Cestinha do jogo decisivo contra a Dominicana, ala do Flamengo chora ao ser homenageado por Huertas e é apontado como mentor na seleção brasileira.
Aos 36 anos, é hora de estrear. Para quem rói o osso há mais de uma
década na seleção, Marcelinho Machado finalmente ganhou a chance de
fazer o que sempre quis: jogar as Olimpíadas. E a ficha foi caindo aos
poucos na noite de sábado, quando o Brasil bateu a República Dominicana
em Mar del Plata e quebrou um jejum de 15 anos para se classificar a
Londres-2012. Apontado como vilão em diversos momentos da carreira, foi
ele o cestinha do jogo decisivo. Sentado à mesa da entrevista coletiva
pouco após a partida, ele não conseguiu segurar as lágrimas quando o
xará Huertas, ao seu lado, começou a falar:
- Por mais que eu seja a voz do Rubén Magnano dentro da quadra, devo
muito a esse cara que eu tenho aqui do meu lado. Desde que cheguei à
seleção, há oito anos, o tratamento que ele tem com todos os jovens é
incrível. Muita gente critica sem saber quem é o Marcelinho Machado.
Apesar de não ser o capitão, é o cara que tem a maior experiência. Devia
ser muito mais respeitado. Tenho que agradecer por tudo que ele fez por
mim – disse Huertas, àquela altura aplaudido por todos os companheiros
que estavam à sua volta, e com o veterano chorando sem parar.
Em 2008, quando o Brasil perdeu para a Alemanha a vaga em Pequim,
Marcelinho quis parar. Estava conformado com o fato de que encerraria a
carreira sem disputar Olimpíadas. O bom rendimento no campeonato
nacional o fez seguir em frente. E lá estava ele em seu quarto
Pré-Olímpico, agora numa função diferente, saindo do banco como peça de
confiança de Magnano.
Fominha não só nos arremessos, mas na obsessão de vestir a camisa do
Brasil, o carioca já é alvo de brincadeira de todos os companheiros, até
de Alex, que ele costuma enfrentar ferozmente nos duelos entre Flamengo
e Brasília no NBB.
- Eu vou ter 36 anos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, não vai
dar mais para mim. Mas o Marcelinho vai ter 41 e vai jogar, com certeza –
brincou Alex antes da entrevista coletiva, ainda na zona mista de
imprensa do ginásio Ilhas Malvinas.
O decano da seleção nem liga para as brincadeiras. Ele mesmo fala sério
e faz piada na mesma resposta, ciente de que não tem vaga cativa sequer
para Londres, mas que vai estar perto do time no Rio.
- Tem um ano para passar até as Olimpíadas, tem um ano para acontecer
muita coisa. Ninguém tem lugar cativo em seleção brasileira. Este grupo
merece tudo, mas daqui a um ano a gente não sabe. Quanto às Olimpíadas
do Rio, eu vou estar lá sim, moro no Rio, sou carioca. Minha casa tem
vista para a Arena da Barra, então vou ficar lá torcendo – avisou o ala
rubro-negro.
Marcelinho (à esquerda) se emocionou na entrevista coletiva (Foto: Rodrigo Alves/GLOBOESPORTE.COM)
As críticas que recebeu ao longo da carreira, muitas vezes pelo estilo
individualista e o excesso de chutes de três pontos, essas ele sempre
guardou como combustível. Com a chegada de Moncho Monsalve em 2008 e
depois de Rubén Magnano em 2010, mudou seu modo de atuar. Passou a
defender mais e controlar os arremessos. E voltou a dar suas punhaladas
fatais em quadra no momento em que a seleção precisou, com cinco bolas
de longa distância no sábado.
- Você tem que buscar sempre o sucesso. Às vezes ele não vem, às vezes
ele vem. A gente abdicou de muita coisa nestes dois meses, é a entrega
de todos. Estou muito feliz. É uma vitória de todo mundo que joga
basquete no Brasil, todo mundo que sofreu com a gente, que torceu pela
gente. Sentimos muita força vindo de fora, isso somou muito. Tinha muita
gente torcendo – afirmou.
Até Magnano, que não é muito de brincadeiras públicas, guardou uma
frase para o veterano. Ao comentar sobre a versatilidade do grupo,
soltou:
- Temos uma mistura muito interessante aqui, com jogadores jovens... e
outros não tão jovens – disse, olhando para Marcelinho com um sorriso
irônico no rosto, arrancando risadas.
Àquela altura, Machado não chorava mais. Tudo era festa.
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