No lugar do estádio, o picadeiro. Em vez do campo, o trampolim. Assim,
artistas se transformam em protagonistas do futebol, e o esporte ganha
vida no circo. Toda semana, o espetáculo da Unicirco Marcos Frota, no
Rio de Janeiro, leva a tradição dos times cariocas para a lona montada
no Parque da Quinta da Boavista. As camisas de Flamengo, Fluminense,
Botafogo e vasco causam furor na plateia, quase sempre lotada com cerca
de três mil lugares ocupados.
Aquela brincadeira popularmente conhecida como pula-pula ou cama
elástica virou coisa séria. Criada em 1934, a ginástica de trampolim era
usada como forma de preparação de astronautas e treinamento de atletas
de outros esportes. Mas foi apenas no ano de 2000 que a modalidade
estreou nos Jogos de Sidney para se tornar um esporte olímpico. No
circo, os artistas usam a técnica, abusam das acrobacias para "voar" e
conquistar a criançada e até os mais velhos.
Foi aí que o circo do ator Marcos Frota levou a paixão nacional para o
picadeiro. No número, quatro artistas representam os jogadores e o
quinto carrega o fardo de ser o árbitro. Inicialmente, todos vestem a
camisa do Brasil, menos o juiz que fica de preto. Cada um faz sua
apresentação, recheada de piruetas, saúda os espectadores e mostra a
camisa de um time carioca, que estava escondida por baixo da amarelinha.
Vaias e aplausos competem a cada performance. Cada torcida tenta
defender da forma como pode o clube de coração. E dessa vez, por
incrível que pareça, até o juiz é ovacionado, mas só quando ele tira o
uniforme preto e mostra a camisa da Seleção Brasileira.
A rivalidade tão conhecida dos gramados e também observada na plateia
não tem espaço no trampolim. Para realizar as acrobacias, cada artista
precisa da ajuda do outro. Portanto, o trabalho em conjunto dos
diferentes times surge como uma forma de representar a paz no futebol.
- Flamengo x vasco é uma das maiores rivalidades do mundo. Mas aqui
mostramos que estamos juntos, eu seguro ele, no final a gente se abraça,
é uma parceria, uma amizade - disse Pedro Funchal, artista que veste a
camisa da Cruz de Malta.
- A gente treina bastante para isso. Eu dependo dele e ele depende de
mim, e temos que nos ajudar. A rivalidade fica só na hora de interpretar
mesmo - contou o rubro-negro Adriano Gouveia.
São seis artistas que fazem o número e nem sempre tem a chance de
vestir a camisa do clube que torcem. Benevenuto Pires, Flavio Melo,
Cochise Monteiro, Jeferson Almeida, Pedro Funchal e Adriano Gouveia se
revezam na interpretação dos jogadores e do árbitro - sem reclamar.
Isso mesmo, sem reclamar. Nos bastidores do ensaio, o diretor artístico
Marcelo Reis e o coordenador técnico Rodolfo Rangel cobram muito dos
artistas. Tudo tem que estar em perfeita ordem, visando a segurança dos
profissionais e a perfeição do espetáculo.
- Me preocupo com os detalhes da montagem da coreografia. Fico sempre
olhando e tenso para que eles acertem, porque temos 360º de olhares aqui
para o espetáculo. Então é uma preocupação que sempre tenho - revelou
Marcelo Reis.
Em cena, artistas se transformam em jogadores e no árbitro (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Agora, o que o esporte tem de circo, e o que o circo tem de esporte?
Quem responde à pergunta com o próprio cargo é Rodolfo Rangel. Além de
ser coordenador técnico do número do circo, ele é treinador da seleção
brasileira de ginástica de trampolim.
- Ambos necessitam de muito carinho, amor e dedicação para se ter uma
boa performance. Tanto em uma apresentação para o público quanto para os
juízes que estão aferindo as notas.
Circo, futebol e ginástica. Três assuntos diferentes que mostram
perfeita harmonia em um espetáculo que aproveita as melhores
características de cada um para presentear o respeitável público com
paixão do esporte e o encanto do picadeiro.
'Uma pirueta, duas piruetas... Bravo, bravo!' Artistas em ação (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
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