Noite e álcool são combinações bombásticas para Adriano.
A carreira do atacante foi marcada por indisciplinas fora das quatro
linhas. No seu retorno ao Flamengo, não tem sido diferente. Na tarde
desta segunda-feira, o atacante recebeu a terceira advertência por falta
em quase um mês. O clube teria o direito de rescindir o vínculo, mas o
diretor de futebol Zinho decidiu dar a última chance ao Imperador. A
decisão de seguir no clube está com o jogador, que deve dar uma resposta
ainda hoje. Caso seja positiva, terá de aceitar a ajuda de um
profissional especializado para tratar de suas condições emocionais.
Zinho diz também que pediu a ajuda de alguns atletas do grupo. Adriano
perdeu atividades desde sexta-feira à tarde. Dois dias e meio no total.
Na sexta, o jogador ligou para Zinho e pediu liberação para resolver
problemas particulares. No sábado pela manhã, porém, nem a voz do
jogador foi ouvida. Por SMS, ele explicou ao diretor de futebol que não
estaria presente, inclusive no domingo. Horas antes, com a presença de
outros jogadores do elenco, o atacante foi visto em uma boate na Barra
da Tijuca, bairro onde mora.
- Aos que são mais chegados, peço para ajudar, para não convidar para
momentos de lazer. Uns têm controle, o Adriano no momento não tem. Mas
isso está sendo muito bloqueado no dia a dia do trabalho. Passei para o
Adriano que o que cheguei aqui e implantei, de profissionalismo, de
conduta, o meu grupo está 100%. O ambiente de grupo, de conduta dos
atletas, de envolvimento, de comprometimento, é sensacional – afirmou o
dirigente.
A informação da presença de Adriano na festa chegou até a comissão
técnica, que se mostrou incomodada com a possibilidade de a nova falta
ter sido fruto de deslize do Imperador fora das quatro linhas. Zinho tem
tentado fazer com que as polêmicas que cercam o atacante não cheguem ao
time, que busca uma recuperação no Campeonato Brasileiro. O técnico
Dorival Júnior tem sido consultado sobre o caso do camisa 10, mas não
participa diretamente da decisões.
- Preferi tirar o Dorival disso, ele tem que ficar preocupado com os
atletas que estão à disposição, mas obviamente conversei com ele.
Dorival não tem necessidade de se desgastar. O jogador não trabalha
integralmente com ele, mas ele está participando nos diálogos comigo.
Depois da conversa que teve com o jogador na tarde desta segunda, Zinho
contou que sentiu Adriano perturbado, com muitas dúvidas sobre a
continuidade da carreira, marcada nos últimos anos por episódios que
colocam em risco o futuro do atacante.
Antes do hexa, tempo para pensar
Em abril de 2009, depois de defender a seleção brasileira nas
Eliminatórias da Copa do Mundo, Adriano não se reapresentou ao
Internazionale de Milão. Viajou ao Rio e ficou três dias internado na
Vila Cruzeiro, sem dar notícias. Como em outras ocasiões, o Imperador
estava com seu reino em ruínas, abusando do álcool. O atacante anunciou
que pararia de jogar futebol por tempo indeterminado. No mês seguinte,
porém, acertou o seu retorno ao Flamengo.
No Rubro-Negro, em 2009, Adriano buscou no seu clube de coração, na
cidade em que nasceu e perto da família, a alegria perdida na Itália.
Foi campeão e artilheiro do Brasileirão, mas continuou com um currículo
de indisciplinas e abusos fora de campo.
É unanimidade entre amigos, família e profissionais que conviveram com
Adriano que ele precisa de acompanhamento de profissional da área de
psicologia ou psiquiatria. Mas, à exceção de meia dúzia de consultas
quando estava no São Paulo e no Flamengo, o jogador nunca aceitou a
ideia.
- Hoje eu não preciso, com certeza. Precisava quando passei aquela
depressão, quando falei para todo mundo o meu problema (com bebida
alcoólica), ali eu tive (ajuda). No São Paulo, eu tive psicólogo. Em
2009, cheguei a fazer quatro ou cinco sessões com um psicólogo. Hoje,
não tenho mais necessidade, sinto isso. Se precisar, vou comunicar ao
Flamengo, tenho idade bastante para saber quando estou precisando ou
não. Mas hoje estou feliz. Se der uma escorregada, aí, sim. Opa: “Zinho,
tô precisando disso, disso, disso” – disse Adriano, em recente
entrevista.
Zinho mantém a esperança de tentar recuperar Adriano como pessoa e como
atleta, mas reconhece que está desgastado. À espera da resposta do
Imperador, ele só tem uma certeza: dentro e fora do campo, o futuro do
camisa 10 é um gigantesco ponto de interrogação.
- Cheguei ao meu limite, estou desgastado. Percebi nos olhos dele que
ele não tinha uma resposta. Em relação ao ser humano, não estou
arrependido (de ajudar). Não quero que ele acabe para o futebol. Eu
tenho muito medo se ele parar de jogar futebol. Vou lutar por isso
sempre. Se ele quiser parar, vou me colocar para ajudá-lo em qualquer
dia da semana. A hora em que ele quiser.
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