Se atualmente as torcidas organizadas são associadas à violência nos
estádios, o escritor e pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda lembra
que, nos anos 1950, quando se espalharam pelos estádios brasileiros, a
sua função era justamente o contrário: impedir que acontecessem
conflitos.
- As torcidas organizadas surgem nos anos 1950. Estádios como o
Maracanã tinham 200 mil torcedores e era preciso conter esse público. As
organizadas surgiram nesse sentido, de controlar a festa. Nos anos
1980, essas torcidas se desmembram em diversos grupos e esses grupos
começam a travar rivalidades entre si. Os anos 1980 foram o momento da
explosão da violência urbana no Brasil e o futebol acompanhou isso -
lembrou Bernardo, no "Redação SporTV" desta terça-feira.
O escritor citou o exemplo de Jaime de Carvalho, fundador da Charanga
Rubro-Negra, considerada a primeira torcida organizada do Brasil. Para
ele, foi a presença de Jaime que impediu uma tragédia fora de campo na
derrota da Seleção contra o Uruguai em 1950.
- O chefe de torcida era o torcedor carismático, conhecido de todos. O
chefe de torcida era um homem de confiança do chefe de polícia, para
resolver os problemas na arquibancada. Em 1950, quando sediamos a Copa
do Mundo, escolhemos Jaime de Carvalho, que era chefe da Charanga do
Flamengo, como chefe de torcida. Ele controlou muito bem. Tanto que
perdemos a final e não houve desordem do lado de fora do estádio.
Neste clima de paz, as torcidas organizadas até tinham o seu próprio
campeonato, sendo julgadas pelo seu desempenho nas arquibancadas como se
fossem escolas de samba.
- No Rio, em particular, as torcidas tinham uma relação muito grande
com o Carnaval. O Mario Filho criou até um torneio de torcidas. Os
critérios eram os mesmos das escolas de samba, como fantasias, músicas,
animação. As torcidas ganhavam troféus com isso. A ideia é que as
torcidas organizadas voltem a ter esse lado festivo, carnavalesco.
Bernardo Buarque de Hollanda acredita, porém, que uma nova mudança no
comportamento dos torcedores no Brasil, depois da construção de novos
estádios para a Copa do Mundo de 2014.
- De fato, há uma tendencia internacional para a mudança do
comportamento do torcedor. Isso está relacionado até com o desenho dos
estádios, com assentos individuais numerados, como se fosse um teatro.
Você vai assistir a um espetáculo e bater palmas no final. A Copa de
2014 vai ser um laboratório para experimentarmos esse modelo de estádio.
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