Precisamente daqui a quatro meses, Bruno deixará de ser oficialmente
funcionário e jogador do Flamengo. O contrato firmado com o clube vai
até 31 de dezembro, e está suspenso por conta da prisão do goleiro em
julho de 2010, suspeito do assassinato de Eliza Samudio. De ídolo a
detento, com uniformes em diferentes tons de vermelho, a data
representará a desvinculação formal do jogador com o Rubro-Negro.
- Hoje, Bruno é funcionário do Flamengo. O contrato está suspenso, pois
devido à prisão ele não pode prestar serviços. O clube, então, entende
que não deve pagar. No dia 1º de janeiro de 2013, ele não terá mais
vínculo empregatício, não constará mais no BID (Boletim Informativo
Diário da CBF) como jogador do Flamengo – afirmou André Galdeano,
advogado que responde pelo futebol do clube.
Tons
diferentes de vermelho: depois de brilhar com camisa 1 do Flamengo -
personalizada com autógrafo e uma carinha feliz -, Bruno foi preso e
assumiu uniforme de detento. (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
Antes de ser preso, Bruno recebia salário de R$ 150 mil. De julho de
2010 até agora, ele deixou de ganhar pouco mais de R$ 4 milhões,
contando o 13º salário de 2010 e 2011. Até 31 de dezembro, ele teria
ainda, em condições normais, R$ 750 mil para ser depositado na sua conta
bancária.
Depois do término do contrato, quando estiver em liberdade, Bruno
poderá questionar judicialmente o não-pagamento dos vencimentos,
suspensos no dia 7 de julho de 2010.
Caso conseguisse um habeas corpus hoje, Bruno poderia aparecer no Ninho
do Urubu para treinar. Mesmo com a prisão, o clube não teve como
recorrer à demissão por justa-causa, pois a sentença condenatória não
foi transitada em julgado. As leis trabalhistas também protegem o
ex-camisa 1.
Quando foi preso, Bruno caminhava para o status de ídolo. A camisa de
número 1 personalizada com autógrafo do goleiro – que trazia sua
assinatura com uma carinha feliz na letra B – tinha alto índice de
vendas, principalmente entre as crianças, segundo levantamentos da época
feitos pela fornecedora de material esportivo.
Como goleiro do Flamengo, Bruno foi tricampeão carioca (2007, 2008 e
2009), e também peça importante no título brasileiro de 2009. Em 234
jogos, de 2006 a 2010, o jogador sofreu 291 gols, marcou quatro vezes
quando se arriscou com os pés e acumulou polêmicas.
Em março de 2010, depois de Adriano ter brigado com Joana Machado, sua
noiva na época, no episódio conhecido como "barraco na Chatuba", Bruno
pecou ao sair em defesa ao Imperador:
- Quem nunca saiu na mão com a mulher? - questionou o goleiro.
Após chegar ao Fla em 2006, Bruno renovou contrato em janeiro de 2008, com vínculo até 31 de dezembro de 2012, como mostra site da Federação de Futebol do Rio (Foto: Editoria de Arte/ Globoesporte.com)
O caso de Bruno caiu como uma bomba no primeiro ano de gestão de
Patricia Amorim. Em setembro de 2010, a presidente, Zico, então diretor
de futebol, e Léo Moura tiveram que depor na 1ª Vara Criminal de
Jacarepaguá, no Rio, para prestar esclarecimentos sobre o dia a dia do
goleiro.
No início da investigação, quando seu nome foi envolvido com o
desaparecimento de Eliza Samudio, o goleiro chegou a realizar alguns
treinos pelo Flamengo. Na ocasião, antes de o mandato de prisão ser
expedido, ele chegou a dizer em um treino na Gávea:
- Sou inocente, ainda vou rir disso tudo.
Evangélico, garçom e casamento com anjo da guarda
No presídio Nelson Hungria, em Contagem (MG), Bruno - que responde na
Justiça por crimes como homicídio triplamente qualificado e ocultação de
cadáver - começou a realizar alguns treinos em fevereiro de 2011.
Em maio de 2012, quando alimentava a esperança de conseguir habeas
corpus e liberdade condicional, Bruno recebeu de um amigo um par de
chuteiras, entregues pela noiva, Ingrid Oliveira. O modelo branco,
número 41, foi comprado no Rio de Janeiro.
- Teve que ser soçaite porque lá não tem grama. Ela me disse que ele
estava precisando. Engraçado é que tem quase 2 metros e calça 41 - disse
Fábio Lima, responsável pelo “presente” ao goleiro.
A noiva, Ingrid, é considerada o anjo da guarda de Bruno. Ela visita
constantemente o goleiro na prisão, e segurou toda a barra desde a
prisão do jogador. Os dois vão se casar em breve.
Na prisão, Bruno mergulhou na religião evangélica, participa ativamente
de cultos e anda com uma bíblia a tiracolo. O jogador também passou a
servir café da manhã para os demais detentos. Com o trabalho, tenta
reduzir alguns dias da pena, e também consegue passar mais tempo fora da
cela.
Pessoas ouvidas pelo GLOBOESPORTE.COM, que até pouco tempo mantinham
contato com Bruno através de cartas, dizem que o goleiro exalta Deus a
todo instante em suas palavras. Somente vez ou outra faz menção ao
Flamengo.
O ex-camisa 1 recebe inúmeras correspondências de apoio e mensagens de força remetidas por torcedores rubro-negros.
No dia 23 de dezembro, véspera de Natal e a poucos dias de ser
oficialmente ex-jogador do Flamengo, Bruno completará 28 anos. A
história que o goleiro tentou escrever como ídolo ficou no passado.
Restaram palavras e novos capítulos do diário de um detento.
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