Homem forte do futebol do Flamengo, Paulo César Coutinho tem uma
ligação histórica com o clube. Filho de Cláudio Coutinho, técnico do
Flamengo de 1978 até 1980, ele viu de perto os anos de ouro do Fla. Tão
de perto, que ganhou um apelido dos próprios jogadores do clube quando
era garoto: virou o Cascão. Ele atende pelo apelido até hoje, mas o
garotinho cresceu. Em janeiro, virou o vice de futebol da Gávea, o homem
de confiança de Patrícia Amorim no departamento de futebol.
Ele lembra com carinho as travessuras nos vestiários do clube. Era tão
brincalhão, que chegava a dar nós nas camisas e calças dos jogadores. E o
apelido Cascão vem de uma brincadeira que Júnior e Zico fizeram com
ele. Depois de tantas traquinagens dele, um dia, os jogadores tiveram a
ideia de pregar uma peça no garoto.
- Brincava tanto, que os jogadores resolveram começar a me dar caldo na
lama. Me jogar na lama, enfiar a minha cara lá. Sabe aquele caldo
dentro d'água, que entra água no nariz? Comigo era assim, só que na
lama. Eu ficava sempre todo sujo no Flamengo, e eles ficavam me
provocando: "Vai Cascão, vai tomar banho" - contou Paulo César.
Abel Braga, um dos zagueiros da Seleção de 78, dirigida por Cláudio Coutinho, o pai de Cascão, lembra das peripécias do garoto:
- Eu sei que o Cascão, ele perturbava, cara. A gente dava cascudo nele,
era uma coisa espetacular. Ele perturbava tudo. Você estava comendo a
sobremesa, ele vinha e tirava o talher. Estava com suco, ele passava,
pegava o copo e tomava. Ele era o inferno - brincou o técnico do
Fluminense.
Pai herói
Cláudio Coutinho apareceu para o Brasil em 1970. Era o preparador
físico da Seleção Brasileira tricampeã do mundo no México, e com métodos
revolucionários, deu gás para o time canarinho levantar o caneco
naquele ano.
- Olha, sinceramente, eu nunca estive tão bem fisicamente como em 70.
Uma preparação fantástica, maravilhosa. E a gente tirou frutos - lembrou
Rivelino.
O rei Pelé também lembra com carinho do pai de Cascão:
- Em 70, nós trabalhamos junto com o professor Cláudio Coutinho.
Excelente pessoa, muito, muito profissional. Era o mais bravo do grupo, e
foi uma pessoa importante na nossa vida, na época de 70. Foi um dos
professores que nos ajudou bastante - disse Pelé.
O sucesso e os estudos tornaram Coutinho treinador. Ele dirigiu a
seleção peruana, mas fez história quando comandou o seu time de
coração, o Flamengo, de 1977 a 1980. Cláudio Coutinho lançou a geração
mais vitoriosa da história do clube, que ganhou a Libertadores e o
Mundial de 1981.
- Sem dúvida ele foi o melhor treinador com o qual trabalhei. Ele
conseguiu juntar talvez todas as virtudes dos grandes treinadores -
disse Júnior, comentarista da TV Globo.
- Me enchia de orgulho, né? Era uma espécie de super-herói. Era mais
que um pai, era um super-pai. Uma criança ver o pai ser ovacionado e
amado pela torcida, como ele era, então era realmente um super-herói -
lembrou Cascão.
Coutinho também foi o técnico da Seleção Brasileira na Copa de 78, na
Argentina. Ali, teve a maior frustração da carreira. O Brasil venceu a
Polônia por 3 a 1 nas semifinais, e achava que já tinha se classificado
para a final. À noite, viu a Argentina golear o Pero por 6 a 0 e se
classificar para a decisão contra a Holanda.
- Com certeza, essa foi a maior frustração dele. Ele estava muito
esperançoso. Ele fez um trabalho sério, estudou os adversários, e achou
que ia ser uma competição justa, que ia vencer o melhor - contou Cascão.
Praticante da apneia, o mergulho sem auxílio de cilindros de ar
comprimido, Coutinho morreu em 1981, nas ilhas Cagarras, no Rio de
Janeiro. Hoje, mais do que nunca, Paulo César se espelha no pai para
fazer um bom trabalho no Flamengo.
- Eu preciso honrar o nome da minha família. Devo isso ao meu pai, por
tudo que ele fez na vida, por nós, mas sobretudo, eu preciso honrar o
nome do Flamengo, que é o nome mais importante na nossa história. Espero
que meu pai ilumine minha cabeça, o meu pensamento, e peça lá para Deus
me dar uma força - finalizou Paulo César.
Paulo César é o homem forte do departamento de futebol do Flamengo (Foto: Reprodução/TV Globo)
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