sábado, 17 de novembro de 2012

Agora aliviado, Zinho revela: ‘Em algumas noites era joelho no chão’


Zinho completou seis meses como diretor de futebol do Flamengo no domingo passado e chegou à conclusão: passou rápido e não foi fácil. De 11 de maio para cá, experimentou quase tudo no clube. Sobraram problemas, faltou tempo para relaxar. O distanciamento da família incomodou, a vida tranquila de comentarista de TV ficou para trás, e o desgaste foi inevitável.

- Não houve um momento em que eu pudesse falar: dá para relaxar, agora vou tirar dois dias de folga. Foi difícil acontecer isso. Só agora que está começando.

Com o time livre do rebaixamento no Brasileirão, Zinho ganhou um pouco mais de tempo para viver e também pensar em 2013. Os telefones celulares ainda tocam incessantemente. Do outro lado da linha, o assunto é sempre o mesmo: Flamengo.

No período em que está no cargo, Zinho teve de administrar problemas sérios, de extrema repercussão e que geraram enorme desgaste. O embate e a saída conturbada de Ronaldinho Gaúcho, o processo de fritura e queda de Joel Santana, o fracasso nas negociações com Diego e Juan, a ausência da contratação de um camisa 10, o caso Riquelme e a tentativa de recuperar Adriano são alguns dos exemplos de turbulência do comandante do futebol rubro-negro.

- Não foi fácil, não. Vou confessar que em algumas noites era joelho no chão para pedir a direção de Deus mesmo.


MONTAGEM - ZInho flamengo (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)

A política fervilhante do clube também respingou no futebol, já que algumas crises internas envolveram o vice-presidente de finanças, Michel Levy, e o vice de futebol, Paulo Cesar Coutinho, que não ocupa mais a pasta. Zinho tentou defender o trabalho do dirigente, mas a pressão pela saída de Coutinho foi maior. O vazamento de informações também incomodou. A avaliação do diretor, no entanto, é positiva. Zinho acha que conseguiu começar a organizar a casa rubro-negra.

- Vejo pelo lado positivo. Ganhei muita experiência, são seis meses de aprendizado para o resto da minha vida. Até os erros que eu cometi, que eu não sou perfeito, até alguma coisa que o torcedor possa não ter ficado satisfeito. Isso serve de aprendizado para 2013, 2014, 2015. Acho que está terminando com saldo mais positivo do que negativo.

Zinho diz que ainda há muito a fazer. E se considera capaz de continuar à frente do futebol do clube. Só não sabe se terá tempo. O contrato do diretor termina em 31 de dezembro. Como o Flamengo passará por um processo eleitoral no dia 3, a chegada de um novo presidente pode representar a saída do dirigente, que aceitaria continuar o trabalho com outra gestão.

- Sou profissional, quero o melhor para o Flamengo.

Zinho tem o carinho e respeito dos jogadores pela forma de falar olho no olho. Ganhou moral com a presidente, já que segura algumas cobranças que seriam destinadas a ela, e tem planos. Muitos. O principal é conseguir montar um time de ponta para brigar por títulos na próxima temporada.

- Gostaria de ficar.

Permanência em 2013

- Acho que podemos ter um ano bem melhor. Dentro dessa filosofia que estamos implantando, com essa equipe que a gente formou, com os profissionais que trabalham aqui. Quando eu digo que não sei se vou estar aqui, é porque vai ter a eleição. A Patricia pode não ganhar. Já vi entrevistas dela falando que se ganhar ela quer me manter. Mas ela não falou isso para mim. Eu digo que não posso falar muito de 2013, mas já estou planejando 2013 focando esse ano. Nós, eu diretor, treinador, equipe de trabalho, já estamos fazendo reuniões, pré-temporada está definida, apresentação, treinamentos, número de atletas. Isso está tudo pronto há uma semana. Fizemos uma reunião geral. Já fiz reunião com a base toda, de quem vai subir, quem a gente pode emprestar. O Dorival quer 28, 29 jogadores no máximo. Não estou com meu contrato assinado, mas se eu ficar o meu trabalho vai ser esse. Preciso do aval da presidente, mas eu sei que isso vai ser depois da eleição. Para não repetir os erros desse ano, estamos planejando. Eu foco terminar o Brasileiro em quinto, sexto, no máximo. No ano em que todo mundo projetou desastre, podemos terminar na parte de cima na tabela.

Erros e acertos

- A todo momento eu me avalio. Eu me cobro bastante. Não aponto acertos ou erros. Algumas tentativas de contratação foram frustradas para mim. Gostaria que tivesse acontecido. Duas. Seria um zagueirão de nível de seleção e o número 10. Foram Juan e Diego. As únicas. Acho que isso não é erro. Foram tentativas que esbarraram na parte financeira, essas duas contratações que tentei. Porque aquele caso Riquelme eu nunca quis o Riquelme, não era a minha prioridade. No mercado, circunstâncias, e por desejo de alguns dirigentes, iniciou-se uma conversa com o empresário do Riquelme. Acabou que o empresário estava fazendo leilão. Fiquei satisfeito de não ter concretizado. Acho que foi um livramento para mim. Seria mais um problema para administrar. Acho que não está nem jogando. Nesses seis meses a gente foi trabalhando, foi lapidando, foi organizando o grupo, conscientizando os atletas, implantando algumas coisinhas de profissionalismo, horário, treino, CT. Isso leva um tempo para as pessoas se acostumarem. Houve a mudança de comissão técnica geral, um grupo que foi modificado dentro do campeonato. A gente fez algumas contenções de despesas na folha, ao mesmo tempo tivemos de buscar jogadores para o grupo. Agora está dando satisfação porque estou vendo os resultados começarem a acontecer. Pena que já no fim, sem chance de brigar pelo G-4.

Administrador de crises

- Acho que as polêmicas com os grandes ídolos, Ronaldinho, Adriano, a saída do Joel, foram desgastes. Tomou muitas horas de sono, mas acho que o saldo foi positivo. Não acho que houve desrespeito de nenhuma das partes, principalmente Adriano e Joel. Foi tudo honesto, olho no olho. O do Ronaldinho foi para a parte jurídica, mas no dia a dia com ele fui muito verdadeiro. Não escutou da boca de ninguém as coisas, tenho a consciência tranquila. Não criei inimizades com nenhum deles. Se estão chateados, é outra coisa. Mas não podem falar em desonestidade, covardia. Houve muito desgaste nesse período, mais do que eu achava. Minha convivência com vocês da imprensa teve pouquíssimos desgastes, considero até zero. Nunca fugi das coisas que tinha que responder.

Inexperiência

- Ganhei experiência em algumas coisas em que você tem que largar um pouco mais na frente. Muita gente falava da falta de experiência em cargo assim, tanto pepino para administrar. Teve a saída do Coutinho também, tive apoio da direção, tenho um diálogo muito bom com a Patricia. A chegada do Dorival foi muito boa, a convivência com o Joel foi um aprendizado, um cara que tem currículo, muitos anos. Não éramos tão íntimos de conversar, acho que pela diferença de idade, mas procurava ver a postura e tudo para estar aprendendo. Foram duas comissões técnicas diferentes, bons relacionamentos, muita gente. Estou satisfeito, não foi fácil, não. Vou confessar que algumas noites era joelho no chão para pedir a direção de Deus mesmo. É a família apoiando, aquelas coisas de contratação, necessidade de trazer alguém, fase de muitos jogos sem vitória. Legal que tive apoio da torcida. As torcidas organizadas mesmo. Todos apoiando, confiando, acreditando. Tanto é que os recebi naquela crise, foi um dos dias mais tensos para mim.

Avaliação do grupo

- Eu acho que estamos terminando o ano com uma base de razoável para boa, estamos tendo uma resposta, principalmente os jogadores que vieram, havia desconfiança. Acredito que mais três ou quatro peças de ponta, com esse grupo formado na reta final, vamos ter time para brigar por campeonato.

Reforços

- Tenho os nomes. Em algumas posições são opções A, B e C. Mas a A é o top. Já liguei para alguns representantes desses atletas. Vou iniciar a conversação e deixar bem encaminhado, mas nessas conversas sempre falo que o “ok” final tem que ser depois da eleição. Mas não me impede de deixar tudo alinhavado para não perder tempo. Se deixar para começar em 10 de dezembro, você perde tempo. Iniciar uma conversa, esse planejamento, isso eu posso fazer. Independentemente de ficar ou não. No dia 3 de dezembro vai estar tudo pronto. Não fiquei? Quem quiser permanece o trabalho. Quem não quiser vai correr atrás. Eu não posso perder tempo.

Seguir sem Patricia Amorim

- Eu não estou me envolvendo em política. Sou rubro-negro, mas no momento exerço função remunerada, sou profissional. Eticamente é até ruim expressar qualquer opinião. Não vou dizer que só fico se ela ganhar. Quero o melhor para o Flamengo. Eu sou desse clube, esse clube que deu a chance de começar a nova função. Sem demagogia nenhuma. Eu trabalho para o Flamengo. Se o melhor para o Flamengo for a Patricia, maravilhoso. Se os associados acharem que é outro, eu quero o melhor para o Flamengo. Claro que eu tenho intimidade muito maior com a Patricia, cheguei na gestão dela, me identifiquei, temos uma relação boa, há um respeito. Eu a considero uma pessoa boa, coração bom, do bem. Uma pessoa que trabalha pelo melhor para o Flamengo. Se cometeu erro, é porque todos são passíveis.

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