Eles são os clubes que mais abalam a paz de espírito de torcedores
Brasil afora. Para o bem e para o mal. E quando se fala em torcedor, se
fala inclusive daquele sujeito que hoje é torcedor e amanhã, bom das
pernas, vira jogador. Flamengo e Corinthians, os clubes mais populares
do Brasil, também são aqueles para os quais a maioria dos atletas torcia
quando criança. É o que revela pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM
e pela revista “Monet” com mais de 300 atletas que disputarão o
Brasileirão das séries A e B.
É um caso de amor. E de ódio. Acontece que a mesma pesquisa revela
antipatia de parte dos atletas por Flamengo e Corinthians. Eles lideram a
lista de times para os quais os jogadores não suportam perder. E só são
superados pelo Íbis, ainda hoje ironizado pelo título de pior time do
mundo, quando questionados sobre a equipe onde jamais jogariam.
Amor
Quem fez parte da pesquisa | Quem não fez parte |
---|---|
América-RN, Atlético-GO, Atlético-MG, Atlético-PR, Barueri, Boa Esporte, Botafogo, Bragatino, Ceará, Corinthians, Criciúma, Flamengo, Fluminense, Goiás, Guarani, Guaratinguetá, Náutico, Ponte Preta, Portuguesa, Santos, São Caetano, São Paulo e Sport. | ABC, América-MG, Bahia, CRB, Cruzeiro, Figueirense, Grêmio, Internacional, Ipatinga, Palmeiras, Vasco e Vitória. Os questionários dos jogadores de ASA, Avaí, Coritiba, Joinville e Paraná não chegaram em tempo de entrar na pesquisa. |
Na prática, a paixão de infância dos jogadores comprova as pesquisas
que indicam Flamengo e Corinthians como maiores torcidas do Brasil. Em
janeiro, a Pluri Pesquisas Esportivas apontou que 15% dos brasileiros torcem pelo Flamengo e 13% pelo Corinthians. São
números parecidos com o da pesquisa entre os atletas: 15,6% e 14,4%,
respectivamente. O que surpreende, entre os jogadores, é o aumento no
percentual de são-paulinos.
Para a Pluri, 8% dos brasileiros torcem pelo clube do Morumbi. Entre os
jogadores do Brasileirão, o percentual de simpatia ao São Paulo é bem
maior: 14,1%. Ou seja: a fatia de jogadores que torcem pelo Tricolor é
maior, proporcionalmente, do que a fatia de brasileiros. Já com o
Palmeiras, quarto colocado, a diferença é pequena. O Verdão tinha a
torcida de 6,9% dos jogadores. A pesquisa da Pluri indica simpatia de 6%
da população pelo clube.
Entre os atletas, o quinto mais citado é o Santos, que aparece apenas
em nono no levantamento da Pluri – no qual o quinto posto é do Vasco,
com 8,8%. Mas a predominância dos paulistas entre os cinco primeiros se
justifica. A maioria disparada dos jogadores entrevistados (43,7%)
nasceu em São Paulo. Apenas 15,5% vieram à luz no Rio de Janeiro.
Ódio
Mas existe o outro lado da moeda. O lado do ódio. Muitos jogadores
manifestam clara antipatia aos clubes. Alguns dizem que jamais vestiriam
a camisa de um deles e, especialmente, afirmam que são equipes para as
quais não suportam perder.
Paulo Nunes, ex-jogador de Flamengo e Corinthians, entende a rejeição.
Ele sentiu na pele isso. Quando atuava pelo Palmeiras, queria vencer o
adversário de qualquer jeito - como demonstrou ao ser um dos
protagonistas de pancadaria em 1999 . Até que acabou vestindo justamente a camisa alvinegra.
- Eu era flamenguista desde menininho. O flamenguista acompanha, vive
essa paixão, não quer nem saber dos outros clubes. Aí todo mundo quer
ganhar dele. O Corinthians é parecido. Quando eu jogava no Palmeiras,
queria ganhar de qualquer jeito. Mas eu via aquela torcida e ficava
arrepiado. Quem não é corintiano, não aguenta ver aquilo. Eles são
malucos. São muito chatos. Eu coloquei na cabeça que um dia ia jogar lá –
disse o ex-atacante.
É importante ressalvar que os jogadores receberam com desconfiança a
pergunta sobre o clube onde não jogariam. Mais de metade deles, 56%,
deixou a resposta em branco. Outros 15,6% disseram que não existe uma
equipe que jamais defenderiam. Entre aqueles que apontaram algum time,
venceu a chacota: o Íbis, conhecido no passado como pior time do mundo,
teve 4,5% do total de votos, seguido pelo Corinthians, com 4,2%. O
Flamengo teve 1,8%.
Os dados são mais expressivos quando se trata do time para o qual os
jogadores não suportam perder. O universo de respostas é maior. E o
Corinthians volta a ser mais lembrado, tem 9% dos
votos, contra 5,4% do Mengão. Na seqüência, aparece a coisa maldita, ''vasco'' (4,5%).
Os dados indicam, embora estejam longe de comprovar, que os jogadores
entram com mais sede contra Corinthians e Flamengo. Será? Que o volante
Marcos Assunção, do Palmeiras, responda:
- São times para os quais não gosto de perder. A verdade é essa – resumiu o jogador.
É uma questão de respeito. Mas Marcos Assunção concorda com Paulo Nunes
em um tópico: são times que incomodam a ponto de o atleta cogitar jogar
neles.
- Tenho muito respeito pelo Flamengo, onde joguei. No Corinthians, não
joguei, mas também respeito, pela torcida, pelos títulos. Todos
jogadores gostariam de jogar em times grandes. Estou no Palmeiras, um
time grande, e estou muito feliz. Não digo que não jogaria nesses times.
Não tenho idade para trocar de time. Tenho quase 36 anos, então
pretendo encerrar minha carreira no Palmeiras. Mas acho que em grandes
times como Flamengo e Corinthians, todos jogadores gostariam de jogar.
(...) Joguei no Flamengo e gostaria de ter jogado em um time como o
Corinthians, com a torcida que tem. Mas estou feliz no Palmeiras –
comentou o volante alviverde.
Há, porém, quem não veja sentido na diferenciação feita pelos atletas. É o caso do treinador do Flamengo, Joel Santana.
- Não interessa se você vai jogar com Sport ou com Santos; com Bahia ou
com Corinthians. Tudo vale a mesma coisa. Claro que cada um tem um peso
na competição, mas a responsabilidade é a mesma. Não podemos achar que
com o Sport será um jogo fácil e com o Corinthians um jogo difícil. Às
vezes o jogo que a gente acha que é mais fácil se torna mais difícil –
opinou o treinador.
A pesquisa mostra que os jogadores levam mais em consideração o time de
infância do que a equipe atual ao designar um clube onde jamais
jogariam. De todos os votos para o Corinthians, apenas dois não foram de
boleiros que torciam para equipes paulistas quando eram crianças.
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