quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sargento e ala-pivô do Fla, Jefferson brinca: 'Estou pronto para a guerra

Os companheiros de Flamengo treinam na Arena da Barra. Do lado de fora da quadra, ainda descansando de uma longa viagem da Coreia do Sul, o ala-pivô Jefferson conversa com os amigos. Papo vai, papo vem, e quem chega é a presidente do clube, Patrícia Amorim, para uma visita aos atletas. Como quem responde a um coronel, o jogador prontamente se levanta e estica o braço para o marido da dirigente com um ar de seriedade - faltou só bater continência. Mas não precisava de tanto, era seu dia de "folga".

Formado sargento em agosto deste ano nas Forças Armadas, Jefferson esteve este mês na Ásia - junto com a seleção brasileira militar - para a disputa do Mundial da categoria. Comandados pelo técnico Alberto Bial, os brasileiros conquistaram a inédita medalha de bronze. Por maior que tenha sido a dificuldade na competição, ele garante: nada foi mais sofrido do que o treinamento de 22 dias na mata fechada até a formatura.

- A gente fez um treinamento pesado. Trilhas de 10km com armamento, mochila pesada nas costas, se arrastando no chão, aprendendo a mexer com as armas, dando tiros de pistola e fuzil, tudo como faz um militar mesmo. Agora, posso dizer que, se me chamar, estou pronto para a guerra. Mas vou dizer que a guerra dentro de quadra é mais fácil. Prefiro encarar um gigante como o Bábby do que essa rigidez toda - brinca, se referindo ao pivô do Fla.

Estar de pé antes das 6h, fazer a barba, vestir a farda e jurar à bandeira. O tempo passa e está quase na hora do café da manhã. Mas um detalhe: ele deve ser tomado até as 8h. Nem um segundo a mais, nem um a menos. A rotina é dura, mas Jefferson aguentou.

- Não tem papo. Comeu, comeu. Não comeu, paciência. Depois, tínhamos o treino e meia hora para almoçar no início da tarde. De noite era a hora do jogo. Acabava, e a gente só conseguia pensar em dormir, porque no dia seguinte tinha tudo de novo - lembra o atleta.

O jogo entre militares seria exatamente igual ao das competições convencionais, não fosse um detalhe. A disciplina aplicada fora de quadra com os atletas é também cobrada dentro dela. Por isso, nada de exageros nas quatro linhas.

- As reclamações que fazemos aqui são completamente diferentes das que fazemos lá. Não tem essa de xingar, esbravejar. Para reclamar com o juiz, tem que saber se aproximar. Então, sempre que um jogador ficava nervosinho, entrava logo na linha. Foi excelente, realmente uma lição que só tem a me acrescentar na vida - acredita, apesar de ouvir da esposa que ficou "muito sério" depois que se formou 3º sargento do Exército.

Sargento já sonha com 2011

Jefferson nunca sonhou se tornar militar. Quando completou 18 anos, se alistou nas Forças Armadas, mas pediu dispensa, já que queria seguir a carreira de atleta. Hoje, ele agradece a oportunidade de poder conciliar as duas atividades. Ele conta, inclusive, que sua mãe ficou emocionada ao ver o filho fardado e se tornando oficial.

- Minha mãe ficou contente. Antigamente tinha muito essa cultura de colocar o filho logo em uma escola militar, e eu não entrei. Agora, ela está feliz, até chorou na formatura - comentou.

Na Coreia, o quinteto titular era formado por Marcelus (Tijuca), Andrey (Joinville), Shilton (Joinville), Jefferson (Flamengo) e Estevam (Minas). O jogador do Fla, que chegou à seleção após o convite de um coronel do Exército que o viu atuando nas finais do Novo Basquete Brasil (NBB), foi eleito o melhor da posição no torneio. Em alta com a comissão técnica, ele já aguarda ansioso os Jogos Mundiais Militares, que serão disputados no ano que vem, no Rio de Janeiro.

- A princípio eu estou dentro e devem ser os mesmos jogadores. Vão abrir mais uma ou duas vagas, então tenho certeza de que muita gente ainda vai correr atrás disso. Estou contente por estar nesse projeto, foi tudo maravilhoso. A estrutura de lá foi uma das melhores que já vi. E temos condições de realizar nesse nível também, eu acredito - concluiu.


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