quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Flamengo e Corinthians se unem para aumentar distância sobre os demais



Se dentro de campo Flamengo e Corinthians brigam pelo título brasileiro e se enfrentam nesta quinta-feira, às 21h50, no Pacaembu, fora dele viraram parceiros. Os dois clubes de maior torcida do Brasil mantêm boa relação, trocam ideias sobre projetos e trabalham em sintonia para tornarem-se, em um futuro não muito distante, também potências do futebol mundial.






A aproximação começou em março, época da negociação dos direitos de TV. Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, ligou para a do Flamengo, Patricia Amorim, propondo que os dois brigassem juntos para receber da Globo valor diferenciado dos demais, mais do que os R$ 35 milhões anuais. Patricia inicialmente achou ousada a proposta, até delirante, mas os dois passaram a conversar com mais frequência. Resultado: fecharam contrato de R$ 92 milhões (que pode chegar a R$ 120 milhões, com venda de pacotes pay-per-view) por ano cada um, bem à frente dos demais clubes.





A estratégia é a mesma: aproveitar a massa torcedora para aumentar o faturamento. Com o contrato maior de TV (válido por três anos, 2012/15), os dois terão mais dinheiro para montar times fortes, contratar ídolos e brigar por títulos. Assim, com equipes de ponta, pretendem vender mais produtos licenciados, valorizar as marcas e conseguir patrocínios cada vez maiores para reinvestir no elenco.

Essa fórmula que parece simples nem sempre foi levada a sério pelas duas grandes potências. Somente nos últimos anos o futebol passou a ser visto como negócio. O Timão teve a maior receita do país em 2010, com R$ 212 milhões. Neste ano deve manter-se na liderança. O Fla era somente o quinto lugar ano passado (ver tabela), mas acabará 2011 com um dos maiores faturamentos, impulsionados pela onda Ronaldinho Gaúcho.





A parceria não parou na negociação de TV. Para contratar Ronaldinho, por exemplo, o Fla usou o modelo da engenharia feita na parceria Timão/Fenômeno. O clube da Gávea também citou o Timão quando teve dificuldade para fechar o patrocínio master. Mesmo em polêmicas envolvendo torcidas, os dois presidentes se entenderam. E resolveram não brigar pela disputa dos craques Adriano e Tevez.



BATE-BOLA

Caio Campos, gerente de marketing do Corinthians

Como o clube conseguiu multiplicar a receita com licenciamento?
Tudo faz parte de um processo. O aumento dos royalties (5,5% para 18%) está ligado à capacidade de negociação. Na renovação do contrato, apostamos no crescimento e no potencial da marca. Outro ponto foi a criação do novo canal de distribuição, a rede de lojas Poderoso Timão. As 104 lojas fazem o número de licenciamentos crescer.

A maior fonte de receita do clube ainda é a TV. A que patamar a parte de licenciamentos pode chegar?
Acredito que o licenciamento/franquias ultrapasse a bilheteria até 2012, mas essa ordem será alterada assim que o novo estádio estiver pronto. Com certeza, bilheteria e seus periféricos serão a primeira fonte de renda do clube.

Acha que Timão e Fla podem, com muito mais receita, polarizar o futebol brasileiro como fazem Real Madrid e Barcelona na Espanha?
Acredito que quem gera mais audiência deve se diferenciar de alguma forma dos outros, mas não sou a favor de disparidade como na Espanha. E não acontecerá aqui.

COM A PALAVRA

Amir Somoggi

Diretor da área de consultoria esportiva da BDO RCS

"Os novos contratos de TV sem dúvida vão deixar Corinthians e Flamengo mais fortes. Devem ter crescimento grande de receita nos próximos anos. Mesmo assim, não acredito que haverá uma polarização, pelo menos por enquanto. Não devem, a curto prazo, virar Barcelona e Real Madrid.

Os dois, apesar de terem torcida por todo o Brasil, ainda não encontraram maneiras eficientes de transformar torcedores em clientes. Outros clubes, mesmo com número menor de torcedores, têm atuação mais eficiente para aumentar a arrecadação. São os casos de São Paulo e Inter.

A expectativa é para o fechamento dos balanços deste ano. O Corinthians, até o fim de julho, já havia investido 65% do total do ano passado no departamento de futebol. Isso já mostra o reflexo de ainda mais dinheiro em caixa."

Corinthians de olho no mercado chinês
Enquanto o Flamengo domina as regiões Norte e Nordeste do Brasil em número de torcedores, o Corinthians abre os olhos para a Ásia, mais precisamente a China, o maior mercado do mundo.

Em julho, por exemplo, o diretor de marketing Luis Paulo Rosenberg cogitou a contratação de um 'chinês ruim de bola' para abrir as portas do país para o Corinthians.

No ano que vem ou em 2013, dependendo da adequação do calendário brasileiro ao europeu, ainda há a possibilidade do Corinthians fazer alguns amistosos na China, como fez o Real Madrid (ESP) neste ano.

A intenção é expandir a marca no exterior, já com espaço garantido, graças à parceria com Ronaldo, que começou em 2008 e que continua, apesar de o Fenômeno ter parado.

Além do dinheiro dos consumidores asiáticos, o clube está de olho no dos norte-americanos. Entre agosto e outubro de 2008, o departamento de marketing e Ronaldo negociaram com a Nike um período de 15 dias, em janeiro do ano seguinte, para o Corinthians fazer sua pré-temporada na sede da multinacional, em Beaverton, no Oregon, nos EUA. A viagem incluiria dois amistosos contra o Barcelona (ESP). A negociação não foi concluída.

Pelo lado do Mengão, o caminho foi inverso. Em março, a montadora chinesa Jac Motors se aproximou do clube para negociar o patrocínio master da camisa - hoje ocupada pela Procter Gamble, proprietária da marca Gillette, entre outras.


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