Se dentro de campo Flamengo e Corinthians brigam pelo título
brasileiro e se enfrentam nesta quinta-feira, às 21h50, no Pacaembu,
fora dele viraram parceiros. Os dois clubes de maior torcida do Brasil
mantêm boa relação, trocam ideias sobre projetos e trabalham em sintonia
para tornarem-se, em um futuro não muito distante, também potências do
futebol mundial.
A
aproximação começou em março, época da negociação dos direitos de TV.
Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, ligou para a do Flamengo, Patricia
Amorim, propondo que os dois brigassem juntos para receber da Globo
valor diferenciado dos demais, mais do que os R$ 35 milhões anuais.
Patricia inicialmente achou ousada a proposta, até delirante, mas os
dois passaram a conversar com mais frequência. Resultado: fecharam
contrato de R$ 92 milhões (que pode chegar a R$ 120 milhões, com venda
de pacotes pay-per-view) por ano cada um, bem à frente dos demais
clubes.
A
estratégia é a mesma: aproveitar a massa torcedora para aumentar o
faturamento. Com o contrato maior de TV (válido por três anos, 2012/15),
os dois terão mais dinheiro para montar times fortes, contratar ídolos e
brigar por títulos. Assim, com equipes de ponta, pretendem vender mais
produtos licenciados, valorizar as marcas e conseguir patrocínios cada
vez maiores para reinvestir no elenco.
Essa fórmula que parece
simples nem sempre foi levada a sério pelas duas grandes potências.
Somente nos últimos anos o futebol passou a ser visto como negócio. O
Timão teve a maior receita do país em 2010, com R$ 212 milhões. Neste
ano deve manter-se na liderança. O Fla era somente o quinto lugar ano
passado (ver tabela), mas acabará 2011 com um dos maiores faturamentos,
impulsionados pela onda Ronaldinho Gaúcho.
A
parceria não parou na negociação de TV. Para contratar Ronaldinho, por
exemplo, o Fla usou o modelo da engenharia feita na parceria
Timão/Fenômeno. O clube da Gávea também citou o Timão quando teve
dificuldade para fechar o patrocínio master. Mesmo em polêmicas
envolvendo torcidas, os dois presidentes se entenderam. E resolveram não
brigar pela disputa dos craques Adriano e Tevez.
BATE-BOLA
Caio Campos, gerente de marketing do Corinthians
Como o clube conseguiu multiplicar a receita com licenciamento?
Tudo faz parte de um processo. O aumento dos royalties (5,5% para 18%) está ligado à capacidade de negociação. Na renovação do contrato, apostamos no crescimento e no potencial da marca. Outro ponto foi a criação do novo canal de distribuição, a rede de lojas Poderoso Timão. As 104 lojas fazem o número de licenciamentos crescer.
Tudo faz parte de um processo. O aumento dos royalties (5,5% para 18%) está ligado à capacidade de negociação. Na renovação do contrato, apostamos no crescimento e no potencial da marca. Outro ponto foi a criação do novo canal de distribuição, a rede de lojas Poderoso Timão. As 104 lojas fazem o número de licenciamentos crescer.
A maior fonte de receita do clube ainda é a TV. A que patamar a parte de licenciamentos pode chegar?
Acredito que o licenciamento/franquias ultrapasse a bilheteria até 2012, mas essa ordem será alterada assim que o novo estádio estiver pronto. Com certeza, bilheteria e seus periféricos serão a primeira fonte de renda do clube.
Acredito que o licenciamento/franquias ultrapasse a bilheteria até 2012, mas essa ordem será alterada assim que o novo estádio estiver pronto. Com certeza, bilheteria e seus periféricos serão a primeira fonte de renda do clube.
Acha que Timão e Fla podem, com muito mais
receita, polarizar o futebol brasileiro como fazem Real Madrid e
Barcelona na Espanha?
Acredito que quem gera mais audiência deve se diferenciar de alguma forma dos outros, mas não sou a favor de disparidade como na Espanha. E não acontecerá aqui.
Acredito que quem gera mais audiência deve se diferenciar de alguma forma dos outros, mas não sou a favor de disparidade como na Espanha. E não acontecerá aqui.
COM A PALAVRA
Amir Somoggi
Diretor da área de consultoria esportiva da BDO RCS
"Os novos contratos de TV sem dúvida vão deixar Corinthians e Flamengo mais fortes. Devem ter crescimento grande de receita nos próximos anos. Mesmo assim, não acredito que haverá uma polarização, pelo menos por enquanto. Não devem, a curto prazo, virar Barcelona e Real Madrid.
Os dois, apesar de terem torcida por todo o Brasil, ainda não encontraram maneiras eficientes de transformar torcedores em clientes. Outros clubes, mesmo com número menor de torcedores, têm atuação mais eficiente para aumentar a arrecadação. São os casos de São Paulo e Inter.
A expectativa é para o fechamento dos balanços deste ano. O Corinthians, até o fim de julho, já havia investido 65% do total do ano passado no departamento de futebol. Isso já mostra o reflexo de ainda mais dinheiro em caixa."
Corinthians de olho no mercado chinês
Enquanto
o Flamengo domina as regiões Norte e Nordeste do Brasil em número de
torcedores, o Corinthians abre os olhos para a Ásia, mais precisamente a
China, o maior mercado do mundo.
Em julho, por exemplo, o diretor
de marketing Luis Paulo Rosenberg cogitou a contratação de um 'chinês
ruim de bola' para abrir as portas do país para o Corinthians.
No
ano que vem ou em 2013, dependendo da adequação do calendário brasileiro
ao europeu, ainda há a possibilidade do Corinthians fazer alguns amistosos
na China, como fez o Real Madrid (ESP) neste ano.
A intenção é expandir a marca no exterior, já com espaço garantido,
graças à parceria com Ronaldo, que começou em 2008 e que continua,
apesar de o Fenômeno ter parado.
Além do dinheiro dos consumidores asiáticos, o clube
está de olho no dos norte-americanos. Entre agosto e outubro de 2008, o
departamento de marketing e Ronaldo negociaram com a Nike um período de
15 dias, em janeiro do ano seguinte, para o Corinthians fazer sua
pré-temporada na sede da multinacional, em Beaverton, no Oregon, nos
EUA. A viagem incluiria dois amistosos contra o Barcelona (ESP). A
negociação não foi concluída.
Pelo lado do Mengão, o caminho foi
inverso. Em março, a montadora chinesa Jac Motors se aproximou do clube
para negociar o patrocínio master da camisa - hoje ocupada pela Procter
Gamble, proprietária da marca Gillette, entre outras.
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