pan-americano ficou sem reação. Em São
Paulo para uma consulta médica, Sasaki queria mais informações e não
acreditou quando soube que as argolas, o cavalo e boa parte do solo
foram atingidos pelas chamas. As dúvidas e o medo tomaram conta da maior
esperança da ginástica artística masculina do Brasil para o próximo
ciclo olímpico. Com parte da "casa" destruída, ele teme que a equipe não
tenha onde treinar por um bom tempo.
Sergio Sasaki durante um treino no ginásio do Flamengo (Foto: Danielle Rocha/Globoesporte.com)
- A tristeza é muito grande porque é como se fosse a nossa segunda
casa, o nosso lar. Fica a pergunta agora: o ginásio pegou fogo e o CT
do velódromo vai acabar, onde nós vamos treinar agora? Isso vai
desesperar, vai dar medo. Qual vai ser o futuro do ciclo olimpico? A
gente não sabe se vai ter ginásio para treinar, se vai acabar, até
porque não se monta um de um dia para o outro. Tem a burocracia para
aparelhagem, que demora seis meses no mínimo para chegar. Vou falar aqui
por alto, mas acho que a gente vai ficar mais ou menos um ano sem
ginásio. E o mais difícil é a aparelhagem, toda boa, de marca. A
aparelhagem masculina não tem mais nada. A feminina sobrou coisa. É
inacreditável. Estou preocupado - disse.
Não é o único. Daniele Hypolito
revela no tom de voz o que sentiu quando pisou no ginásio. Nesta
quinta, coincidentemente, ela e seus companheiros estavam treinando no
CT do velódromo. O silêncio foi interrompido por toques insistentes em
diferentes celulares.
- A gente achou estranho aquela "sinfonia" e uma das técnicas atendeu.
Pela reação vimos que não era coisa boa. Interrompemos o treino e fomos
direto para a Gávea. Fiquei muito triste com o que vi. São 18 anos
treinando ali, vi a evolução daquele ginásio. E o alojamento tinha
acabado de ser reformado... Fiquei chocada quando vi de perto. Os
aparelhos que sobraram, que não foram atingidos pelo fogo, não vão poder
ser usados porque foram danificados pelo calor e pela água. A sorte é
que não tinha quase ninguém na hora e as pessoas que estavam lá
conseguiram sair rapidamente porque a gente sabe como o material ali
dentro é inflamável. É a única coisa que todo mundo está agradecendo.
Hoje é como se fosse um dia de luto, como se a gente tivesse perdido
alguma coisa - afirmou Daniele.
Daniele e Diego Hypolito também receberam notícia por telefone (Foto: Marcos Lavezo/Globoesporte.com)
A experiente ginasta acredita que até meados de dezembro eles não
tenham problemas para dar continuidade ao treinamento. Mas depois do
período de férias, já não sabe se poderá contar com o espaço do CT, já
que o velódromo será demolido. Ao contrário de Sasaki, ela acredita que o
ginásio rubro-negro volte a contar com a estrutura anterior antes de um
ano.
- Não acredito que chegue a isso. A estrutura física do ginásio em no
máximo dois meses acho que já fica pronta. Mas depende de o Flamengo ir
comprando a aparelhagem ou pedir para a Confederação emprestado. A gente
tinha ganho o cavalo, pista e solos novos... Foi muita coisa perdida.
Vamos esperar pela perícia e saber o que aconteceu. Meu irmão (Diego
Hypolito) ainda não foi ao ginásio, mas sei se ele vai sentir e ficar
chocado quando vir o tamanho do estrago.
Espera por boas notícias
Sasaki só voltará ao Rio na segunda-feira. Até lá, pediu para que os
amigos o mantenham informado. Quer entender como o incêndio começou e
receber alguma notícia capaz de deixá-lo mais tranquilo sobre o local de
treinamento para a próxima temporada. Com um problema no ombro, ele
abriu mão de disputar a Copa do Mundo neste fim de ano para iniciar 2013
sem dores.
- Desde o ano passado eu venho num ritmo forte e sem férias. Foi
Mundial, evento-teste, Pan e Olimpíadas, e ainda tive que fazer uma
cirurgia. Preciso dar descanso ao meu corpo e zerar as dores. No próximo
ano tem o Mundial de Especialistas na Bélgica e temos chance de
medalha.
Ginásio Cláudio Coutinho destruído pelo incêndio (Foto: Nayra Halm / Photocamera)
Em entrevista publicada no site oficial do Flamengo, a presidente
Patrícia Amorim disse que será feito um esforço grande para que o
ginásio seja reaberto o mais rapidamento possível. Lembrou também que o
clube investiu R$ 400 mil na reforma e recebeu R$ 300 mil em
equipamentos, com apoio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O prejuízo estimado é de R$ 800 mil somando a parte elétrica.
- Mas vamos reconstruir esse ginásio. Assim que a perícia acabar,
começa o trabalho de reconstrução e recuperação. Um terço do ginásio foi
destruído. Sem o fosso, as acrobacias dos atletas ficam prejudicadas. O
tablado também está parcialmente destruído e só pode ser utilizado
integralmente. O ginásio não está em condições de uso em função do
comprometimento do local. Vamos aguardar a perícia para tentar
compreender o quanto do espaço ficará prejudicado - afirmou.
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