A juíza da Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, Ivone
Ferreira Caetano, concedeu na tarde desta quarta-feira uma entrevista
coletiva junto a cinco promotores do Ministério Público do Rio de
Janeiro (MP-RJ. O tema foi o trato dado pelos grandes clubes cariocas
aos garotos que integram suas divisões de base.
Na entrevista, o MP-RJ revelou que acompanha o trabalho na base do
Vasco há quase um ano. O clube foi o primeiro a ser investigado por
conta de uma denúncia que chegou à promotoria. Tudo caminhava para que,
após alguns ajustes em São Januário, o vasco assinasse um termo de
adequação de conduta (tac) e, a partir daí, serviria inclusive de
exemplo para os demais grandes. Entretanto, com a morte do jovem Wendel,
de 14 anos, durante uma peneira no CT de Itaguaí, o MP se deu conta de
que o vasco nem sequer havia informado sobre a existência deste local de
treinamentos.
Nesta quarta, o CT de Itaguaí foi interditado. O vasco até pode
utilizar o local, desde que não seja para nada relacionado às categorias
de base. O ônibus utilizado para transportar os garotos está em mau
estado de conservação e também foi proibido de rodar. Há, ainda, que se
fazer ajustes nas instalações de São Januário. O clube corre o risco de
ter de pagar multas de R$ 30 mil por dia que descumprir o solicitado. Há
exigências com prazo para cinco dias.
- No início, as crianças não tinham água sequer para beber. Depois que
fomos lá, ainda na primeira vez, eles colocaram copos de água mineral,
mas ficavam muito distantes e são limitados, não podem beber o quanto
quiserem. Temos relatos que alguns bebiam água no chuveiro. A
alimentação é racionada. O refeitório que foi interditado é insalubre e
as condições dos alimentos, muito ruins. O novo alojamento, que é muito
melhor que o primeiro, já apresenta graves problemas também. Faltam
armários, banheiros, e têm mais adolescentes em cada quarto do que
deveria - explicou a promotora Clisanger Gonçalves, que acompanhou desde
o início o caso do vasco.
A escola vasco da gama, que funciona dentro do Galinheiro de São Januário, também está na mira da Justiça.
- O que a gente percebeu é que existe um grau de evasão muito grande.
Quando a gente foi a Itaguaí, percebemos que as crianças chegavam por
volta de 13h a São Januário. Como elas poderiam chegar, tomar banho,
almoçar e ir par ao colégio? Não dá tempo. Muitos deles faziam sinal
para a gente mostrando que não iam aguentar ir para a escola. Tem que
ser visto se a escola serve aos garotos ou ao vasco - completou
Clisanger.
- A preocupação do MP é dar condições mínimas para crianças
sobreviverem. Olham como investimento e não como crianças. A preocupação
é garantir que tenham acesso a informação. Quem mora fora do estado,
que o clube banque ao menos quatro viagens para visitar os pais e que
pague ligações telefônicas. A preocupação é que o clube entenda que
ele deve formar cidadãos e não apenas visar ao lucro - finalizou a
promotora Ana Cristina Macedo.
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