O autor do gol que garantiu a vitória contra o Grêmio, no último domingo, no Maracanã e o Hexa ao Flamengo, cavou muito, literalmente, até ser campeão pelo seu clube de coração. Ronaldo Angelim se profissionalizou como jogador de futebol aos 20 anos. Antes foi cavador de poço, motorista, pedreiro, motorista, trabalhou em padaria...
Talvez por isso uma das poucas vaidades do zagueiro seja as luzes no cabelo. Mas o visual ainda é bem diferente da cabeça raspada com uma a mexa loura que lhe rendeu o apelido de Chimbinha (vocalista da banda Calypso) na época em que jogava pelo Fortaleza. Hoje é zuado pelos companheiros sendo chamado de Papada (de bode).
O heroi do Hexa é assediado durante entrevista coletiva em Copacabana
A simplicidade de Angelim acontece até mesmo na hora de falar, na entrevista coletiva na praia de Copacabana, nesta segunda-feira, sobre o gol que ficará eternizado na história do clube.
- Sei que vou ser lembrado. Mas no futebol não existe eu, existe o nós. Poderia ter sido outro jogador a marcar esse gol – disse o zagueiro, cujo contrato com o Flamengo termina este mês.
Ele já deixou claro à diretoria qual a sua intenção.
- Quero permanecer. Mas só vou pensar em Libertadores quando eu assinar um novo contrato. A prioridade é do Flamengo – disse o zagueiro, que foi muito assediado enquanto concedia a coletiva no Posto 6.
Confira os principais trechos da coletiva de Ronaldo Angelim:
Hoje você está tendo um dia agitado, sendo requisitado para muitas entrevistas, sofrendo um grande assédio nas ruas... Como está tudo isso?
RA - Não gosto muito de dar entrevistas. Mas hoje é uma exceção por causa dessa conquista maravilhosa. Estou muito feliz e espero continuar assim por muito mais tempo. Mas sou muito tranquilo e essas coisas não me sobem à cabeça. Já já isso vai passar. Estou feliz por ter entrado para a história do clube, mas os outros jogadores também entraram.
No começo do ano você teve uma grave lesão e quase teve de amputar a perna – o zagueiro teve de passar por uma cirurgia, em fevereiro, por conta de uma Síndrome Compartimental Aguda, quando os vasos sanguíneos as estruturas da coxa esquerda comprimem na perna direita. Como está sendo essa volta por cima?
RA - Eu poderia ter amputado a perna direita e ter parado de jogar, mas os profissionais do Flamengo me recuperaram e no Estadual mesmo eu voltei a jogar. Agora estou aqui depois de ter disputado o Brasileiro tendo a oportunidade de ter feito o gol. Estou muito feliz.
O que você acha dos torcedores que dizem que o verdadeiro Ronaldo Fenômeno é o Ronaldo Angelim do Flamengo?
RA - Ronaldo também é flamenguista... Mas eu nunca fui vaiado por esta torcida, mesmo quando fui muito mal em algumas partidas... E sou flamenguista... Se o Andrade não me colocar nem no banco, eu vou entender a posição dele sem reclamar e procurar melhorar.
Será que depois do Hexa o seu pai, o vascaíno Seu Antônio, passou a ser torcedor do Flamengo?
Pai – Aos poucos ele vai mudando... Ele tem vindo me visitar, e quando isso acontece eu sempre acabo conquistando algum título. Ele é pé-quente. Espero que venha mais vezes.
O que passou na sua cabeça quando você se emocionou ao ver sua família no Globo Esporte?
RA - Sempre quando vejo a minha família, eu me emociono.Toda a minha família é flamenguista, menos meu pai. São eles que me dão força... Minha vontade é jogar por mais dois anos pelo menos para ter a oportunidade de ajudar meus familiares. No nordeste, quem ganha um salário mínimo tem de pagar comida, gás, luz, transporte, um monte de coisa... Tem de vender o almoço para comprar a janta. Meu sonho é dar uma casa para cada um dos meus oito irmãos. O dia em que eu fizer isso vou ficar muito feliz.
Antes de se tornar jogador de futebol, que outras profissões você teve?
RA - Já trabalhei em padaria, motorista, roceiro, pedreiro, já cavei poço... Já fiz de tudo na minha vida. Mas as piores coisas que trabalhei mesmo foram como cavador de poço e roceiro... Trabalhava ralando e cavando oito horas por dia e ganhava uma média de R$ 25 por semana...Hoje estou feliz de estar aqui. Posso me considerar um vitorioso.
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